Na Velvet, liquidez para 'stock options' como benefício para funcionários

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Com o crescimento do ecossistema de startups e inovação na América Latina, a busca por talentos está intensa e uma das estratégias cada vez mais comuns para fisgar e reter os profissionais é oferecer participação no negócio, sob a roupagem de ‘stock options’ que, na prática, dão direito ao funcionário de adquirir, no futuro, ações da empresa por um preço fixado no presente (conhecido como preço de exercício ou ‘strike price’).

O problema é que existem muitos funcionários, ex-funcionários e shareholders “ricos no papel”, mas sem realmente ter o dinheiro na conta. “Tem muita gente com equity na mesa, que precisa de liquidez. São pessoas ‘paper-rich, but liquidity-poor’”, explica ao Finsiders o peruano Carlos Naupari, cofundador da Velvet, uma fintech fundada há seis meses por ele e seu amigo de infância, o brasileiro Edouard Montmort — também cofundador do estúdio de games Arvore.

A solução para resolver essa “dor” foi montar um marketplace, conectando as pessoas que detêm direito de equity e querem vender sua posição com investidores ‘high net worth’, atendidos por plataformas de private banking e casas de wealth management.

Com esse modelo, a Velvet movimentou US$ 35 milhões, comprando ações de empresas como a mexicana Credijusto, a argentina Nuvemshop e a indiana Open.

Recentemente, a fintech levantou US$ 200 milhões como capital para investimento (warehousing) para acelerar a compra de participações em startups, em um aporte liderado pela gestora estoniana Yolo e acompanhado por family offices da Suíça e dos Estados Unidos.

Nos próximos 12 meses, a expectativa é investir em cerca de 40 startups ao redor do mundo, sendo metade na América Latina, 10 na Índia, oito no Sudeste Asiático e cinco na África.

Na mira da Velvet estão startups com valuation acima de US$ 300 milhões e ‘VC-backed’, ou seja, que já têm fundos de Venture Capital no captable. Os tíquetes médios vão ficar entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões, considerando blocos de controladores que podem variar entre 10 e 100 pessoas.

Benefício corporativo

Agora, com os primeiros “cases” construídos, a empresa dá um novo passo com o lançamento do Velvet 360º Program, um benefício que as startups em ‘growth stage’ poderão oferecer aos seus profissionais que têm stock options ou participação acionária.

“Estamos virando a chave para que funcionários de grandes empresas de tecnologia consigam ter liquidez antecipada, e quem determina as condições para isso são as empresas”, diz Carlos, ao Finsiders.

Todo processo é realizado em conjunto com os fundadores e diretores de cada empresa para determinação das regras de elegibilidade, porcentagem de venda, e precificação das ações dos colaboradores que podem participar. “Assinamos contratos de dois a três anos com as empresas e, a cada seis meses ou um ano, vamos passar o ‘chapéu’ para dar liquidez [a esses funcionários].”

Para o piloto do programa, a Velvet já fechou acordos de ofertas secundárias recorrentes com a fintech brasileira Neon, a indiana Open, a mexicana Credijusto (atual Covalto) e a Lummo, da Indonésia.

A meta é costurar acordos com 20 a 25 empresas nos próximos 12 meses, movimentando cerca de US$ 200 milhões nessas transações de aquisição de equity de funcionários. “Estamos muito seletivos para definir quais empresas vão trabalhar conosco”, afirma Carlos.

Novos produtos e expansão

Ainda este ano, a fintech prevê lançar um produto de empréstimo com ‘vested options’ em garantia para facilitar o processo de exercício das opções pelos funcionários das startups. “É a Velvet oferecendo esse recurso, tomando o equity na empresa como colateral”, aponta Carlos. “Existem hoje dezenas de milhões de dólares que voltam para a tesouraria das startups pelo não exercício das opções pelos seus holders — isso é um verdadeiro ‘pain point’ do ecossistema que vamos resolver”, complementa Edouard.

Outro produto, este com expectativa de ir para a rua no segundo semestre do ano que vem, é abrir o marketplace para que funcionários das startups negociem entre si as participações nos negócios criando, de fato, um mercado secundário de ações de startups em ‘growth stage’.

Com 15 funcionários de nove nacionalidades diferentes, a Velvet vai continuar aumentando a equipe, especialmente de tecnologia, e também planeja seguir a expansão internacional — hoje tem escritórios nos EUA e no México. “Vamos abrir um escritório em Singapura, para ter um ‘dealflow’ mais diversificado”, conta Carlos.

Dinheiro para o crescimento não será um problema. “Temos ‘runaway’ por dois anos. Somos ‘revenue positive’”, diz o empreendedor, quando questionado sobre novas rodadas de captação.

No fim do ano passado, a Velvet levantou um seed money de US$ 3,5 milhões liderado pela Global Founders Capital (GFC), com participação da Headline, Yolo Investments e Armyn Capital, além de mais de dez fundadores de unicórnios latinos, como Edward Wible (Nubank) e Patrick Sigrist (iFood e Nomad).

Mercado

No Brasil e na América Latina, a Velvet é a primeira a apostar nesse modelo de negócio. Há propostas semelhantes em outros países, como a norte-americana Carta, que já levantou mais de US$ 1 bilhão, conforme o Crunchbase e tem, inclusive, um escritório no Rio de Janeiro. Ainda nos EUA, vale destaque para a Forge, que fez recentemente um IPO por meio de um Spac.

“Embora a Velvet seja uma empresa que nasceu no Brasil, já somos globais desde o início”, argumenta Carlos.

No mercado brasileiro, talvez o que mais se aproxime, ainda que com proposta bem diferente, é a Basement, cujo negócio tem como foco a gestão de captable das startups. A empresa — que nasceu dentro da plataforma de equity-crowdfunding Kria — começou gerenciando os programas de stock options, e evoluiu para também digitalizar os livros societários de empresas S/As.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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