QueroQuitar levanta R$ 15 milhões em aporte liderado por grupo italiano

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Sabe aquela história de que se há um problema a resolver num mercado endereçável grande, existe oportunidade para startups? A QueroQuitar, fintech especializada em negociação de dívidas, é um exemplo de empresa que desbravou um segmento seis anos atrás para ajudar a solucionar uma grande dor do mercado local: o alto número de brasileiros inadimplentes e com nome sujo na praça.

Em um país com mais de 64 milhões de pessoas e 6 milhões de empresas negativadas, a startup tem uma tarefa e tanto para cumprir sua missão, que é fazer com que cada vez mais brasileiros consigam voltar a viver uma vida sem restrições.

Para dar sequência aos planos previstos no roadmap e preparar o terreno para escalar, a empresa está reforçando o caixa com um aporte de R$ 15 milhões. A rodada foi liderada pela italiana doValue, um grupo especializado em gestão e compra de carteiras, inclusive créditos não performados (NPL, na sigla em inglês) – sob seu guarda-chuva havia um portfólio de 158 bilhões de euros no fim de 2020.

Um reforço de peso que pode ajudar numa possível internacionalização e num plano futuro da QueroQuitar de entrar no mercado de crédito ‘podre’, diz Marc Lahoud, cofundador e CEO da QueroQuitar, ao Finsiders. “Eles são líderes em NPL no Sudeste Europeu. Vamos trabalhar com essa unidade de negócio no futuro”, contextualiza o empreendedor.

O cheque teve, ainda, a participação de novos investidores nacionais e estrangeiros, além de alguns que já estavam no captable. Sem abrir os nomes, Marc diz que a rodada atraiu “alguns investidores sinérgicos, family offices e anjos”.

A nova leva de investidores ‘ocultos’ se soma a um grupo que já tem 500 Startups, Wayra, Bossanova Investimentos e fundo BR Startups (criado pela Microsoft, gerido pela MSW Capital e que tem o banco BV como um dos âncoras).

Com uma base de 57 milhões de devedores – 90% pessoas físicas e o restante, PJ –, a QueroQuitar possui 77 milhões de contratos sob gestão atualmente e mais de R$ 300 bilhões em crédito a recuperar na plataforma. “São números expressivos aos quais chegamos no modelo de marketplace, o mais demorado e custoso”, reconhece o empreendedor.

Marc Lahoud, sócio-fundador da QueroQuitar (Divulgação)
Marc Lahoud, sócio-fundador da QueroQuitar (Divulgação)

Estão plugados na plataforma 32 empresas parceiras, entre eles, Santander, BV, Bmg, Agi, Original, Tribanco, Zema, will bank e outros. Os credores estão distribuídos entre bancos, financeiras, empresas de varejo, utilities, educação e construção civil.

Nos últimos 12 meses, a fintech intermediou cerca de 570 mil negociações, acumulando um valor transacionado de R$ 620 milhões. Já a receita cresceu 200% durante a pandemia, diz Marc.

Com o novo aporte, a ideia é tirar da gaveta alguns projetos engatilhados, sobre os quais ele não dá detalhes. Além das iniciativas já previstas, há outras duas que serão desenvolvidas.

“Um [dos projetos] é voltado para serviços financeiros e outro é para PMEs. Vamos ajudar pequenas empresas a recuperar crédito”, revela o empreendedor.

O recurso servirá para ampliação de times estratégicos, como tecnologia e dados, além de investimento em marketing e comunicação corporativa, com o objetivo de gerar mais ‘awareness’ sobre a marca. Com o cheque na conta, o time já dobrou de tamanho, para 62 pessoas, e deve crescer ainda mais no próximo ano. “Agora, estamos preparando o terreno para escalar.”

Fundada em 2015 por Marc, Alencastro José Silva e Artur Zular, a QueroQuitar foi uma das primeiras a apostar no mercado digital de renegociação de dívidas, no modelo de marketplace, conectando empresas com carteiras a recuperar de um lado e consumidores do outro, sem intervenção humana. Na época, não tinha digital nessa história ainda, lembra Marc.

“A primeira barreira que quebramos foi a exclusividade dos escritórios de cobrança. Depois disso, quebramos a barreira de que os CRMs não gerenciavam mais de uma dívida ao mesmo tempo. E a terceira e última disrupção foi entre 2019 e 2020, indo para mar aberto. Hoje, a gente opera com credores que não têm exclusividade, que usam sistemas de cobrança multiplayers, permitindo que o devedor acesse mais facilmente a dívida.”

Desde 2017, a QueroQuitar é auditada pela EY e no ano seguinte se transformou em uma empresa S.A. “Temos feito um trabalho nos últimos anos de construção de governança”, conta Marc.

O conselho de administração, por exemplo, tem três integrantes – Moisés Swirski, sócio da MSW Capital, que gere o fundo BR Startups; Patrick Teyssonneyre, ex-diretor da Braskem; e Artur Zular, do time de fundadores.

Mercado

Como citei no início da matéria, o mercado de renegociação de dívidas é grande o suficiente para justificar o avanço das fintechs. Mas não só delas. Acordos recentes deixam claro que o segmento também interessa para empresas maiores.

Há um ano, a Boa Vista comprou a Acordo Certo, num deal que pode chegar a R$ 100,6 milhões após a conclusão da operação, conforme cumprimento de metas e outras condições.

Em outubro, foi a vez da Sinqia, provedora de tecnologia para o setor financeiro, embarcar nesse mercado com a aquisição de 51% da empresa curitibana QuiteJá por R$ 38,25 milhões, podendo comprar a fatia remanescente por meio de exercícios de opções de compra em 2024 e 2025.

Estão, ainda, em renegociação de dívidas nomes como BLU365 (antiga Kitado) – que tem apostado mais em compra de carteiras ‘podres’ –, Uffa, emDia (do Santander), Adimplere e outras. Nomes tradicionais, como Recovery (do Itaú), também vêm ampliando o investimento em canais digitais.

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