PagBrasil 'exporta' Pix para países vizinhos e busca crescer no mercado de recorrência

A fintech está oferecendo uma solução para comerciantes em outros países, como Argentina e Uruguai, aceitarem Pix

Há cerca de 13 anos, o alemão Ralf Germer comandava uma empresa de software na Espanha e queria vender para o mercado brasileiro, mas tinha dificuldade para encontrar uma solução de processamento de pagamento cross-border. Numa de suas viagens ao país, conheceu o brasileiro Alex Hoffmann, que havia desenvolvido um gateway próprio de pagamentos para sua revendedora de software. Desse encontro, nasceria a PagBrasil, em janeiro de 2011.

Especializada em soluções de pagamento digital, com foco (adivinha!) no Brasil, a fintech atua como subadquirente e está conectada com os principais bancos (para transações via Pix e boleto) e credenciadoras (operações com cartão). A empresa oferece link de pagamento via API e também tem integração com as principais plataformas de e-commerce, como Shopify, VTEX e Salesforce.

“O lojista não precisa contratar uma plataforma de e-commerce, ir atrás de um banco, uma adquirente. Temos tudo pronto, e a empresa contrata só um serviço. Fazemos toda a intermediação. Resolvemos todo o processamento de pagamentos para que o lojista possa se concentrar no seu negócio”, explica Ralf Germer, CEO e cofundador, que se encontrou com o Finsiders durante sua mais recente passagem pelo Brasil — ele mora em Barcelona.

De olho nas assinaturas

Uma das principais apostas da fintech é o mercado de recorrência. Tanto é que a PagBrasil recentemente passou a oferecer uma solução de gestão de assinaturas, que vinha sendo lançada em etapas desde 2020. O momento não poderia ser mais propício, especialmente por causa do crescimento dos serviços de streaming e clubes de assinatura, mas também pela expectativa em relação ao Pix Automático, previsto para abril do ano que vem.

“Hoje, a cobrança automática só é possível com cartão de crédito. Então, o Pix Automático ajudaria muito. E seria uma grande inclusão financeira porque tem muita gente sem cartão de crédito no Brasil. Sem contar que tem muita gente que não quer usar o cartão”, diz Ralf.

Um levantamento encomendado pela fintech à plataforma de pesquisa OnTheGo corrobora essa constatação: 55% dos entrevistados consideram o Pix uma forma interessante para pagar pelos serviços de assinatura. No entanto, o pagamento instantâneo ainda fica atrás de outros métodos, como cartão de crédito e débito em conta corrente, em diversas categorias do e-commerce analisadas pela pesquisa. O cartão de crédito é o meio de pagamento mais utilizado nessas compras.

“Pix internacional”

O sucesso do Pix também motivou há alguns meses a PagBrasil a desbravar países vizinhos dispostos a aceitar esse meio de pagamento nas compras feitas por turistas brasileiros. A fintech, então, resolveu se antecipar ao Banco Central (BC) e está colocando em marcha o seu “Pix internacional”. A solução começa a ser adotada por comércios locais de países como Argentina, Chile, Uruguai, México e Estados Unidos, com foco principalmente em destinos turísticos.

Na prática, os hotéis, restaurantes e lojas em outros países utilizam um celular ou tablet como se fossem “maquininhas” para fazer a cobrança. Ao escolher pagar com Pix, o comércio insere o valor, o CPF do cliente e a moeda de cobrança (dólar ou euro). Antes de confirmar a transação, o usuário vê o valor convertido para reais, com a taxa de câmbio no momento da operação. Depois, basta escanear o QR Code para realizar o pagamento.

Sobre a transação, incide o IOF de 0,38%, contra o imposto atual de 5,38% para compras feitas no exterior com cartão de crédito. Segundo Ralf, a taxa cobrada dos lojistas também é mais barata do que o praticado nas operações com cartão. Além disso, o empreendedor garante que a taxa de câmbio é inferior à cobrada por bancos. “O consumidor não tem surpresa na hora de fazer a compra.”

Contexto

Atualmente com clientes em mais de 45 países, a PagBrasil não abre o tamanho da carteira, tampouco revela números do negócio por ser uma companhia de capital fechado. No portfólio, estão nomes como Samsung, Tramontina, Latam Airlines, Dr. Jones, entre outros.

Até hoje, o negócio roda com um modelo ‘bootstrapping’, portanto, sem ter feito rodadas de investimento. “O primeiro ano da empresa já foi rentável. Usamos a infraestrutura das empresas existentes, minha e do meu sócio. Investimos capital próprio e, quando começamos a dar lucro, reinvestimos”, diz Ralf.

Em meio ao ‘boom’ dos e-commerces e marketplaces globais que ganham força na América Latina, naturalmente a PagBrasil enfrenta concorrentes. No mundo, um dos players de referência é a norte-americana Stripe. Avaliada em US$ 50 bilhões, a empresa tem licença de instituição de pagamento (IP) há mais de um ano para operar como credenciadora, mas ainda não decolou no país.

Na tarefa para ‘exportar’ o Pix, a fintech também não está sozinha. Em junho, a Fiserv anunciou que está permitindo aos comércios da Argentina aceitarem pagamentos via Pix.

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