Dario Palhares
A TradeMaster, fintech paulista que viabiliza crédito de grandes indústrias ao varejo de pequeno porte, está prestes a mudar de patamar. Com seus dois sócios, os bancos BV e Sofisa, a startup paulista se prepara para colocar no ar um marketplace de serviços e produtos voltados a pequenos comerciantes, e já rabisca planos para expandir suas operações no exterior.
“Nossa plataforma eletrônica, que começou a ser desenvolvida em meados do último ano, deve ser lançada no primeiro ou, o mais tardar, no segundo trimestre de 2023”, adianta o CEO e fundador Francisco Pereira. “A intenção é contar com opções próprias e de terceiros.”
Quatro itens do cardápio já estão definidos de antemão: TradeMaster, TradeTurbo, TradePrazo e TradeGiro.
Lançado no segundo trimestre, o TradePrazo consiste em financiamentos por 12 a 24 meses, pelo BV, dos boletos de cobrança emitidos pela TradeMaster para seus clientes. Já o TradeGiro, como seu nome indica, é uma carteira de capital de giro que tem por base recursos do BV e a inteligência da TradeMaster.
“Ainda em fase de testes, o TradeGiro, cujas condições são 100% definidas pela nossa equipe, concede empréstimos com taxas médias um ponto percentual abaixo do mercado”, diz Pereira. “A meta traçada para o produto em 2023 é um volume de operações por volta de R$ 300 milhões.”
Além deles, a plataforma oferece o TradeMaster e o TradeTurbo. Carro-chefe da casa, o primeiro garante aos varejistas limites de crédito pré-aprovados para compras nas 80 indústrias e distribuidores conveniados. Lançado há um ano, o TradeTurbo tem um modus operandi semelhante, mas toma como referência para a análise das demandas os recebíveis de cartões dos comerciantes, armazenados nos terminais POS. Viabiliza, dessa forma, o acesso a crédito para empreendedores novatos, sem histórico no mercado.
“O pequeno varejista compra, com frequência, o que pode, não o que precisa. Por vezes, deixa de lado produtos mais sofisticados, pois esses itens demandam prazos maiores de pagamento, já que têm giro menor”, diz Pereira. “O TradeMaster e o TradeTurbo proporcionam ao nosso público-alvo condições adequadas adquirir essas mercadorias, que têm margens bem maiores.”
Internacionalização
O atendimento à indústria promete, a médio prazo, ultrapassar as fronteiras do país. Atendendo a pedidos, consultas e sugestões de multinacionais para as quais presta serviços no mercado local, a TradeMaster já começa a desenhar um plano de internacionalização de suas operações.
“O nosso sistema tem condições de repetir o sucesso alcançado aqui, por exemplo em outras nações emergentes, onde, a exemplo do Brasil, o mercado de crédito é concentrado e se mostra avesso ao pequeno varejo”, diz Pereira. “Estamos conversando a respeito com vários parceiros que atuam no exterior. O projeto tende a se tornar realidade no segundo semestre de 2023.”
Desde o início do último ano, o portfólio de clientes cresceu por volta de 80%, para mais de 800 mil varejistas, e o volume de crédito concedido apresentou evolução de 167%: de cerca de R$ 6 bilhões para quase R$ 16 bilhões. As liberações de recursos ganharam forte impulso nos sete primeiros meses da atual temporada, registrando um salto de 220% em relação a igual período de 2021. “O potencial de expansão segue muito grande, pois o pequeno varejo é extremamente carente de opções de financiamentos”, comenta Pereira.
Graduado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o empresário ingressou no segmento de inovação financeira meio que por acaso. No passado, como executivo de áreas de produtos e marketing de multinacionais de forte penetração no varejo, ele nunca se conformou com as restrições impostas pelas grandes indústrias em geral à concessão de crédito a comerciantes de menor porte. Foi essa a principal motivação para a criação, em 2014, da TradeMaster, que logo de cara passou a contar com uma participação de 25% do Banco Sofisa.
“De início, pensávamos em ampliar o acesso de empresas estrangeiras a pequenos comerciantes, liberando-as de amarras impostas por suas matrizes, como limites de crédito, burocracia e juros elevados”, diz Pereira. “Depois percebemos que, além disso, poderíamos empoderar o varejo.”