Segundo dados da B3, o número de pessoas físicas investindo em renda variável não passava de 700 mil em 2018. Já em 2021, ultrapassou 4,2 milhões, um crescimento de 56%. Falando em idade, em 2022, metade dos investidores da Bolsa tinha entre 25 e 39 anos, e, considerando uma faixa maior (de 0 a 18 e 19 a 24), esse número sobe para 62%. Em 2013, eram apenas 36%.
O curioso aqui também é que a maior parte desses investidores está no segmento de ações (a renda variável também conta com investidores em BDRs, ETFs e FIIs). Apesar da alta da Selic, que pulou para dois dígitos em 2022, a expectativa segue sendo que a Bolsa atraia mais pessoas físicas e de faixas etárias mais baixas, embora talvez não repita o crescimento exuberante apresentado.
Nesse cenário, é claro que uma experiência de qualidade para os investidores será um ponto essencial para que os números sejam ao menos similares em 2023. O que vemos agora na bolsa de valores é um público mais alfabetizado digitalmente, que esperam a mesma conveniência online que obtém de aplicativos de comércio eletrônico e mídias sociais do dia a dia.
Mas você considera que o mercado atualmente é dessa forma? Na minha experiência com investimentos, não. Os principais aplicativos de corretoras e bancos hoje em dia deixam muito a desejar quando o assunto é experiência do usuário. Falta personalização, contextualização, interatividade e, o principal, ajuda com o bem-estar financeiro do cliente, principalmente para planejamento financeiro.
Open Investments
Essa nova geração de investidores deseja uma experiência possível, mas ainda um pouco distante da realidade. E acredito que o Open Finance, mais especificamente o Open Investments, tem o potencial de virar a maré.
Assim como o Open Finance, o Open Investments permite o compartilhamento de dados financeiros dos usuários, mas com foco em suas informações de investimentos. Dessa forma, alguns casos de uso que se tornam possíveis:
- Gestão de investimentos simplificada e automática: Plataformas que compilam todos os investimentos de um usuário em um único lugar, fazendo com que o controle de todos eles se torne mais fácil, ainda promovendo insights. Faltam aplicações que permitam que o usuário visualize todos os seus ganhos atuais em seus ativos, ao passo que também consegue realizar uma comparação simplificada com outros presentes no mercado.
- Gestão de investimentos com assessores: Finalmente assessores e planejadores financeiros poderão ter uma visão completa da vida financeira dos clientes. Não somente o portfólio alocado, mas também os hábitos e capacidade de poupança para assim cuidar do patrimônio e planejamento futuro deles, aumentando assim a importância que os escritórios de investimentos podem ter na vida de seus clientes.
- Plataformas de poupança automática: Para aqueles que têm dificuldade de poupar, com o Open Investments poderemos ver no Brasil plataformas similares a Accorns, unicórnio norte-americano com mais de 9 milhões de clientes que arredonda suas compras para cima e investe os valores automaticamente. No Brasil existem iniciativas como a fintech Oinc, que será muito beneficiada com o avanço do Open Investment.
- Novos e melhores formas de pagamento: Esqueçam as velhas formas de movimentar dinheiro – pagamentos com cartão, transferências bancárias manuais, mandatos de débito direto. Elas não atendem mais às expectativas dos investidores por uma jornada rápida e barata. E até aqui o Open Finance se enquadra. Pix, iniciação de pagamento, VRP [sigla para pagamento recorrente variável]… Já pensou autorizar uma série de pagamentos variáveis em aplicações que seriam pagos e geridos automaticamente? É finalmente a oportunidade dos robôs advisors decolarem no Brasil para o investidor comum.
- Portabilidade de investimentos simplificada: Uma das grandes dores do mercado hoje é a portabilidade de investimentos. Apesar de existir processos claros, ainda existe muita fricção no processo. Existem iniciativas no mercado, por exemplo, de automatização do processo de portabilidade de previdência. Isso diminui o lock-in que clientes têm atualmente com sua instituição financeira, aumenta a competição e torna a alocação de investimento mais justa.
Já existem no mercado alguns poucos aplicativos mais modernos que atuam com a agregação de contas para prover uma melhor experiência, como íon (do Itaú); Invest+ (Bradesco) e Kinvo (BTG).
O fato é que cada vez mais o compartilhamento de dados possível por meio do ecossistema financeiro aberto se tornará necessário para que os investidores possam ter uma experiência que desejam, sem muitas das burocracias e empecilhos que hoje impedem o mercado de evoluir ainda mais.
*Bruno Loiola é cofundador e Chief Growth Officer (CGO) da Pluggy.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
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