Fintechs avançam estratégias para facilitar acesso a investimentos

Para fundadores de fintechs que participaram do Fintouch 22, a tecnologia tem de ser usada para romper as barreiras no acesso a investimentos

Por Jiane Carvalho, para o Finsiders
A barreira de acesso ao mercado financeiro e de capitais, que avançou muito com o advento das fintechs, ainda não foi inteiramente superada. Empresas que atuam em diferentes nichos do mercado de investimentos, como a Nano Capital e a SMU Investimentos, ambas de crowdfunding, e a Saks — que se define como uma ‘savetech’ —, compartilham da mesma dor que é pensar produtos, serviços que garantam o acesso do brasileiro as novas modalidades de investimento e classes de ativos.

“Os bancos digitais começaram quebrando a barreira de acesso, facilitando abertura de conta, mas ainda há muito o que fazer. O que não pode é pular etapas, como vejo investidor saindo de grandes bancos e virando ‘trader’, o que é ruim para todos”, observa Luiz Bacellar, CEO da Saks, durante participação em painel do Fintouch 22, evento realizado pela ABFintechs nesta semana e que teve o Finsiders como um dos apoiadores.

Para o empreendedor, a tecnologia tem de ser usada para romper barreiras. O executivo lembra que a base da pirâmide brasileira, 95% da população, ganha até R$ 3,5 mil por mês e não tem o hábito de poupar. “Nossa ideia é oferecer alternativa para que qualquer um junte seu dinheiro de forma realmente fácil. Um motorista de aplicativo, por exemplo, pode com um clique programar para que 5% de cada corrida vá para uma reserva voltada à previdência, sem burocracia”, exemplifica.

A fintech, que aposta numa plataforma em que a contratação do plano de previdência é feita de forma 100% digital, lançará em duas semanas uma solução que permite lançar os aportes automaticamente na fatura do cartão de crédito, sem taxas e a partir de R$ 50.

“Depois teremos ‘saving’ em dólar e mais para frente em outras moedas, além de investimento em cripto, tudo sempre com facilidade de acesso e automatizado”, revela Luiz.

Na Nano Capital, plataforma de investimentos coletivos com pouco mais de um ano de mercado, os planos incluem lançar até dezembro uma plataforma de parceiros. “Vamos trabalhar muito o B2B e também teremos um braço de correspondente bancário, voltado aos clientes com um tíquete mais alto, para a oferta de outros produtos, como previdência e banking, muito pedidos pelos clientes”, conta Daniel Sabino, CEO da empresa.

Já a SMU — que recém-inaugurou seu “mini-IPO tokenizado” — planeja colocar no ar em outubro sua plataforma Estar, com foco no mercado secundário de startups, aprovado no âmbito do sandbox da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A plataforma conta com um sistema desenvolvido pela Nasdaq, licenciado no Brasil pela parceira da SMU, a Átris, empresa do grupo Digitra.com, uma exchange criada por Rodrigo Batista, um dos fundadores do Mercado Bitcoin.

“Em novembro, pretendemos lançar também o Carrera Capital, um Venture Capital que vai liderar rodadas de crowdfunding no Brasil e América Latina, em países como México e Colômbia”, afirma Rodrigo Carneiro, sócio-diretor da SMU e executivo à frente da Carrera Capital. No fundo que está em construção, um dos principais objetivos é ajudar a resolver o problema de liquidez dos investimentos no mercado de crowdfunding, diz o empreendedor.

Novas gerações

Durante o painel, o trio discutiu, ainda, sobre o avanço das novas gerações nos investimentos e como esse público às vezes confia mais em algoritmos do que em pessoas, num sinal de que tecnologia é fundamental para fisgar esse perfil de investidor.

“O cliente mais velho vem com cabeça de portfólio. Os jovens querem investir em startups e que atuem em segmentos que eles valorizam. Além disso não querem ter contato, não gostam de receber ligação, o que dificulta o nosso papel de explicar o produto, educá-los”, comenta Carneiro.

Apesar das plataformas digitais, os empreendedores são unânimes sobre o papel dos profissionais do setor (como assessores de investimento e planejadores financeiros, que continuam relevantes.

“O acesso passa por educação. Antes era papel do gerente do banco fazer a ponte entre o investidor e o produto, depois vieram os agentes autônomos, fruto das iniciativas da XP, e agora entendo que o planejador financeiro é parte importante desta equação”, comenta Daniel, lembrando que é ruim quando jovens investem tudo que ganham em criptoativos ou se informam por lives ou redes sociais, por exemplo.

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