Na Agrolend, mais R$ 80 milhões para construir o banco digital do agro

Quando decidiram fundar a Agrolend, há pouco mais de um ano, os irmãos André e Alan Glezer desenharam um projeto ambicioso: ser o primeiro banco digital do agro, com foco em pequenos e médios produtores. Um plano que agora ganha mais combustível para que a startup possa escalar.

A agfintech acaba de fechar uma Série A de R$ 80 milhões (equivalente a US$ 14 milhões) em um round liderado pelo Valor Capital Group e acompanhado pelos quatro investidores institucionais do seed round – Continental Grain Company, SP Ventures, Provence Ventures e Barn Invest.

O aporte teve, ainda, participação da família Conde (que vendeu o banco BCN ao Bradesco na década de 1990), além de investidores-anjos estratégicos. O valuation não foi divulgado.

Ao Finsiders, André Glezer conta que a nova rodada foi “disputada” entre os investidores, uma “briga boa”. Tanto é que quem já estava no captable resolveu dobrar a aposta no negócio. Já a escolha do Valor Capital teve a ver com o momento da startup. “A palavra do ano é escalar, queríamos escolher quem tem experiência em escalar fintechs”, diz.

Com o novo cheque, a Agrolend prevê aprimorar a plataforma e seu modelo de crédito, assim como crescer a equipe e aumentar a originação de crédito. Desde o início, a fintech já emprestou R$ 40 milhões para cerca de 230 clientes. A projeção é atingir uma carteira de R$ 1 bilhão e 5 mil clientes até o fim de 2023.

“Nossa cabeça é em cinco anos chegar a 100 mil clientes e cerca de R$ 10 bilhões em carteira, e se transformar numa instituição financeira multiprodutos, com crédito de longo prazo, seguros, conta corrente, cartão de crédito.”

Apesar do plano ser mais de longo prazo, a startup já está pavimentando este caminho. Em setembro do ano passado, recebeu autorização do Banco Central (BC) para ter uma SCD (Sociedade de Crédito Direto), figura que tem permitido à fintech operar crédito com recursos próprios.

Agora, o plano é evoluir de SCD para a licença de financeira, um pedido que será feito em breve ao regulador, diz André. A mudança tem motivo. Ao se tornar financeira, a empresa poderá captar LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), instrumentos garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos) e isentos de IR para investidor pessoa física.

Da esq. para a dir., Carlos Fagundes, Alan Glezer, Valéria Bonadio, André Glezer e Leopoldo Vettor, cofundadores da Agrolend (Divulgação)
Da esq. para a dir., Carlos Fagundes, Alan Glezer, Valéria Bonadio, André Glezer e Leopoldo Vettor, cofundadores da Agrolend (Divulgação)

Em outras palavras, como financeira, a Agrolend poderá levantar recursos via LCA, um papel que pode ser distribuído em plataformas de investimento. “Vai dar escala para a nossa operação, reduzindo custo de captação.”

Hoje, o funding para as operações de crédito vem de um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) que a fintech levantou em outubro, numa captação de R$ 40 milhões a qual atraiu Itaú Asset, Verde Asset e Augme Capital. A ideia é fazer uma nova emissão em breve, podendo ficar entre R$ 40 milhões e R$ 60 milhões, segundo André.

Com atuação em mais de 10 Estados e cerca de 100 municípios pelo país, a Agrolend oferece crédito, sem garantia física, para custeio de safra para diversas culturas, como soja, milho, café, cana, frutas, pecuária de corte e leite.

Para chegar aos produtores, a fintech tem acordos com agroindústrias e revendas de insumos, equipamentos e implementos agrícolas – atualmente, são 35 parceiros e outros 150 estão em processo de onboarding na plataforma.

As operações variam entre R$ 100 mil e R$ 300 mil, com tíquete médio de R$ 200 mil e taxa de juros média de 1,4% ao mês. Os vencimentos dos contratos mudam conforme a cultura de cada produtor, partindo de cinco meses e podendo chegar a até um ano. Trata-se, portanto, de um crédito de curto prazo.

Criada em dezembro de 2020, a Agrolend tem como fundadores, além da dupla André (CEO) e Alan Glezer (CFO), Valéria Bonadio (CRO e CCO), Leopoldo Vettor (CTO) e Carlos Fagundes (Acesso a mercados).

Competição

Num setor que responde por mais de um quarto do PIB brasileiro, a procura por crédito é alta. Grandes bancos, como Banco do Brasil (BB) e Santander, além de sistemas cooperativos (Sicredi e Sicoob, por exemplo), disputam fatias do bolo. “O mercado tem muito mais demanda do que oferta de crédito”, explica André.

A estimativa do empreendedor é que o crédito no agro deve chegar a R$ 600 bilhões nos próximos anos. “Se fizermos 1% disso, são R$ 6 bilhões, e provavelmente crescerá o bolo”, afirma.

Para ele, hoje o principal público carente é o pequeno e médio produtor, enquanto grandes produtores têm oferta de bancos de investimento e empresários de porte muito pequeno acabam sendo atendidos por instituições como BB e Sicredi. Para pequenos e médios, a competição é menor.

É aí que a Agrolend está avançando, mas não sozinha. Também buscam ampliar o bolo nomes como Traive (que captou US$ 17 milhões em outubro), TerraMagna (que acabou de levantar US$ 10 milhões em rodada liderada pelo SoftBank), além de A de Agro, DuAgro (parceria entre a XP Inc. e a securitizadora Vert), Nagro, Bart Digital, entre outras.

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