Por Juan Huezo*, para o Finsiders
É difícil cravar uma aposta só. Mas arrisco definir que a principal tendência no mundo das fintechs em 2023 são as finanças embarcadas — ou, em inglês, ‘embedded finance’ –, que vão fazer decolar o comércio transfronteiriço (cross-border), apesar das incertezas de demanda e oferta no ano que se inicia.
Independentemente de tamanho ou localização, empresas vão se esforçar para manter os clientes existentes satisfeitos, mas vão buscar expandir seus negócios em mercados pouco turbulentos, onde não haja recessão, seja por motivo econômico, político, climático, não importa. Antigamente, mesmo na história recente, se você enfrentasse dificuldades no mercado doméstico, provavelmente ficaria “empacado”, tentando superar o momento de crise. Agora, com uma infraestrutura de pagamentos global consolidada e serviços de fintechs que promovem a integração internacional, as empresas em qualquer lugar podem ser mais resilientes.
Nesse sentido, mais empresas não financeiras vão passar a oferecer serviços financeiros embutidos, em vários níveis. Uma integração profunda seria aquela em que as fintechs são quase imperceptíveis, disponibilizando produtos white-label como links de pagamento, páginas de check-out e até partes de ferramentas de gerenciamento financeiro personalizadas.
Mas há mais predições. De modo geral, a onda do ‘buy now, pay later’ (BNPL, ou compre agora e pague depois, em português) não está apenas crescendo, mas evoluindo. Podemos dizer que a nova geração desse tipo de financiamento vem chegando para amenizar alguns tipos de descontentamento relativos às altas multas por falta de pagamento de parcelas e taxas ocultas, por exemplo.
O BNPL 2.0 tenta remediar isso reduzindo essas taxas e proporcionando uma melhor experiência ao cliente com mais transparência e planos de incentivo para seus usuários. Outra grande vantagem do BNPL é que o cliente não precisa aderir a um produto financeiro como cartão de crédito, podendo limitar o uso do crédito a uma compra específica.
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Em terceiro lugar, três áreas continuarão a evoluir e afetar significativamente esse universo de fintechs: cripto, regtech e Web 3.0. Embora as moedas criptográficas sejam muito voláteis, existem algumas como stablecoins que podem fornecer uma alternativa para pagamentos diários, para uso mais cotidiano.
Diante desse potencial de crescimento, também há uma necessidade emergente de ferramentas de conformidade e risco para regulamentar essas transações, e aí entram as regtechs, empresas com tecnologia voltada para áreas de compliance. Por fim, tudo isso vai pavimentar o caminho da terceira geração da internet, que promete uma revolução pautada pelos conceitos de descentralização da informação, privacidade de dados e virtualização de hábitos, incluindo os de comportamento financeiro.
Diante de um 2023 incerto, podemos esperar que as fintechs serão forçadas a se adaptar e evoluir. Mas uma coisa que sempre será verdade é que, enquanto as fintechs resolverem problemas significativos para seus clientes de maneira sustentável, elas permanecerão resilientes e talvez — apenas talvez — até prosperem.
*Juan Huezo é diretor de estratégia de produtos da Rapyd, plataforma de tecnologia financeira que facilita o pagamento de fornecedores e o recebimento de clientes – local ou internacionalmente.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo autor do texto.
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