PAGAMENTOS

'Fintechs de bairro' levam maquininhas de cartão a pequenos empreendedores

A estratégia é facilitada pela Paytime, que já processa 0,25% das transações com cartões no país, e se prepara para o próximo passo: ser vendida

Leonardo Gomes/Paytime - Imagem: divulgação
Leonardo Gomes/Paytime - Imagem: divulgação

O que startups tão diferentes e distantes entre si, como a BPE (de Brasília), a Pag.Ninja (de Uberlândia) e aMarkUp! (de Vitória) têm em comum? Pelo menos duas coisas: a estratégia e a tecnologia. As três levam maquininhas de cartão e outros serviços financeiros a pequenos estabelecimentos localizados em suas regiões. Clientes que, por sua vez, costumam ser pouco e/ou mal atendidos pelos grandes players do negócio de adquirência. Por essa característica, elas vêm sendo chamadas também de “fintechs de bairro” – ainda que nem todas sejam fintechs e não necessariamente atuem em um bairro só. Mas, por serem regionais, todas dizem que conseguem dar atendimento mais próximo a esses comerciantes.

E o segundo ponto em comum é usar a subadquirente Paytime. “Fazendo parte do nosso ecossistema, elas conseguem taxas e condições competitivas para os lojistas”, diz Leonardo Moreira Gomes, cofundador e CEO da Paytime.

Fintechs de bairro

“Quando nascemos, em 2018, nossa proposta era ser, nós mesmos, uma fintech de bairro”, revela Leonardo. “Mas era difícil competir em termos de logística e custos com as grandes. Então a gente percebeu que tinha gastado tanto para desenvolver uma solução tão boa, que o melhor não era ser a fintech que credencia os lojistas, mas a que apoia as que credenciam”.

Segundo ele, foi um jeito de conseguir capilaridade e dar a esses lojistas a chance de melhorar e crescer seus negócios. Afinal, hoje quase todo mundo paga com cartão. Assim, a Paytime se transformou em uma “fintech as a service”.

A Paytime, que nasceu em Vitória, no Espírito Santo, já processa 0,25% das transações com cartões no país. São 700 parceiros que, por sua vez, têm juntos mais de 70 mil clientes cadastrados, e transacionam cerca de R$ 5 bilhões por ano. “Mas somos invisíveis para os lojistas, a marca que aparece nas maquininhas é a do nosso parceiro”, diz Leonardo. Agora, a Paytime se prepara para o próximo passo: ser vendida a uma grande do ramo.

A Paytime oferece a maquininha, aplicativo e portal com a marca dos parceiros (white label), e cuida de questões regulatórios, tecnológicas e contratos com as bandeiras. “Nossos concorrentes partem para a criação de novas fintechs, nós criamos um modelo de assinatura para os parceiros”, explica. Além da assinatura, a Paytime também cobra uma comissão sobre as receitas das vendas com cartão.

Taxas

“Quem negocia as taxas junto à credenciadora (no caso, a PagBank) somos nós, em nome desses 700 parceiros. Para eles, sai bem mais barato do que negociar individualmente”, afirma o CEO da Paytime.

A maioria dos parceiros da Paytime atua em um raio de 10 km de onde fica a sede. Leonardo diz que eles são uma opção mais vantajosa para os lojistas não apenas pelos custos competitivos, mas por oferecer soluções locais inovadoras e atendimento mais ágil do que o oferecido (ou não) por grandes players.

“Já ouvi de mais de um dos nossos clientes que se aparecer alguém oferecendo taxa um pouco mais barata, não troca de marca. Isso por que eu atendo os clientes pessoalmente, eles não falam com robôs. Isso faz toda a diferença”, acredita Wylza Gomes, sócia da BPE Bank. A startup de Brasília (Distrito Federal) leva as maquininhas para expositores das feiras de hortifruti, móveis e importados nas cidades satélites do DF. “Já estamos em 40% deles”, diz. No caso da feira da Torre de TV de Brasilia, ela diz que a penetração já é de 90%.

A BPE (banco do pequeno empreendedor) nasceu como BPL (banco do pequeno lojista) dentro do Sebrae em 2020. Hoje, já atende quase dois mil clientes. Além dos comerciantes locais, também está em consultórios de médicos, dentistas e oficinas na região. Agora, está expandindo para franquias – Wylsa dá como exemplo a Nipponflex, de colchões magnéticos, e a Royal Prestige, de panelas de aço.

Fontes de receita

Wylza informa ainda que a BPE tem outras fontes de receita, desde aluguel de maquininhas para eventos a parcerias para empréstimo, planos de saúde e vários produtos na prateleira.

Vinícius Arruda, sócio da Pag.Ninja, também credita o sucesso da sua maquininha entre os comerciantes de Uberlândia (Minas Gerais) ao atendimento próximo – e principalmente à facilidade de uso. Para ele, usabilidade é chave para conseguir a fidelidade do cliente. A fintech atua em três áreas: adquirência, conta digital e produtos segmentados.

“Estamos no mercado desde 2017 e conhecemos a Paytime em 2018. Somos parceiros deles desde o começo. Já estamos na quarta versão do portal, onde o cliente pode acompanhar todas as vendas de maneira transparente e fluida”, diz. Segundo ele, as grandes credenciadoras não se preocupam tanto com isso.

“As pequenas empresas parceiras da Paytime ‘traduzem’ o mercado de credenciamento para o cliente final. O MEI não tem contador, e a gente acaba também dando uma espécie de consultoria para eles”, diz Vinicius.

Assim como Wylza, que é sócia do marido Marcio Araujo, Vinicius trabalha com a esposa na sua empresa. O foco da Pag.Ninja é em novas empresas que estão abrindo, principalmente em bairros mais distantes do centro da cidade, assim como clinicas médicas, de estética e de dentistas, além de lojas de revenda de carros, motos e oficinas. “Temos 627 clientes ativos, a maioria que atua com vendas parceladas, onde nossa rentabilidade é mais alta”.

Competição

Ricardo Ghiotto, CEO e um dos sócios da MarkUp!, explica que o foco é conquistar clientes em bairros de onde está próximo em Vitória, “que acabam sendo explorados por outras adquirentes porque geralmente não tem ninguém atendendo – mas as taxas não são tão competitivas quanto as nossas”, afirma. “Estar debaixo do guarda chuva da Paytime ajuda a negociar as taxas com a credenciadora e também resolve a parte burocrática e jurídica do negócio”. As taxas da MarkUp! para pagamentos em dez vezes estão entre 7,8% e 8,6% ao mês.

Para Ricardo, rentabilizar o negócio não depende de ter uma carteira enorme – mas ter clientes que usam bastante o crédito parcelado, como lojas de roupas, eletrodomésticos, eletrônicos, motos elétricas. “Já conseguimos lucro mesmo sem sair dos muros de cinco bairros em um raio de 7km a 10km aqui em Vitória”, diz. O CEO antecipa que estão começando a negociar com uma rede regional de farmácias. Mas também atendem um segmento pouco valorizado, o de food trucks. “Tem alguns que faturam mais de R$ 100 mil por mês”.