Mitfokus, fintech para médicos, vai oferecer conta digital e empréstimo

A Mitfokus também vai começar a levar seus serviços para médicos recém saídos da faculdade que começam a estagiar

Quase dois anos depois de entrar na incubadora Eretz.bio/Einstein, a Mitfokus, fintech de contabilidade para médicos, acaba de receber um cheque da Bossanova Investimentos e de um pool de investidores anjo. O valor não foi revelado, mas segundo sua fundadora e CEO, Júlia Lázaro, disse ao portal Fintechs Brasil, os recursos serão investidos em desenvolvimento do software e em crescimento do negócio.

E, para crescer, a startup vai começar a oferecer seus serviços para médicos recém-saídos da faculdade que começam a estagiar – fase que na Medicina é obrigatória, e conhecida como “residência”.

“A partir de 2023, mais de 32 mil médicos serão formados todos os anos, graças à abertura de novas vagas nas universidades que foram autorizadas pelo governo há seis anos”, explica Júlia, que não quer perder esse filão. “Esses jovens médicos chegam ao mercado com um perfil mais tecnológico e nossas soluções vão ao encontro das suas necessidades”, acredita.

Para esse público, donos de micro e pequenas empresas ainda enquadradas no regime Simples Nacional, a fintech vai oferecer um pacote de entrada, com atendimento automático pelo avatar Luna. Mas, segundo Júlia, os profissionais evoluem rapidamente para o lucro presumido – nesta fase, passam a usar o módulo mais avançado da plataforma, que, entre outras coisas, inclui um “gerente de conta”.

Até agora, a Mitfokus vinha atendendo apenas médicos já na casa dos 35 a 40 anos, que atuam como empresas, e precisam conciliar toda a sua contabilidade, gestão financeira e tributária, cadastro no Conselho da categoria (o CRM) e outras rotinas fiscais – mas não têm tempo nem expertise para lidar com isso. “Cerca de 85% dos 560 mil médicos brasileiros são pessoas jurídicas, trabalham em média 60 horas por semana, têm quatro fontes de renda diferentes, vários sócios e nenhum tempo para cuidar das finanças”, diz. Os dados são do estudo Demografia Médica no Brasil 2020.

Júlia Lázaro, CEO da Mitfokus (Foto: Divulgação)
Júlia Lázaro, CEO da Mitfokus (Foto: Divulgação)

O nicho, segundo a CEO, tem especificidades que a maioria dos contadores generalistas não conhecem. “Esse desconhecimento pode custar mais de R$ 1,6 milhão em impostos pagos desnecessariamente ao longo de uma carreira de 35 anos”, afirma.

“Inside information”

No segundo semestre do ano que vem, a Mitfokus pretende passar a oferecer de financiamento estudantil até financiamento de equipamentos para clínicas e consultórios. “Nós conhecemos o cliente em profundidade, de dentro; podemos oferecer taxas mais justas, baseada no real risco de crédito que representam”, diz a empresária, que fundou a fintech em 2017, inspirada pelas dificuldades enfrentadas pelo marido, que é médico.

“Desde o começo deste ano, por exemplo, nossos clientes emitiram R$ 200 milhões em notas; até agora, não fazia nada com essas informações, mas poderíamos oferecer antecipação de recebíveis, por exemplo, já que eles recebem em 90 dias”.

“Procuramos fintechs que tirem fricção do sistema financeiro e que conheçam bem nichos de mercado, de forma a agregar valor ao cliente”, diz João Bezerra Leite, head de investimentos em fintechs da Bossanova. “Os médicos, quando estão na universidade, não se dão conta que ao saírem vão virar microempresários, pois o mercado está pejotizado. E a Mitfokus os ajuda nessa jornada”.

Outra vantagem que os investidores enxergaram na Mitfokus, segundo Júlia, é o relacionamento de longo prazo que mantém com os clientes: “Hoje 50% vem da nossa própria base de clientes; isso significa que estamos prestando serviço de qualidade, que temos um bom software e que o negócio é sustentável. A ideia é ficar com eles de 30 a 40 anos”.

Em janeiro do ano passado, quando tinha cerca de 1,2 mil clientes, Júlia disse em sua primeira entrevista ao portal Fintechs Brasil que nunca havia precisado de recursos de terceiros. Agora, com três mil clientes, e depois dos dois cheques que acaba de receber, ela já tem outras ofertas na mesa – mas não tem pressa: quer que o terceiro cheque seja para uma parceria muito estratégica.

Foco não falta – aliás, Mitfokus significa ‘com foco’ em alemão. Ao mesmo tempo, MIT é uma abreviação para ‘medicina, inovação e tecnologia’, diz Júlia.

*Este conteúdo foi originalmente publicado no Fintechs Brasil.

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