Compra da Easynvest pelo Nubank acirra concorrência em investimentos

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Nubank anunciou na sexta-feira (11) a compra da Easynvest, maior corretora independente do país, com 1,5 milhão de clientes e cerca de R$ 24 bilhões sob custódia. A operação, de valor não revelado, depende de aprovação do BC e do CADE. Enquanto a transação não recebe aval, nada muda para os clientes das duas empresas.

O negócio vai envolver, majoritariamente, troca de ações. A gestora de private equity Advent International, que detinha 60% da Easynvest, vendeu sua participação e será investidora do Nubank, assim como outros acionistas da corretora.

Com a aquisição — antecipada há uma semana pela coluna “Radar Econômico”, da Veja — o banco digital amplia sua atuação e ingressa com tudo no mercado de investimentos, um filão que também está sendo explorado por alguns dos principais concorrentes e hoje é dominado com folga pela XP, que soma R$ 436 bilhões sob custódia e 2,3 milhões de clientes.

David Vélez, fundador e CEO do Nubank, em comunicado:

“Nos últimos sete anos, temos desafiado o status quo para criar uma nova geração de serviços na América Latina. Já libertamos 30 milhões de pessoas da complexidade do sistema financeiro por meio de serviços e produtos práticos, convenientes e, principalmente, totalmente focados no cliente. O nosso desejo é fazer isso também no setor de investimentos.”

O negócio complementa a oferta da fintech criada por David VélezCristina Junqueira e Edward Wible. A empresa começou com cartão de crédito, lançou conta digital, empréstimo pessoal e opções básicas de investimentos. Agora quer brigar por uma fatia em um setor concentrado nos grandes bancos e que nos últimos anos viu acirrar a disputa entre plataformas abertas como BTG Pactual digitalÓramaGuidemodalmais Genial Investimentos, entre outras.

Fernando Miranda, presidente da Easynvest; David Vélez e Cristina Junqueira, fundadores do Nubank (Crédito: Divulgação)
Fernando Miranda, presidente da Easynvest; David Vélez e Cristina Junqueira, fundadores do Nubank (Crédito: Divulgação)

A transação chega num momento em que o Nubank está capitalizado. Depois de levantar US$ 400 milhões em julho do ano passado, a fintech recebeu uma nova rodada de US$ 300 milhões em junho, com participação de Sequoia Capital, Kaszek Ventures e Ribbit Capital, que já eram investidores do Nubank.

No primeiro semestre, o banco digital viu o prejuízo líquido cair 32% em relação ao mesmo período de 2019 — entre janeiro e junho, as perdas somaram R$ 95 milhões. As receitas de intermediação financeira mais do que dobraram em relação ao primeiro semestre de 2019, para R$ 2,08 bilhões. Já o caixa ficou com R$ 19,9 bilhões em caixa, um avanço de 48% ante dezembro do ano passado.

>> Leia mais: A estratégia da Neon para concorrer com os grandes bancos

O BC aprovou um aumento do capital social da Nu Pagamentos de R$ 1,557 bilhão para R$ 2,087 bilhões. Também foi aprovado um aumento de capital de R$ 264,2 milhões, para R$ 594,9 milhões, na subsidiária Nu Financeira. Ambas as decisões haviam sido tomadas em assembleias no começo de julho, segundo as demonstrações financeiras da empresa.

Não poderia ser um momento mais favorável para negócios assim. O número de investidores pessoa física na bolsa está perto de 3 milhões —a B3 fechou agosto com 2,98 milhões de CPFs. Estimativas do setor apontam que o mercado de investimentos pode passar de R$ 3 trilhões neste ano para mais de R$ 5 trilhões em 2025.

A pessoa física tem sido disputada a tapa pelas plataformas. Na sexta, por exemplo, a XP Inc. anunciou que a Rico, uma de suas marcas, não cobrará mais corretagem de ações dos clientes. Já a XP Investimentos reduzirá em aproximadamente 75% suas taxas. Há três semanas, a Toro Investimentos zerou a taxa de corretagem de todos os produtos de bols e vai devolver o rebate de fundos como “cashback”.

BTG Pactual digital está forte na briga, plugando em sua plataforma agentes autônomos, muitos deles oriundos da própria XP, incluindo o maior escritório, o EQI. A estrutura hoje do banco de investimentos é gigante: mais de R$ 535 bilhões em ativos sob gestão e administração, quantia que reúne as áreas de asset management, wealth management e a plataforma BTG Pactual digital. Ontem anunciou a criação do seu banco de varejo, o BTG+, além de uma plataforma nova para pequenas e médias empresas, o BTG+ business.

Dois meses atrás, o Credit Suisse fechou um acordo para comprar 35% do modalmais. A Guide, controlada pela Fosun (dona também da Rio Bravo), estaria à venda pelo grupo chinês, segundo noticiou o Valor Econômico no início deste ano. Em fevereiro, a Órama — que tem o Grupo Globo entre os acionistas — vendeu 25% do negócio para a seguradora SulAmérica.

>> Leia mais: O aporte “secreto” de US$ 300 milhões do Nubank

Entre os bancos digitais, também há movimentos recentes. A Neon, de Pedro Conrade, comprou há menos de dois meses a Magliano, primeira corretora de valores do Brasil. No início do ano, o banco digital já tinha montado uma gestora de recursos, a Neon Investimentos, conforme matéria da última edição da Finsiders.

Inter, por sua vez, lançou uma área de research, criou uma estrutura de wealth management e comprou a gestora DLM Invista, agora transformada em Inter Asset. Em sua plataforma aberta de investimentos, o banco mineiro tem 762 mil clientes ativos e R$ 26,5 bilhões em ativos sob custódia e gestão. No home broker, são 238 mil investidores com ações.

Os grandes bancos não estão parados. O Bradesco “ressuscitou” a Ágora para entrar na briga com a XP e as demais plataformas. A corretora do segundo maior banco privado passou de 367 mil clientes em dezembro de 2019 para 449 mil em junho deste ano. No segundo trimestre, tinha R$ 50,6 bilhões sob custódia e até 2021 a meta é conquistar 25% do mercado, segundo noticiado pelo Estadão.

Já o Santander criou no início do ano passado a Pi Investimentos, que trocou de CEO há dois meses. José Clemenceau Assad Jr., ex-Getnet, assumiu no lugar de Felipe Bottino, executivo egresso da Icatu Seguros que estava à frente da operação da Pi desde novembro de 2018.

Outros players também querem um pedaço desse bolo. A corretora americana Avenue, do ex-XP Roberto Lee, comprou a Coin DTVM em agosto e vai disputar o mercado brasileiro. A gestora digital Magnetis lançou a própria corretora, depois de comprar a John Deere DTVM, que pertencia ao conglomerado do Banco John Deere. Já a italiana Azimut criou sua própria plataforma, a Consulenza.

A aquisição da Easynvest é a terceira feita pelo Nubank em 2020. No início do ano, a fintech comprou a consultoria de tecnologia Plataformatec e a empresa americana de engenharia de software Cognitect dois meses atrás. O banco digital começou o ano com 19 milhões de clientes e reúne agora cerca de 30 milhões.

Fundada em 1968 como Título Corretora, a Easynvest foi uma das primeiras corretoras a lançar home broker, no fim dos anos 1999. Ficou famosa por zerar a taxa de corretagem do Tesouro Direto em 2002. Em 2016, criou um aplicativo de renda fixa e nos últimos tem se posicionado como uma plataforma “self-service”.

Em abril do ano passado, o ex-diretor de novos negócios do Santander, Fernando Miranda, assumiu o comando da Easynvest, cadeira ocupada por Marcio Cardoso, sócio da corretora desde 1995 e que passou a atuar no conselho da empresa e em novos negócios.

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