O papel crucial da experiência de pagamentos no Open Finance

Luana Soratto, da ABFintechs, escreve sobre melhorias e funcionalidades que devem alavancar as transações via ITPs no Open Finance

Por Luana Soratto*
No final de fevereiro deste ano, foi disponibilizado oficialmente o ‘Dashboard do cidadão‘ na seção “Indicadores” do portal Open Finance Brasil. Neste painel, temos informações dos participantes referentes à fase 2 do Open Finance — compartilhamento de dados –, onde podemos ver informações como quantidades de consentimentos, número de chamadas por APIs, bem como a taxa de conversão de cada instituição financeira (IF).

A taxa de conversão do consentimento consegue nos mostrar a dificuldade do usuário em concluir a jornada de compartilhamento de dados, e estes dados publicados evidenciam diversos problemas neste funil, além da discrepância desses entre os diferentes players do mercado.

Esta taxa hoje é menos de 50%, ou seja, menos de 50% dos usuários que começam conseguem terminar e ter seus dados compartilhados com a IF que solicitaram. Como os números mostram, as fintechs entraram para mostrar que é possível alcançar índices altos, possibilitando que a vontade do cliente seja cumprida. A partir disso, muitos avanços já foram feitos e seguem sendo analisadas para melhoria do ecossistema brasileiro.

Já para iniciação de pagamentos no Open Finance, não temos esses dados públicos, o que, por si só, gera uma pressão suficiente para que as IFs comecem a melhorar. E, falando em pagamentos, essa jornada é muito mais crítica e atualmente dados de mercado mostram que essas taxas são bem baixas, menos de 30% — percentual de usuários que conseguem começar uma iniciação no ITP, ir até a detentora, confirmar o pagamento e retornar com a solicitação de pagamentos criada.

Luana Soratto, coordenadora do grupo de trabalho de Open Finance da ABFintechs. Foto: Reprodução/LinkedIn
Luana Soratto, coordenadora do comitê de Open Finance na ABFintechs. Foto: Reprodução/LinkedIn

Na semana passada foi divulgada aqui no Finsiders que no Reino Unido os pagamentos por meio do sistema de Open Banking chegaram a 68,2 milhões, alta de mais de 170% em relação ao ano anterior.

Se queremos ter um salto desta magnitude e seguir liderando a marcha do Open Finance no mundo, precisamos urgentemente melhorar a experiência de pagamentos. Tanto melhorando a taxa de conversão de detentoras de contas, como adicionando novas funcionalidades aos pagamentos.

Algumas funcionalidades e melhorias que já são tema de diversas discussões dos grupos técnicos e entusiastas do Open Finance e que, no meu ponto de vista, alavancarão as transações via ITPs são:

  • Fluxo frictionless, ou seja, sem necessariamente ter redirecionamento para a detentora de conta em todas as transações;
  • Implementação do CIBA (Client Initiated Backchannel Authentication) que permite uma experiência fluída entre diferentes dispositivos, como o Google faz hoje para logarmos no computador usando o celular, ou quando ativamos um streaming na TV pelo celular;
  • Pagamentos recorrentes de valor variável, que nos permite inúmeros casos de uso, substituindo até o débito automático tradicional;
  • Junção da fase 2 (compartilhamento de dados) com a fase 3: dados de mercado mostram que mais de 80% das transações de pagamentos — após passar pela jornada de consentimento, aquela que está em 30% –, são negados por saldo insuficiente. Ou seja, o usuário precisa ver este saldo onde começa a jornada!

Quanto mais transparência tivermos, melhores e mais rápidas serão as evoluções do nosso tão estimado Open Finance no Brasil. Aguardamos ansiosos e certos de que temos muito trabalho pela frente.

*Luana Soratto é coordenadora do comitê de Open Finance na ABFintechs

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