CBDCs, IA generativa, identidade digital e outras tendências para 2024

A inflação elevada no mundo, o surgimento de métodos alternativos de pagamentos e a necessidade de novas experiências resultam em um ambiente propício a mudanças, aponta a consultoria Juniper Research

Os pagamentos conta a conta (A2A Payments), CBDCs, o uso de inteligência artificial (IA) generativa em banking, a adoção de identidades digitais para a integração em wallets e ferramentas anti-lavagem de dinheiro estão entre as principais tendências para fintechs e pagamentos em 2024. É o que aponta um novo relatório publicado pela consultoria Juniper Research

Atualmente, há alguns direcionadores para que isso ocorra no próximo ano. Entre eles, a pressão econômica causada pela inflação em alta e custo de vida elevado em diversos países. Além disso, o estudo aponta o surgimento de métodos de pagamentos como alternativa aos cartões, assim como a necessidade de experiências únicas em serviços de pagamentos. 

Para resolver parte dos gargalos, a consultoria acredita que as fintechs devem focar em dois aspectos. Como hoje levantar ‘funding’ junto a VCs não é tarefa das mais simples, o primeiro ponto é focar no ‘fit’ do produto no mercado.


Por outro lado, os empreendedores devem tornar a redução de custos também uma necessidade. Em um momento econômico difícil, a consultoria diz que esse é um passo “fundamental” para o sucesso. 

Veja, a seguir, algumas tendências para o ano que vem. O paper completo está no site da Juniper.

Pagamentos conta a conta

O relatório diz que os pagamentos conta a conta começam a desafiar os cartões no e-commerce e as wallets digitais. Em mercados desenvolvidos, as wallets conectadas a cartões, como Apple Pay e Google Pay, estão direcionando as carteiras digitais. 

Por outro lado, embora esses serviços tenham permitido mudanças no comportamento do usuário, com o emprego do NFC e das wallets no comércio eletrônico, “eles estão agindo meramente como um proxy para o cartão.”

Ainda, o documento ressalta que esse modelo do uso de carteiras digitais não é, necessariamente, dominante. “Em outros mercados, como Índia, Brasil e China, os cartões têm um papel muito menos dominante nas carteiras digitais, com as transações de carteira sendo amplamente financiadas por pagamentos A2A.”

CBDCs

​Em 2023, as CBDCs (Central Bank Digital Currency) surgiram e passaram a ser avaliadas em projetos pilotos. Para a Juniper, essas iniciativas mostraram que as moedas eletrônicas de bancos centrais “atendem a uma necessidade vital inexplorada”, para criar “um novo sistema de pagamento do zero adequado à finalidade das transações digitais”.

O relatório aponta, no entanto, que 2024 deve trazer casos específicos de uso em que as CBDCs podem melhorar a experiência nas transações — um ponto ausente até o momento. Assim, esses casos serão articulados por fornecedores e reguladores, preparando o terreno para a próxima etapa de crescimento da tecnologia.

“Embora tenhamos visto implantações reais de CBDCs em alguns mercados, como nas Bahamas e na Nigéria, a utilização destas soluções na prática tem sido carente, com o interesse nos sistemas ainda não justificando o nível de investimento que vimos em todo o mundo”, diz. 

IA generativa em banking

Apesar do surgimento da IA generativa como um importante tópico, é difícil conectar o seu uso a casos e benefícios específicos, destaca o relatório. Por isso, a expectativa é que isso ocorra no próximo ano, em particular em bancos e nas instituições financeiras.

Assim, as informações sobre o controle das finanças podem ser o caminho. “As percepções sobre gastos normalmente são bastante básicas há algum tempo, embora tenham melhorado. Os KPIs padrão incluirão valores de gastos comparados ao longo de períodos de tempo, gastos em determinados comerciantes comparados ou despesas separadas em categorias (como alimentação versus eletrônicos). Embora sejam úteis por si só, eles não fornecem nenhuma informação”

De acordo com a análise, falta um mecanismo de recomendações bem estruturado, com informações personalizadas ao usuário baseadas no seu comportamento. Em termos de concorrência, a pressão contínua sobre os bancos e a IA generativa devem resultar no uso da tecnologia por grandes instituições financeiras. 

Identidade digital

A atuação de reguladores foi importante para definir a agenda de identidade digital. Aqui, o documento pontua que alguns movimentos foram primordiais, como a publicação da IESC (Identificação Eletrônica e Serviços de Confiança) pela Comissão Europeia. A proposta inclui, por exemplo, o conceito de carteira de identidade digital para wallets, permitindo aos usuários armazenarem dados de identidade e credenciais. 

Aliás, esse movimento em direção a soluções baseadas em carteiras já é vista na prática. Um deles é a integração da Apple na habilitação de e-wallets nos Estados Unidos. Agora, a Juniper espera que os mercados emergentes sigam uma trajetória semelhante.

“Esperamos que os aplicativos de dinheiro móvel se tornem uma importante forma de armazenar credenciais de identidade, uma vez que as economias em desenvolvimento devem seguir o exemplo da Índia e desenvolver sistemas de identidade nacional, a fim de catalisar um maior crescimento econômico.

Tecnologias anti-lavagem de dinheiro

As demandas regulatórias de compliance também continuam a figurar como um enorme desafio para bancos, instituições financeiras e companhias de pagamentos. De acordo com a Juniper, embora soluções com tecnologias regulatórias tenham sido introduzidas nos últimos anos, para ajudar a gerir a carga de conformidade que as empresas enfrentam, esse movimento não acompanhou os desafios do mercado.

“Dos requisitos regulamentares em vigor, a AML (anti-lavagem de dinheiro) pode ser um dos mais complexos. Instituições financeiras, bancos e outras entidades devem seguir as regras jurisdicionais de combate à lavagem de dinheiro (e outras atividades criminosas)”, afirma a consultoria. 

Ao usar esses algoritmos, “uma variedade de tarefas automatizadas” podem ser executadas para verificar atividades suspeitas com base em dados de due diligence (diligência devida) do cliente, triagens de sanções e transações de monitoramento de entradas.”

Para 2024, a consultoria acredita que os fornecedores de tecnologias anti-lavagem de dinheiro deveriam se concentrar no desenvolvimentos de sistemas mais “avançados”, alimentados por IA, para acompanhar a taxa de mudança no mix de pagamentos. “O crescimento será fundamental para que as tecnologias regulatórias atinjam seu crescimento potencial nos próximos anos.”

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