Estamos todos acostumados com o modelo de finanças centralizadas, conhecido em inglês como CeFi (centralized finance). Nele, confiamos nosso dinheiro a uma instituição financeira que faz a gestão ou custódia desses recursos. Essa é a forma de organização do sistema financeiro tradicional, com a participação de intermediários, como as instituições financeiras, em todas as fases do processo. São elas que concretizam as transações realizadas por nós, clientes, garantindo a segurança desses valores, bem como a chegada dos recursos ao outro lado – a quem está recebendo.
As regras são estabelecidas por uma autoridade central, o Banco Central do respectivo país, que preza por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo, visto como sinônimo de progresso dos países – e de estabilidade macroeconômica. Para isso, a regulação prudencial estabelece requisitos para as instituições financeiras operarem, incluindo as não bancárias, com foco no gerenciamento de riscos e nos requerimentos mínimos de capital para fazer frente aos riscos decorrentes de suas atividades. Trata-se, portanto, de um ambiente altamente regulado, com limites estabelecidos não apenas nacionalmente, mas também conforme rígida padronização global.
Diferenças entre CeFi e DeFi
Esse gerenciamento de riscos, alinhado aos requerimentos mínimos de capital, tem como objetivo contribuir para que eventual quebra de uma instituição não gere um efeito dominó no sistema financeiro, conhecido como risco sistêmico, o que provocaria perdas enormes para a sociedade. A custódia representa a guarda de ativos e títulos, como ações, fundos imobiliários e debêntures, por uma instituição depositária que os mantém em nome dos investidores. Seu papel é fazer com que sejam armazenados e transacionados de forma segura, conforme comentamos anteriormente.
“É justamente nesse ponto que reside uma das principais diferenças entre CeFi e DeFi. Nesse segundo modelo, o de finanças descentralizadas, vigora a autocustódia, não havendo intermediários, com a gestão do dinheiro e dos investimentos feita inteiramente pelo próprio investidor ou detentor dos ativos”, disse Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e ativos digitais da EY Brasil, na Febraban Tech 2023.
O DeFi, do inglês decentralized finance, é caracterizado por ser aberto e sem autoridade central, o que significa que não há regulamentação. As transações financeiras são viabilizadas unicamente por meio da tecnologia, com destaque para contratos inteligentes, blockchain e algoritmos, e operadas pelos próprios investidores, também responsáveis pela custódia dos ativos.
DeFi + CeFi = HyFi
“Esse mercado de finanças descentralizadas já chegou à casa de trilhões de dólares e está estabelecido. A discussão não é considerá-lo menor ou menos importante do que o CeFi, mas analisá-lo em conjunto com o de finanças centralizadas, identificando as oportunidades. Como são dois modelos distintos, o olhar também deve ser diferente por parte do mercado e, principalmente, dos reguladores. Apenas adaptar a regulação do CeFi para o DeFi não vai funcionar”, observou Talarico.
A tendência é a adoção de um modelo híbrido, chamado de HyFi (hybrid finance), com características do CeFi e do DeFi. O objetivo é utilizar as tecnologias próprias e bem-sucedidas do DeFi, mas reguladas pelo Banco Central, com regras que possam trazer maior segurança para os investidores sem comprometer a inovação e a agilidade próprias das finanças descentralizadas.
“O BC tem dito que o DeFi serve de inspiração para o real digital. No real tokenizado, não estaremos falando de autocustódia, mas de uma instituição financeira responsável pela custódia, como observamos no CeFi. O órgão está incluindo as instituições financeiras reguladas na revolução da Web3, e isso é muito positivo”, finalizou Talarico.
*Conteúdo publicado originalmente na Agência EY.
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