Por Marcelo Bentivoglio*, exclusivo para o Finsiders
O cenário econômico das fintechs continua aquecido e está caminhando para consolidação. Em 2022, o setor registrou 6.006 transações com volume total de US$ 164,1 bilhões, e apesar dos números expressivos, quando comparado com os US$ 238 bilhões de 2021, o ano fechou com queda de 32%, segundo o relatório semestral Pulse of Fintech H2’22, publicado pela KPMG.
A queda no volume total não impediu que grandes transações acontecessem. Um exemplo de investimento que expandiu o mercado de empréstimos parcelados é a aquisição de US$ 29 bilhões da Afterpay pela Block, com sede na Austrália. O setor se tornou popular para consumidores e comerciantes, principalmente com o aumento de compras online. Com isso, as fintechs e empresas de capital fechado apostam em negociações para manter a lucratividade em alta.
Ainda de acordo com o estudo, a variação negativa ano contra ano destaca-se pela rápida mudança no sentimento do investidor em meio a uma combinação de desafios — alta inflação e aumento das taxas de juros, a falta de saídas de IPO, e a turbulência no setor de criptomoedas.
Já o setor de pagamentos continua sendo o subsetor mais forte, atraindo US$ 53,1 bilhões em investimento total. Regionalmente, as Américas continuaram sendo a força dominante do investimento em fintechs globalmente, respondendo por US$ 68,6 bilhões em investimentos em 2022.
Mercado de pagamentos: a onda da consolidação
O mercado segue otimista sobre a consolidação de fintechs, embora esteja cauteloso com a inflação alta e as taxas de juros e como elas afetariam o capital desses modelos de negócios, uma vez que investidores agora estão cada vez mais alertas com a rentabilidade de seus investimentos.
De toda forma, olhando para o cenário macro que estamos vivendo, as oportunidades para as fintechs são positivas e amplas. As empresas do setor que dependem do dinheiro de dívidas para escalar – como provedores de empréstimos – terão que ajustar a rota e estarem abertas a novas rodadas de captação com condições piores.
Por outro lado, esse cenário é vantajoso para aqueles que oferecem infraestrutura, pois não dependem de dívidas para crescer suas operações. No mais, fintechs que também possuem licenças financeiras (e podem reter depósitos de clientes) se beneficiam da receita flutuante de depósitos em dinheiro.
É notável o atual movimento de consolidação das fintechs. Os empresários estão em busca de oportunidades para ter um balanço mais forte para os próximos anos, enquanto os investidores vão procurar potenciais investimentos que apresentem boas oportunidades de fusões e aquisições (M&A). Em um novo cenário, onde investidores estão mais alertas a rentabilidade de seus investimentos, uma fusão pode significar a continuidade dos negócios.
*Marcelo Bentivoglio é cofundador e lidera a área de estratégia da QI Tech, de tecnologia em serviços financeiros.
As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
Leia também:
Por que não se falou em fintechs no SXSW?
Grandes ideias que darão forma ao mercado de fintechs
Inadimplência de cartão desafia fintechs em 2023, aponta Fitch
No Brasil, fintechs dominam M&As entre 2017 e 2022, diz Distrito