Você tem ideia de quantas mensalidades está pagando hoje? Serviços de streaming, TV a cabo, academia de ginástica, jornais, celular, internet, versões premium de aplicativos, luz, água, seguro do carro, seguro de vida… Segundo uma recente pesquisa da empresa Bango, 35% das pessoas alegam “não ter a mínima ideia” do quanto pagam mensalmente por suas assinaturas e 34% afirmam ter “certeza” de que estão pagando por algo que não usam mais.
A pesquisa ainda mostra que, na média, as pessoas pagam por cinco diferentes assinaturas e 19% pagam por oito ou mais. Mas o mais impressionante é que 78% dos usuários apontam, como sua principal preocupação, a falta de um local onde possam ver e gerenciar suas assinaturas de maneira centralizada. Fica claro que há um problema muito bem delimitado esperando para ser resolvido.
Open Finance com Pix como solução
Entra em cena, então, o Open Finance, conceito que permite bancos e fintechs compartilharem informações e ordens de pagamento. Parte desta agenda é algo chamado VRP (sigla em inglês para pagamentos variáveis recorrentes). Aqui no Brasil, embora o VRP não esteja especificamente previsto nas fases do Open Finance, o Banco Central (BC) planeja contemplar a solução via sua outra grande ferramenta: o Pix. Neste caso, denominado de Pix Automático, com previsão de início para abril de 2024.
Pix Automático: como funcionará?
Segundo o calendário publicado pelo BC, as regras serão divulgadas em setembro de 2023. Mas, como o problema a ser solucionado já é um velho conhecido e observando implementações do VRP em outros países, podemos prever com um certo grau de assertividade que o Pix automático suportará, por exemplo:
- Solicitação de aprovação: via consentimento no app do banco
- Assinaturas com ou sem data de fim: celular vs assinatura de jornal por 1 ano
- Valores fixos vs valores variáveis: conta de luz vs planos de internet
- Limites para aprovação automática: para contas de telefone superiores a R$ 200, será necessária a aprovação via ‘push notification’ do usuário. No caso de valores menores, serão aprovadas automaticamente
- Gestão das assinaturas: desabilitar serviços a qualquer momento
Engana-se quem acredita que a facilidade no cancelamento irá simplesmente aumentar o ‘churn’ das empresas que provêm o serviço. Do mesmo modo que atualmente 34% das pessoas acabam pagando por algo sem usar, e provavelmente não efetuam o cancelamento pela dificuldade do processo, a mesma pesquisa aponta que 63% (quase o dobro de usuários) se sentiriam mais seguros em consumir mais assinaturas se tivessem esta ferramenta de gestão que permitisse o controle de todas as suas compras recorrentes. Na prática, teremos uma redução dos serviços ruins e um fortalecimento dos bons serviços.
Como temos telas já desenhadas antes da especificação
Algumas empresas, especializadas em prover tecnologia para bancos e fintechs, antecipam-se ao regulador e já iniciam o desenvolvimento de soluções denominadas ‘white-label’ (que podem ser adaptadas ao gosto de cada cliente).
Em geral, fazem isto pelo seu conhecimento da indústria, estudando como a solução está sendo usada em outros países e, em alguns casos, fazendo parte dos grupos do BC responsáveis pelas definições.
Tive acesso à solução de Pix Automático de uma destas empresas, que se espera, no ano que vem, que esteja presente em diversos aplicativos de banco do mercado brasileiro. As telas são autoexplicativas (veja imagens abaixo). Segundo minha leitura, se entrarem no ar desta maneira, serão mais um golaço do BC.
*Heitor Barcellos é investidor de startups e atualmente sócio e vice-presidente de serviços financeiros da Contabilizei.
As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
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