Com a Cumbuca “recheada”, fintech vai lançar cartão e tirar do papel a iniciação de pagamento

A fintech de conta compartilhada acaba de levantar R$ 15 milhões em rodada capitaneada pelo fundo norte-americano Lightspeed Venture Partners

Muito além da divisão de gastos entre casais, a Cumbuca acredita que o futuro é compartilhado — do churrasco no fim de semana à assinatura de serviços de streaming. Pelo aplicativo, é possível “rachar” as despesas com pagamento via Pix ou boleto, e a ideia é permitir que isso seja feito também por meio de um cartão bandeira Mastercard, que será lançado até o fim do ano.  

“Estamos criando uma nova categoria. Ainda não posso comentar detalhes, mas o que posso dizer é que o cartão será muito diferente do que já existe no Brasil”, afirma Daniel Ruhman, fundador e CEO da Cumbuca, em conversa com o Finsiders. “Queremos eliminar a dor de cabeça em qualquer tarefa que envolve compartilhar dinheiro.”

Para tirar os planos do papel, a fintech acaba de levantar US$ 3 milhões (cerca de R$ 15 milhões, no câmbio atual), em uma rodada capitaneada pelo fundo de venture capital Lightspeed Venture Partners, investidor de fintechs como Affirm, Carta e Stripe. É o primeiro cheque assinado pelo VC norte-americano para uma startup brasileira. 


“Buscamos equipes com visões extremamente audaciosas e inovadoras — exatamente o que a Cumbuca é como pioneira no Open Banking. A visão deles reinventa o core das experiências financeiras do consumidor. Mal podemos esperar para ver essa visão se concretizar”, afirma Mercedes Bent, sócia da Lightspeed Venture Partners, em nota.

A captação da Cumbuca teve a participação, ainda, da Supera Capital, VC com foco em early-stage que une Globo Ventures, Luciano Huck, Eduardo Sirotsky Melzer (da eB Capital) e Gilberto Sayão (Vinci Partners). 

Esse é o segundo aporte recebido pela Cumbuca. Em 2021, a fintech captou mais de US$ 1 milhão com a aceleradora norte-americana Y Combinator e anjos como Renato Freitas, um dos fundadores da 99; Pedro Sirotsky, da Barrah/B1; Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee, entre outros.

Iniciação de pagamento é a base

Além do cartão “enigmático”, a Cumbuca usará o dinheiro recebido para a implementação da iniciação de transação de pagamento (ITP) no app. Há pouco mais de cinco meses, a fintech foi autorizada pelo Banco Central (BC) a operar nessa modalidade, que integra a fase 3 do Open Finance. O serviço ainda não está operacional. “Estamos desenvolvendo. Queremos lançar no primeiro trimestre do ano que vem”, conta Daniel.

Segundo o empreendedor de 25 anos — que também é um dos fundadores da INIT, associação que reúne iniciadores de pagamento —, o diferencial do seu ITP é que o serviço será “puramente B2C” e 100% baseado nesse fluxo de iniciação. Tanto é que a Cumbuca obteve sua licença de instituição de pagamento apenas na modalidade de ITP, sem ter autorização para operar contas, por exemplo. 

“Hoje em dia operamos no modelo de custódia, mas o sonho é não ter a custódia do dinheiro. Não somos um banco, nem uma conta de pagamento. Não queremos entrar na guerra do CDI”, diz Daniel. Na prática, o objetivo da Cumbuca é automatizar a divisão e o compartilhamento de gastos, tendo como base a iniciação de pagamentos. Hoje, o serviço está disponível apenas para depósito (cash-in), por meio de uma parceria com a fintech Quanto — que é apta a operar como ITP. 

“O cash-in ainda não é grande ‘wow’. Vamos lançar nossa ITP quando as novas ‘features’ estiverem no ar”, afirma o fundador. Ele se refere à agenda evolutiva da iniciação de pagamento, que prevê novidades como jornada sem direcionamento e transações recorrentes. “O Banco Central trouxe também a figura do Gestor de Pagamentos no Pix para a questão de ‘split’ de pagamento e afins.”

“Multiplayer banking”

Fundada em 2021 e lançada no início do ano passado, a Cumbuca aposta no modelo de “multiplayer banking”, em que cada pessoa tem uma conta individual, mas todos do grupo conseguem enxergar como o dinheiro coletivo está sendo utilizado. Pelo app, os usuários podem montar múltiplos grupos, sem limite de pessoas. “Temos grupos com 40, 50 pessoas, por exemplo”, aponta Daniel.

Ele não revela o tamanho atual da base, mas confirma a meta que havia projetado para o fim de 2022 — encerrar o ano com 25 mil usuários. “Chegamos lá. Nosso TPV cresceu 20 vezes. O que era centenas, virou milhares e, depois, milhões. Estamos só começando”, diz o CEO. 

Atualmente, a maior parte do público é jovem como o próprio empreendedor, e a principal finalidade de uso da Cumbuca ainda é para casais que namoram ou moram juntos dividirem os gastos. “Mas nossa solução é para ser qualquer pessoa que tenha fluxo financeiro compartilhado”, afirma Daniel. Ele dá como exemplos famílias que precisam reunir o dinheiro para custear as despesas com pais idosos, ou ainda pessoas que compartilham um serviço de streaming. 

Finanças compartilhadas

A tese de que a vida financeira compartilhada pode ser mais simples com uso da tecnologia não é uma aposta apenas da Cumbuca. No mundo, os exemplos incluem a norte-americana Braid e a mexicana MoneyPool, entre outros. 

Por aqui, a Noh — lançada em abril do ano passado — também se propõe a simplificar os pagamentos compartilhados. Em outubro de 2021, a fintech recebeu US$ 3 milhões (cerca de R$ 17 milhões, no câmbio da época) em rodada liderada pelo Kindred Ventures, que já investiu em empresas como Uber e Coinbase

Outro exemplo no mercado brasileiro é a Friday, aplicativo que facilita a organização e efetivação das contas a pagar. A proposta é tornar o pagamento de contas tão leve quanto um ‘sextou’. 

Saiba mais:

A estratégia da Cumbuca para ser a ‘conta da família’

Com BTG, Noh passa a oferecer iniciação de pagamentos