A Biz, infratech para serviços financeiros e benefícios corporativos, prevê chegar a R$ 6 bilhões de transações até o final de 2025, após ultrapassar R$ 2 bilhões em 2024. A maior parte desse volume está concentrada na gestão de benefícios corporativos, de vale-transporte e vale-refeição a planos de saúde. Autorizada a atuar como Instituição de Pagamento (IP) no ano passado, a Biz agora aposta no crédito via antecipação salarial.
Segundo Douglas Barrochelo, CEO da Biz, o negócio surgiu em função da demanda de um dos seus maiores clientes, do setor de aviação civil. Mas já conquistou outros. “Até agora, emprestamos R$ 4,5 milhões; a meta é chegar a R$ 50 milhões no final do ano”, diz, em entrevista ao Finsiders Brasil.
Douglas afirma que 40% dos brasileiros já teriam pegado dinheiro com agiotas. E que em muitas empresas, a maioria dos funcionários está ‘enforcada’ com crédito consignado. Nesse contexto, a antecipação salarial no cartão, em percentual limitado pelo empregador, ajuda o trabalhador no controle financeiro. O CEO afirma que o produto não custa nada, nem para o funcionário nem para a empresa. “A Biz ganha na taxa de intercâmbio”.
[Taxas de intercâmbio são as cobradas entre bancos para processar pagamentos com cartão de crédito e débito. Quando um cliente faz uma compra com cartão, a adquirente da empresa paga a taxa de intercâmbio ao banco emissor do titular do cartão. No final de maio, o Banco Central avisou que iria lançar uma consulta pública para discutir limites à tarifa de intercâmbio nos cartões de crédito, similar à do arranjo de débito e também do pré-pago.]
Credit as a Service
O adiantamento de salário pelo cartão de benefícios da Biz permite ao funcionário tomar emprestado até 30% do que ganha – o percentual é definido por cada empresa empregadora. O crédito é pago assim que o salário cai na conta, e o limite é renovado.
Fundada há 20 anos como processadora de cartões, a Biz é controlada por Érico Ferreira, empreendedor serial com negócios e fundador da Omni. A financeira provê o funding para as operações, no modelo de “crédito como serviço”, ou CaaS na sigla em inglês. A Biz já apostou em vários negócios. Em 2022, por exemplo, entrou em Banking as a Service (BaaS), passou a oferecer cartão de crédito como serviço e apostou na criação de bancos digitais para seus clientes, num modelo praticamente self-service.
Porta de entrada
Douglas explica que vale-transporte, multi-benefícios e despesas corporativas são a ‘porta de entrada’ da infratech em empresas não financeiras. Atualmente, a Biz atende 680 delas, com 210 mil usuários – número que deve mais que dobrar até o final de 2025.
De acordo com a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), 71% das empresas brasileiras estão revisando seus pacotes de benefícios, e mais de 50% dessas já consideravam os benefícios flexíveis como uma prioridade em 2024. Segundo a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) este mercado movimenta cerca de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões por ano.
Porém, algumas das mudanças de regulamentação necessárias para ampliar a concorrência – e reduzir custos para as empresas – seguem travadas no Congresso. Mas Douglas, que participa da Câmara Brasileira dos Benefícios do Trabalhador (CBBT), associação das empresas independentes do setor, acredita que as taxas de descontos aos lojistas (MDR, na sigla em inglês) serão limitadas a 4% em breve. Isso beneficiaria a concorrência, ou seja, os arranjos abertos. Atualmente, os chamados ‘arranjos fechados’ – Alelo, Sodexo, Ticket e VR – cobram uma taxa média de 7% do valor da refeição nos restaurantes e/ou da compra nos mercados.
Concorrência
Douglas diz que, com a licença de IP, a Biz operacionalizou internamente serviços que abrangem uma variedade de negócios em pagamentos, recebimentos e movimentação de recursos, e passou a oferecer opções de compra e venda dentro de um arranjo de pagamento, como transferências eletrônicas, pagamentos com cartão, transações móveis e outras. “Tais serviços são essenciais para agilizar as transações financeiras entre pessoas e empresas, garantindo mais praticidade e eficiência para os clientes e, consequentemente, gerando novas linhas de receita”.
Ele explica que a realização de pagamentos sem depender de outros bancos ajuda na redução das taxas, uma vez que a Biz passa a operar diretamente, o que auxilia na redução do preço dos serviços e possibilidades dentro do negócio. “Outro diferencial é conseguirmos conectar produtos financeiros a pagamentos e torná-los ainda mais personalizados, usando a nossa experiência com benefícios flexíveis”.