Sem temer a evolução dos neobanks no país, Tarciana Medeiros, presidenta do Banco do Brasil (BB) — primeira mulher a comandar a instituição com 214 anos –, enxerga a concorrência como estímulo à inovação no banco. A meta da sua gestão é hiperpersonalizar serviços. “Meu mantra é entregar um banco para cada cliente, hiperpersonalizar o relacionamento com o cliente”, afirmou a executiva no Web Summit Rio.
A presidenta do BB também tem a missão de posicionar o banco como um dos mais inovadores do país. Não por acaso, a instituição usou seu espaço no evento desta semana para anunciar a primeira chamada do seu programa de Corporate Venture Capital (CVC), o Startup Scouting, mas não abriu valores de investimentos.
Startups e fintechs estão no radar do BB como parceiras para a entrega de produtos e serviços que possam complementar o portfólio de soluções do banco. Um exemplo é a parceria firmada há pouco mais de um mês com a Payfy, plataforma de gestão e conciliação de despesas corporativas, integrável com ERPs e sistemas contábeis das empresas.
Marisa Reghini, também a primeira mulher a ocupar a vice-presidência de negócios digitais e tecnologia do BB, explica que a parceria com a Payfy resolveu uma dor antiga dos clientes pessoa jurídica na gestão do cartão corporativo. Segundo a executiva, o acordo com a fintech solucionou um problema comum a clientes corporativos de todos os tamanhos.
“O mundo é de colaboração, não posso fechar os olhos para um produto ou uma parceria interessante com uma fintech por ser um banco tradicional”, afirma Marisa, em conversa com o Finsiders.
Além dos investimentos em startups, o BB também quer fomentar o ecossistema colaborativo, oferecendo uma troca de conhecimento, “Trago a startup e a fintech para o meu jogo e vou além do investimento. Um exemplo é a nossa infraestrutura de segurança. Estudamos anos para ter uma segurança robusta, podemos passar esse conhecimento e melhorar a segurança delas, é uma troca”, diz Marisa.
Uma das mentoras do movimento criado pelo BB para estimular as mulheres na TI, Marisa diz que o banco está inovando também em frentes como Open Finance. “Estamos desenvolvendo modelagens avançadas para melhorar a concessão do crédito. Com o Open Finance, a partir do consentimento do cliente, vejo a movimentação dele em outras instituições e calculo as melhores taxas para ele”, conta.
Inclusão financeira
Tarciana, que foi feirante antes de iniciar sua carreira no Banco do Brasil, também prioriza a inclusão financeira em sua gestão. Ela ressalta que a chegada dos neobanks ao Brasil é um estímulo à concorrência e impulsiona a inclusão financeira.
“Mais do que educação financeira, precisamos trazer a inclusão financeira para o país. Com a entrada dos neobanks, percebi a evolução no processo de inclusão financeira no país. Enxergo o mercado e o novos entrantes, como oportunidades de trazer inovação, avanço tecnológico e inclusão”, diz a executiva.
Apesar de não economizar ao falar dos investimentos nos modelos analíticos do banco, que pavimentam a hiperpersonalização dos serviços, a presidenta do BB faz questão de reforçar que o diferencial está nos 85 mil funcionários do banco. “Por trás de todo modelo analítico de conhecimento do cliente, de toda tentativa de hiperpesonalização, tem alguém que conhece aquele cliente”, afirma.
Tecnologia para agricultura familiar
No radar dos projetos de startups, um dos segmentos priorizados pelo BB são as agritechs. No âmbito do programa de CVC, há muito espaço para as soluções que tornem, sobretudo, a agricultura familiar mais digital, simplificando acesso a financiamento e tecnologias.
“Nesses primeiros 100 dias de 2023, evoluímos a concessão de crédito em 36% para clientes da agricultura familiar, que é responsável por 80% de todos os alimentos produzidos no país”, diz Tarciana.
Para a executiva, é notório que os maiores produtores do agro precisam estar ligados em cadeia com a agricultura familiar. “O BB tem a missão de atuar em toda a cadeia agro, incluindo o pequeno produtor no mundo de tecnologia. Queremos Incluir cada vez mais, com foco também nas mulheres produtoras”, afirma.
*Suzana Liskauskas é a jornalista convidada pelo Finsiders para cobrir o Web Summit Rio.
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