Em dezembro, Gustavo Blasco, fundador da Adiante — fintech de antecipação de recebíveis do grupo GCB Investimentos — contou ao Finsiders que a empresa tinha acabado de finalizar a captação de R$ 10 milhões em debêntures, para financiar a compra de notas fiscais de produtos, as chamadas duplicatas mercantis. Agora, a fintech está adicionando mais combustível ao seu funding para avançar no plano de antecipar cerca de R$ 500 milhões neste ano — montante 10x maior ao registrado em 2021.
A Adiante acaba de concluir a primeira integralização da segunda emissão pública de debêntures, uma oferta com esforços restritos sob a instrução CVM 476. O valor total da operação é de R$ 100 milhões, em duas séries, com as integralizações “trancheadas” conforme a originação dos ativos.
“A debênture vence em dois anos, com cupons semestrais. Fizemos preço de emissão de CDI +8%, mas conseguimos vender a CDI + 5,75%”, conta Gustavo, em entrevista exclusiva ao Finsiders. “Pretendemos subscrever integralmente até setembro. Vamos originando o crédito e subscrevendo.”
Assim como na captação anterior, a emissão da debênture tem como finalidade exclusiva financiar a compra de notas fiscais eletrônicas de produtos. Por meio de sua plataforma, a fintech realiza a antecipação desse tipo de recebível de forma 100% online, com algoritmos de crédito próprios, 24 horas por dia. Basta o empresário informar CNPJ e e-mail e, em menos de 15 segundos, o usuário já vê na tela se teve ou não limite aprovado.
Caso ocorra a aprovação, é preciso fazer o upload das notas fiscais eletrônicas em formato XML e, assim que aprovadas, as notas fiscais estarão disponíveis para a antecipação. O dinheiro cai na conta em até 40 segundos, após o usuário dar aceite na operação, garante a fintech. “Oferecemos taxas competitivas, em torno de 2% ao mês e não cobramos tarifas”, diz Gustavo.
Crescimento “calibrado”
Em 2021, a Adiante antecipou R$ 50 milhões. Neste ano, já superou os R$ 60 milhões, e a expectativa é liberar cerca de R$ 500 milhões.
Mesmo com a projeção de crescer o volume antecipado em 10x, a fintech precisou segurar um pouco a “torneira” nos últimos meses, com a piora do quadro macroeconômico, especialmente inflação e juros altos. “Tivemos que calibrar nosso modelo porque a inadimplência no mercado como um todo cresceu.”
Calibrar o modelo significa contar com uma quantidade maior de dados para montar o score de crédito dos clientes. Hoje, a fintech captura dados públicos a partir da Receita Federal e via birôs de crédito como a Serasa Experian. Tem, ainda, parceria com a plataforma de dados BigDataCorp, de Thoran Rodrigues, e recentemente passou a utilizar as soluções das fintechs Klavi e CashU.
“Temos usuário que já tem um tempo com a gente, e já conhecemos bem, mas queremos crescer de 20% a 30% ao mês, originando clientes novos. E precisamos ser mais ágeis para calibrar medidas antifraude”, explica Gustavo.
A Adiante atende pequenas e médias empresas (PMEs), que faturam anualmente entre R$ 2 milhões e R$ 10 milhões. Em sua plataforma, a fintech tem 60 mil clientes cadastrados, mas apenas 3 mil são ativos. O empreendedor explica que muitos pequenos negócios se cadastram para antecipar notas fiscais da venda de serviços, segmento no qual a Adiante ainda não opera. Outros procuram “crédito clean” para capital de giro ou, ainda, emissão de boletos.
Novos produtos e negócios
A fintech está testando uma linha de capital de giro, com uma base restrita de usuários, para tíquetes de até R$ 100 mil (o valor médio é de R$ 50 mil) e prazo de pagamento entre 6 e 12 meses. “Devemos ter rodado algo entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões. Estamos testando e queremos expandir ainda este ano para novos usuários na plataforma”, revela Gustavo.
Outro plano para 2022 é escalar a vertical chamada “Adiante Enterprise”, uma solução white-label com foco principalmente em ERPs (sistemas de gestão empresarial) que queiram plugar em sua plataforma os produtos de crédito (por enquanto, a antecipação de notas fiscais de produtos) da Adiante, por meio de conexão via APIs. Segundo o empreendedor, 40% da originação da fintech hoje já vem dessa vertical.
A solução tem 25 parceiros cadastrados, mas apenas 10 operam atualmente. “Nosso foco é ERP, mas eventualmente surgem outros players. Pode ser qualquer empresa que tenha uma base de PMEs debaixo do guarda-chuva”, afirma o empreendedor. Entre as empresas já plugadas estão nomes como o marketplace de recebíveis Liber Capital e a vhsys, sistema de gestão empresarial para micro e pequenas empresas.
No roadmap da Adiante está, ainda, a oferta de serviços bancários, em parceria com algum player de banking as a service (BaaS). O projeto deve ficar para o primeiro semestre do ano que vem, diz Gustavo. “O foco principal para este ano é entregar o crescimento e escalar o Adiante Enterprise em um clique, além de colocar o capital de giro para qualquer perfil de cliente.”
Competição
O mercado de antecipação de recebíveis (risco sacado) é bastante concentrado nos bancos, com uma pequena parcela abocanhada pelos FIDCs. O potencial do segmento no Brasil é de R$ 4 trilhões, apontam estimativas de mercado.
Dados dados preliminares do Banco Central (BC), divulgados na última nota de crédito, mostram que o desconto de duplicatas e recebíveis cresceu 43,1% nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro. O saldo da modalidade atingiu R$ 162,7 bilhões, equivalente a quase 35% do saldo (R$ 466,99 bilhões) das linhas de capital de giro.
Tamanha oportunidade tem levado diversas fintechs — com modelos distintos — a desbravar esse filão. Algumas delas já foram compradas, inclusive, nesse meio do caminho. Casos como Weel, adquirida em 2021 pelo banco digital BS2, e Antecipa, comprada um ano antes pela XP.
Estão na lista, ainda, nomes como Liber Capital (que comprou em 2020 a Adianta e vai entrar em crédito para PME), Monkey Exchange (que prevê transacionar R$ 100 bilhões este ano e também aposta em recebíveis de cartão, com o Spike), Antecipa Fácil, entre outros players.
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