Recebíveis de cartão de crédito tokenizados são a evolução do mercado financeiro

Novas regras do BC e do CMN trouxeram mais transparência e segurança para as operações de antecipação de recebíveis, escreve o CEO da AmFi

O mercado financeiro brasileiro está em constante transformação, e uma das mudanças mais notáveis que vem ganhando destaque é a tokenização de recebíveis de cartão de crédito. Essa evolução vem revolucionando a forma como investidores e empreendedores encaram esse ativo financeiro que, aliás, é um dos mais abundantes em nosso país. 

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o mercado de recebíveis de cartão de crédito atingiu a impressionante marca de R$ 1,1 trilhão de originação mensal no primeiro semestre de 2023. Com 52 milhões de brasileiros realizando pagamentos por cartão de crédito, é fundamental compreender como essa evolução está moldando o setor financeiro.

Recebíveis de cartão de crédito representam os valores que as empresas têm a receber por compras realizadas. Após a conclusão de uma transação, as credenciadoras e subcredenciadoras — responsáveis por fornecer maquininhas de cartão e links de pagamento — têm um prazo determinado para repassar esses valores aos varejistas. Assim, essa dinâmica é essencial para a liquidez das empresas e a manutenção de suas operações.

O que muitos desconhecem é que esses recebíveis têm se mostrado uma excelente opção de investimento, acessível a uma crescente quantidade de investidores. A tokenização de recebíveis de cartão de crédito é um passo revolucionário nesse sentido.

A tokenização transforma ativos físicos em representações digitais, ou seja, “tokens”, e o mesmo pode ser feito com recebíveis. Os recebíveis tokenizados são, então, versões digitais dos recebíveis físicos, em que cada token representa um direito de recebimento futuro. A grande vantagem é que agora é possível investir nesses tokens, abrindo portas para oportunidades financeiras inovadoras.

Novas perspectivas

Vale ressaltar que essa modalidade de investimento é uma exclusividade brasileira, fortemente relacionada à forma como os cartões de crédito funcionam em nosso país. Em 2019, o Banco Central do Brasil emitiu a resolução 4.734, que permitiu não apenas instituições financeiras, mas também empreendedores e lojistas, anteciparem os recebíveis de cartão de crédito. Contudo, a verdadeira revolução ocorreu no final de 2022, quando o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovaram novas regras para regulamentar essa prática.

Essas regras trouxeram mais transparência e segurança para as operações de antecipação de recebíveis. Agora, os prazos e valores de financiamento devem ser compatíveis com a capacidade dos empresários, as operações são mais transparentes e os sistemas devem funcionar de maneira mais estável e segura, proporcionando maior competitividade. Isso cria um ambiente propício para a inovação, incluindo a tokenização.

Paulo David, CEO e cofundador da AmFi. Foto: Divulgação

A tokenização de recebíveis de cartão de crédito, portanto, abre novas perspectivas para investidores e empreendedores, possibilitando que o mercado financeiro se adapte às demandas do século XXI. Essa evolução representa não apenas uma revolução tecnológica, como também uma transformação na forma como encaramos o valor financeiro. 

À medida que os recebíveis se tornam digitais, o mercado financeiro brasileiro se posiciona na vanguarda das finanças globais, criando oportunidades sem precedentes para investidores e empresários. É uma revolução silenciosa, mas impactante, que está moldando o nosso futuro financeiro de maneira notável. Dessa forma, vale a pena prestar atenção a essa tendência e explorar as oportunidades que ela oferece.

Por que investir

Além de ser uma tendência que promete revolucionar as operações financeiras, os tokens de recebíveis de cartão de crédito apresentam uma série de vantagens para investidores e empresários. Uma das elas é a rentabilidade atrativa. A redução de intermediários nas operações resulta, ainda, em custos mais baixos, garantindo retornos mais atrativos para os investidores em comparação com o mercado convencional.

Outro fator é a camada adicional de segurança e transparência às operações. Os contratos são automatizados, proporcionando maior segurança e garantindo a execução correta das transações. Além disso, esses ativos permitem a troca de titularidade e domicílio bancário, com arranjos de pagamento bem estruturados e regras rigorosas, controladas pelas instituições financeiras.

Os tokens de recebíveis de cartão oferecem, ainda, maior controle sobre os investimentos e mais liquidez. Isso porque os ativos podem ser fracionados e negociados com facilidade em mercados secundários, proporcionando liberdade e flexibilidade aos investidores. Por fim, além de serem uma alternativa aos investimentos tradicionais, esses tokens democratizam o acesso a ativos financeiros que antes eram inacessíveis para a maioria dos investidores.

*Paulo David é CEO e cofundador da AmFi, fintech de infraestrutura de crédito em blockchain.

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