Fintech de ex-CERC e Marvin quer facilitar a negociação de recebíveis de duplicatas e cartões

Em operação há menos de seis meses, a Mercado de Recebíveis acaba de captar um aporte com a Urca Angels e foi avaliada em R$ 70 milhões

A Mercado de Recebíveis quer dar liquidez para pequenos e médios varejistas, permitindo, como já diz o nome bastante intuitivo, que esses pontos de venda (PDVs) possam negociar num “balcão” seus recebíveis de duplicatas e cartão de crédito, tendo acesso a taxas menores para antecipar esses recursos. 

Na prática, o objetivo da fintech recém-criada é conectar esses pequenos negócios que têm recebíveis performados (operações em que a entrega do produto ou a prestação do serviço já ocorreu) a uma gama de financiadores, por exemplo, bancos e fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs). A receita da fintech vem exclusivamente de um percentual da transação paga pelo financiador.

“Hoje, com os programas de risco sacado, bancos e indústrias acabam ganhando muito em cima dos pequenos negócios. Nós queremos ajudar a acabar com o risco sacado. E no novo modelo proposto pela Resolução 339, os próprios bancos e os marketplaces que já operam hoje com essa modalidade vão ter que se ajustar também”, afirma Henrique Echenique, cofundador e CEO da Mercado de Recebíveis, ao Finsiders

O empreendedor — que foi COO da registradora CERC e cofundou a fintech Marvin — se refere às novas regras do Banco Central (BC) para as duplicatas escriturais, que entraram em vigor em 1º de setembro deste ano. A resolução dispõe sobre emissão, registro, depósito centralizado e negociação desses títulos. Assim, com mais transparência e segurança no uso desse instrumento, o objetivo é ampliar a oferta de crédito para PMEs. As estimativas variam, mas acredita-se em um mercado potencial de R$ 10 trilhões. 

“No mundo pós-registro, os escrituradores levarão as operações a registro. E isso acaba com a intimidação que hoje acontece entre o sacado [as grandes indústrias, por exemplo] e o cedente [os fornecedores] porque os escrituradores farão um papel de ‘clearing’”, explica Echenique. Aliás, termina no fim deste ano o prazo para a entrega da convenção das escrituradoras ao BC, lembra o empreendedor. 

O negócio

Para explicar o negócio, Echenique usa o exemplo do produtor de alface. “Imagine que aquele produtor, antes da nova resolução do BC, conseguia fazer antecipações somente com o banco parceiro do varejista que compra sua produção, por taxas que vão de 4% a 9% ao mês. Com a Mercado de Recebíveis, ele tem acesso a melhores taxas, que devem girar em torno de 2% a 3%”, afirma.

De acordo com o CEO, a expectativa é colocar no ar o aplicativo da Mercado de Recebíveis nas lojas Apple Store e Google Play ainda este ano. Porém, neste primeiro momento, haverá uma lista de espera para usar a solução. “Por enquanto, estamos com a solução web rodando para contatos cadastrados. Aí, vamos migrar a base para o aplicativo, que será o canal direto para os PDVs”, diz.

Em operação há menos de seis meses, a Mercado de Recebíveis já atende quatro clientes (nomes não divulgados), incluindo indústria, varejo e uma plataforma full commerce — juntos, somam aproximadamente 200 mil PDVs potenciais. “Nosso alvo é ter pelo menos 10 mil PDVs usando a plataforma até o fim do ano que vem”, conta o CEO. “Na outra ponta, temos 5 financiadores, entre eles, bancos, FIDCs e securitizadoras.”

Aporte

Para crescer nesse estágio inicial, a fintech acaba de levantar uma rodada ‘seed’, de valor não revelado, liderada pela rede Urca Angels. A captação, que avaliou a empresa em R$ 70 milhões, teve a participação de mais de 30 investidores. Entre eles, estão nomes como Inês Corrêa de Souza, board member do Magalu e ex-CFO da Vale, e Marcelo Bella, CEO do Letsbank

É o primeiro aporte da Mercado de Recebíveis, que até então vinha sendo financiada com recursos dos sócios. Além de Echenique, o negócio tem como cofundadores o ex-CERC e Marvin Marcos Vinicius Trigo (que lidera produtos e tecnologia) e Viviane Camila Kuaye, ex-Itaú e Marvin, como diretora de pessoas. A equipe total tem 8 pessoas e deve crescer com a injeção de capital. 

Próximos passos

Além de aumentar o time e a base de clientes, a Mercado de Recebíveis está fechando um acordo com uma infraestrutura em blockchain para poder transformar os recebíveis em tokens. “Imagina o recebível do ‘senhor Miyagi’ chegando aos investidores por meio de token? Vamos ser um canal de originação de ativos. E o Drex [a versão digital do Real] vai ser matador para isso.”

A ideia, de acordo com Echenique, é evoluir para que os pequenos negócios tenham diversos “botões” no aplicativo, conforme dão autorização. “Com o ‘opt-in’, o PDV começa a entender qual a sua agenda de recebíveis, aí enxerga um botão que permite antecipação, depois outro que permite fazer Pix, pagamento de boleto, emitir tokens. Então, vamos evoluir conforme a maturidade do cliente.”

Mercado

Juntos, os mercados de recebíveis de cartões e duplicatas têm um potencial estimado mais de R$ 13 trilhões. Além das novas regras do Banco Central, outro impulso veio por meio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Isso porque a nova regulação dos fundos de investimento obriga os FIDCs a registrarem seus recebíveis.

Atualmente, as principais registradoras autorizadas pelo BC são Núclea (antiga CIP), CERC, B3 e Central de Registro de Direitos Creditórios (CRDC). No mês passado, a lista cresceu, pois o regulador também deu aval para o funcionamento da SPC Grafeno — joint-venture entre a techfin Grafeno e o SPC Brasil.

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