Em dezembro do ano passado, a Celcoin — que fornece infraestrutura de tecnologia financeira e bancária — recebeu autorização do Banco Central (BC) para ter as licenças de Instituição de Pagamento (IP) e Iniciador de Transação de Pagamento (ITP), figura criada pelo regulador no âmbito da fase 3 do Open Finance. De lá pra cá, a fintech fez todos os testes e homologações necessários e agora está apta a operar como ITP.
Com isso, a Celcoin acaba de colocar no ar mais um serviço em sua plataforma, a API de iniciação de pagamentos, revela Marcelo França, CEO e cofundador da Celcoin, com exclusividade ao Finsiders, ao lado do CTO, Thiago Zaninotti. “A gente acredita muito no potencial da iniciação de pagamentos porque quebra uma barreira de fazer transações financeiras sem sair do ambiente onde está, como e-commerces, aplicativos de concessionárias, plataformas de investimentos.”
Versão brasileira do Payment Initiation Service Provider (PISP), o ITP é uma instituição que, como o próprio nome deixa claro, pode iniciar uma transação de pagamento via Pix, a pedido do usuário e com o seu prévio consentimento.
Com a Celcoin, sobe para sete o número de instituições aptas a operar o serviço. Na lista estão bancos (Banco do Brasil, BTG Pactual e Itaú Unibanco) e fintechs (Celcoin, Gerencianet, Mercado Pago e Parati). A Quanto — que também recebeu autorização do BC em outubro do ano passado — está apta a operar no arranjo Pix e está concluindo o onboarding no Open Finance.
Segundo os executivos da Celcoin, a API de iniciação de transação de pagamento da companhia é uma solução 100% white-label (personalizada com a marca do cliente). “Temos fintechs e bancos querendo usar para fazer cash-in na conta. Estamos negociando também com concessionárias interessadas em melhorar a eficiência no pagamento de contas de consumo. Já temos algumas empresas querendo integrar”, afirma Marcelo, sem abrir os nomes.
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Nesse primeiro momento, apenas o Pix está liberado dentro da API de ITP da Celcoin, mas existem diversos meios de pagamentos previstos no planejamento da empresa, como TED/TEF, boleto e débito em conta. “Isso significa que com apenas uma integração, outros meios estarão disponíveis para o cliente”, diz Thiago.
Em relação à segurança para os usuários, o CTO explica que a autenticação de informações e pagamentos ocorre no próprio ambiente do banco ou conta digital do pagador. Ou seja, por mais que o ITP faça seu papel de iniciar a transação, ela só será concluída com a aprovação e autenticação do usuário final. “E o Banco Central realiza constantes auditorias a fim de garantir a melhor segurança e desempenho possíveis de todo o ecossistema.”
O ‘Lego’ de R$ 4 bi/mês
Em sua plataforma de infraestrutura de tecnologia financeira e bancária, a Celcoin já oferece APIs para habilitar transações de Pix, Open Banking, pagamento de contas, tributos, recargas de celular e gift cards, débito automático, saques em ATMs e, neste ano, entrou em cobrança recorrente e crédito com as aquisições das startups Galax Pay e Flow Finance, respectivamente.
“Temos quase 80 endpoints para fazer movimentações financeiras e pagamentos, em quatro grandes grupos: pagamentos, que é nosso coração; cobrança; Open Banking, e a ITP entra aí; e banking as a service, que é uma parte de infraestrutura que estamos trabalhando para Q4 [quarto trimestre]”, explica Thiago.
Atualmente, as APIs da Celcoin são usadas por cerca de 250 fintechs e bancos digitais, além de 2,7 mil médias e grandes empresas e 40 mil pontos de varejo. Na base estão, por exemplo, Inter, Ebanx, PagBank, Mercado Pago, BTG Pactual, Banco Pan, Digio, além de empresas não financeiras, como Intelbras e Grendene.
No ano passado, a fintech transacionou R$ 25 bilhões, mais do que o dobro em relação a 2020. Por mês, processa mais de R$ 4 bilhões, em média. “Pelas projeções, podemos ficar um pouco acima de R$ 50 bilhões [em volume transacionado] neste ano”, diz Marcelo.
Em números também divulgados em primeira mão ao Finsiders, o empreendedor conta que a empresa encerrou o segundo trimestre deste ano com uma receita de R$ 27 milhões, o que representa uma alta de 78% ante igual período de 2021. Na base anualizada, o faturamento recorrente (ARR, na sigla em inglês) ficou em R$ 122 milhões ao final de junho, e a empresa já gera caixa.
Além da ITP, a fintech tem autorização para operar como IP na modalidade de emissor de moeda eletrônica. “Estamos finalizando a integração direta com Banco Central, incluindo CIP, SPB [Sistema de Pagamentos Brasileiro], SPI [Sistema de Pagamento Instantâneos] e STR [Sistema de Transferências de Reservas]. Isso aumentará nossa receita em quase R$ 30 milhões/ano”, conta Marcelo.
M&A
Em abril, a Celcoin captou R$ 85 milhões com a gestora Innova Capital, especializada em growth, e Marcelo disse na ocasião que a fintech pisaria no acelerador em sua estratégia de consolidação, iniciada este ano com as compras das startups Galax Pay, que tem soluções de cobrança recorrente, e Flow Finance, especializada em infraestrutura de crédito.
Potenciais aquisições continuam no radar, mas a deterioração do cenário macroeconômico tem deixado a fintech com mais cautela para novas operações, reconhece o empreendedor. “Continuamos olhando startups para complementar nossa oferta, mas com cautela, e entendendo esse cenário de reprecificação”, diz. Queremos combinação de bons times e bons produtos, e empresas que já estejam mais equilibradas.”
Segundo Marcelo, as integrações das empresas adquiridas já foram concluídas, e novas soluções e oportunidades de cross-sell estão sendo desenvolvidas. Ainda para este ano, a Celcoin prepara uma solução que vai “interligar todas as APIs”, conta Thiago. E assim a fintech avança na estratégia para ser um ‘one-stop-shop’ de serviços financeiros abertos, com uma plataforma “modularizada”.
A equipe também vem crescendo nos últimos anos. A empresa passou de cerca de 100 pessoas no fim de 2020 para aproximadamente 250 funcionários atualmente. “Temos pouco mais de 20 vagas abertas”, diz Marcelo.
Mercado
Na arena de infraestrutura de serviços financeiros e bancários, a lista de competidores é grande e inclui players como BMP, Bankly, Dock, FitBank (que também entrou em crédito recentemente com a compra da EasyCrédito), Matera, QI Tech, Swap, entre outros.
Instituições financeiras tradicionais, como BV, BTG Pactual, Itaú, Original, HSBC e ABC Brasil, também estão apostando em uma estratégia de banking as a service (BaaS) e suas derivações, como CaaS (credit as a service), para incrementar as linhas de receitas, atingir novos perfis de clientes e ingressar em novos segmentos.
O tamanho da oportunidade? Dados do IMR Instrospective Market Research mostram que o Brasil representa 73% do mercado de banking as a service (BaaS) na América do Sul, com uma receita de US$ 1,4 bilhão em 2021.
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