Foto: Tierra Mallorca/Unsplash
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Com a alta dos juros, os resgates de recursos da poupança vêm aumentando e atingiram recorde histórico de R$ 133,8 bilhões até 28 de setembro, segundo dados divulgados nesta semana pelo Banco Central (BC). O movimento começa a se refletir no financiamento imobiliário, cuja maior e mais barata fonte de funding é justamente a boa e velha caderneta.

Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostram que a poupança chegou a representar 51% do funding para o crédito imobiliário em 2019, percentual que vem diminuindo e chegou a 43% em junho deste ano. O resultado desse quadro é que os bancos privados mais atuantes no setor, como Itaú, Bradesco e Santander, têm buscado fontes alternativas de captação, como fundos imobiliários (FIIs), letras de crédito imobiliário (LCIs) e letras imobiliárias garantidas (LIGs).

De olho nesse cenário, a fintech Volpi aposta na combinação entre tecnologia, parcerias com incorporadoras e estruturas de mercado de capitais como fonte de recursos para tornar o financiamento imobiliário simples, inteligente e digital.

“A tecnologia que desenvolvemos encurtou drasticamente o processo de onboarding, aprovação de crédito, avaliação do imóvel, emissão do contrato e assinatura”, conta Cauê Cardoso, CEO e fundador, em entrevista ao Finsiders. “Tivemos clientes que do dia 1 até o dia da assinatura levaram apenas 4 dias úteis.”

Com o produto rodando desde o início do ano, a fintech acaba de fechar um acordo com a RBR — gestora especializada nos setores imobiliário e de infraestrutura com R$ 7,5 bilhões sob seu guarda-chuva — para ter funding de até R$ 150 milhões pelos próximos 12 meses. Com o recurso, a Volpi espera liberar R$ 15 milhões por mês em novos créditos com foco em aquisição de imóveis. “Vamos financiar algo como R$ 200 milhões até o ano que vem”, projeta ele.

Time e investidores

O fundador entende do riscado. Com a carreira construída no mercado imobiliário, Cauê cofundou a PDG, foi sócio da Crescera Capital (antiga Bozano) e mais recentemente chefiou as áreas de vendas, marketing, CRM e inovação da Gafisa, de onde saiu no fim de 2020 para construir a Volpi.

“Temos o melhor e mais qualificado time para crescer exponencialmente em financiamento imobiliário”, argumenta Cauê, ao lado de Natalia Teixeira, Chief Marketing Officer (CMO) — ex-BR Malls. À frente da tecnologia está Rondy Sousa, um engenheiro de software que atuou por oito anos na Plataformatec, cuja equipe foi adquirida em 2020 pelo Nubank.

Para crescer neste estágio inicial, a Volpi fez uma primeira rodada de investimentos (valor não revelado) com investidores-anjos como Edison Ticle (CFO da Minerva Foods), Flavia Goulart (diretora de comunidade e parcerias do Facebook), Sandor Caetano (Chief Data Scientist do iFood) e Pedro Donati (atual VP da Superbid e ex-diretor do Itaú Unibanco).

“Matéria-prima”

Segundo Cauê, os acordos com incorporadoras garantem a “matéria-prima” para a plataforma da Volpi. “A originação é por meio das incorporadoras, o que faz com o que imóvel tenha mais liquidez”, diz o empreendedor. A Volpi já financiou clientes de companhias como Bait (recém-comprada pela Gafisa), Cyrela, Even, Melnick, One, Setin e Vitacon. Para operacionalizar os financiamentos imobiliários, a fintech utiliza a infraestrutura de banking as a service (BaaS) da QI Tech.

A fintech tem liberado recursos para a compra de imóveis avaliados entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão, com financiamento de até 70% do valor do imóvel, prazo de até 30 anos e custo efetivo total (CET) de 13,76% ao ano. “Nosso foco são as classes média e média alta”, afirma o fundador. Por enquanto, a fintech atua nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, mas já está trabalhando na expansão para o interior paulista e outras regiões. “Começamos a falar com incorporadoras de BH”, cita Cauê.

O foco da Volpi é financiar a aquisição de imóveis residenciais que, segundo o empreendedor, representam um mercado-alvo de R$ 130 bilhões em 2022, conforme estimativa da empresa — no ano passado, foram R$ 165 bilhões em novos contratos residenciais.

A fintech também opera uma linha de home equity (crédito com garantia de imóvel), mas a prioridade é o financiamento para aquisição. “Todo mundo está focado em home equity, mas o produto custa muito para adquirir o cliente”, argumenta Cauê. “Nosso sonho é ser a maior fintech para compra de imóvel. Simples, inteligente e digital. E tem muita coisa a fazer ao redor, como seguros e outros produtos financeiros.”

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