No início de dezembro, o leitor conheceu em primeira mão a história da Slice, uma techfin criada no começo de 2021 com o objetivo de ser a infraestrutura tecnológica de negócios como marketplaces e fintechs, com soluções que vão desde split de pagamentos à liquidação automática, da conciliação à antecipação de recebíveis e do cashback às contas gráficas.
Na ocasião, os fundadores Sérgio Irigoyen (ex-Bradesco, HSBC e Banco Votorantim [atual BV] e Rafael Brasil (ex-Telefônica/Vivo) disseram estar na fase final da primeira captação de investimentos, depois de construir a plataforma com recursos próprios. Agora, eles contam com exclusividade ao Finsiders que acabam de levantar um aporte inaugural de R$ 2 milhões, trazendo executivos tarimbados do setor financeiro para o captable.
Como investidor âncora da captação está Alexandre Thorpe, que atuou por 36 anos no HSBC no Brasil, México e EUA e foi COO do banco. O executivo foi um dos líderes na construção do ‘novo’ HSBC como banco de investimentos, depois da venda dos ativos locais em 2016 para o Bradesco. Alexandre deixou a instituição em abril do ano passado e começou a conversar com alguns amigos de mercado para fazer algum investimento.
Foi quando descobriu o projeto da Slice, liderada pelo seu contemporâneo de HSBC, Sérgio Irigoyen. “Ter pessoas como o Sérgio e o Rafael [Brasil, cofundador] me chamou bastante atenção. Me chamou a atenção a flexibilidade da plataforma construída por eles”, conta Alexandre ao Finsiders.
Para esta primeira captação, a experiência e o poder de relacionamento do executivo foram cruciais para atrair outros investidores pessoas físicas dispostos a assinar o cheque.
Embarcaram no round um total de 11 investidores, incluindo nomes como Guilherme Souto, que lidera a prática de serviços financeiros da AWS; André Hübner, ex-HSBC e Citi; Roberto Alff, ex-ABC Brasil e HSBC; Adailton Martins, sócio da Integral Investimentos; e Gustavo Medeiros, head of global macro research da gestora Ashmore.
Com o investimento, a Slice vai pisar no acelerador, com plano de dobrar a equipe de 12 para 24 pessoas, contratando especialmente pessoas para o time de tecnologia e desenvolvimento. “Com mais gente, podemos abraçar uma fatia maior do mercado”, diz Sérgio.
A techfin já tem quatro contratos assinados, entre eles, o aplicativo Beca, uma espécie de “Uber da beleza”. Outro cliente é um grande varejista líder de mercado, que transaciona algo como R$ 10 bilhões/ano, cujo nome ainda não pode ser divulgado.
A empresa também está fechando com uma carteira digital de um grande banco, revela Sérgio (a pista foi dada, leitor, faça sua aposta, afinal não são muitas as wallets de grandes bancos).
“Temos também um banco entre os cinco maiores emissores que deve passar por aprovação de budget agora, mas ainda não podemos abrir o nome.”
Para 2022, o plano da Slice é consolidar a carteira de clientes, fechar novos contratos e também concluir algumas parcerias, principalmente com foco em infraestrutura para complementar a plataforma, diz Sérgio. “E, quem sabe, conseguir estender o braço para internacionalização, via parceiro”. Localmente, um acordo já foi fechado e outros dois no âmbito global estão em negociação.
O empreendedor, conforme contou em sua última entrevista ao Finsiders, passou cerca de 20 anos vendo as dores na gestão do fluxo de dinheiro, na interação que teve com CFOs e tesoureiros de empresas. “Dificuldades de conciliação, automação de processos de pagamento, tudo muito manual e suscetível a erros.”
Para resolver essa dor, ele e Rafael Brasil – com experiência na área comercial – montaram uma plataforma de infraestrutura tecnológica para as empresas fazerem a gestão do fluxo do dinheiro, depois do cash-in e antes do cash-out. Isso inclui split de pagamentos, conciliação de vendas, cashback, entre outras demandas das empresas.
O negócio começa com sete aplicações e nove add-ons, incluindo conciliação de fluxos massivos, gestão de cashback multi origens, agenda de terceiros e garantias (Escrow), split de pagamento pós-transacional, antecipação de recebíveis, entre outras aplicações. Na mira da Slice estão, por exemplo, e-commerces, marketplaces, bancos emissores, fintechs, entre outros.
Parte do mercado endereçável, segundo os fundadores, é o que se transaciona no e-commerce brasileiro, o correspondente a um volume de R$ 250 bilhões/ano. “Isso porque ainda não estamos falando do mercado de bancos emissores e wallets”, comentou Sérgio, em sua primeira entrevista ao Finsiders.
A indústria de cartões, para se ter uma ideia, movimentou R$ 1,8 trilhão este ano, no acumulado até setembro, conforme os dados mais recentes divulgado pela Abecs, associação do setor. Para 2022, a expectativa é superar R$ 3 trilhões.
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