"Agregadores financeiros vão viabilizar a monetização de dados" diz Campos Neto em evento da DrumWave; projeto está no Congresso

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse hoje (3/11) no 4o. DrumWave Day que a coleta, organização e monetização de dados é uma consequência natural da agenda de inovação proposta pela autoridade monetária. “Em um ano ou dois, vão surgir aplicativos que vão funcionar como agregadores financeiros”, disse. A partir daí, as informações poderão ir para carteiras digitais (wallets), que por sua vez vão viabilizar às pessoas ganharem dinheiro com seus dados. O deputado federal Arlindo Chinaglia, do PT-SP, enviou ao Congresso em 1/11 projeto de Lei Complementar para regulamentar essa prática.

“Os clientes bancários poderão guardar seus dados em uma wallet e trocarem por ativos tokenizados. Esses ativos podem ser tanto a própria moeda digital (o Drex) quanto outros tokens também usados como meios de pagamento”, explicou Campos Neto.

“Nosso objetivo é ampliar o acesso dos cidadãos ao sistema financeiro, promover a competição, aumentar a segurança e reduzir custos”, disse, repetindo a mensagem de sempre. “Dentro de no máximo dois anos todos os blocos devem estar funcionando integrados, e os bancos vão disputar entre si para ser o canal agregador da vida financeira do cliente”. Depois disso, vem a monetização – e é aí que entra a DrumWave.

Campos Neto não foi a Palo Alto, na California, para o evento. Mas enviou um vídeo detalhando para a plateia os quatro blocos da agenda de modernização do mercado financeiro: sistema de pagamentos instantâneo (Pix), compartilhamento de dados financeiros (Open Finance), novo marco cambial e tokenização (Drex).

“Primeira tentativa”

O projeto de Lei Complementar 234/2023 institui a Lei Geral de Empoderamento de Dados. Ele dispõe sobre o Ecossistema Brasileiro de Monetização de Dados, altera a Lei Complementar nº 111, de 6 de julho de 2001, e as Leis nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, nº 10.833, de 29 de dezembro de 200, nº 12.965, de 23 de abril de 2014, e nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, e dá outras providências.

“Esta é a primeira tentativa regulatória para estabelecer direitos de propriedade de dados”, disse o CEO da DrumWave, André Vellozo, durante o evento. “Estamos divulgando a ideia da propriedade de dados pessoais há dois anos e temos muita gente conosco, de feras da tecnologia e bancos centrais; vai ser um grande game changer“, previu.

Napster x Spotify

A ideia da monetização de dados pode ser um pouco difícil de compreender à primeira vista. Mas Vellozo usou uma metáfora simples: “Lembra do Napster (a plataforma de compartilhamento de música que não pagava direito autoral a artista nenhum)? No começo parecia natural, mas a Justiça considerou pirataria e a empresa (e outras similares) foi obrigada a fechar as portas”.

Com isso surgiram plataformas que começaram a pagar direitos para os músicos e cobrar assinaturas dos clientes. No começo parecia loucura, mas acabou pegando e abrindo caminho para outras centenas de plataformas de streaming que usam o modelo. A ideia da DrumWave é ser uma espécie de “streaming” de dados pessoais – e os clientes serão as empresas e bancos que, hoje, os utilizam de graça e ainda ganham dinheiro com eles.

d-Wallet

A d-Wallet, nome da carteira digital de gerenciamento e comercialização de dados da DrumWave, promete oferecer autonomia para os usuários, permitindo que eles possam conectar, armazenar e comercializar seus dados a partir de ofertas simplificadas e gratuitas.

“O ecossistema tem ofertas que combinam casos de uso dos dados, dos negócios e dos pagamentos”, disse Fernando Teles, presidente da DrumWave em junho, segundo o site parceiro Finsiders. “Com a dWallet, os usuários poderão trocar dinheiro por dados e dados por dinheiro, criando um novo paradigma de economia baseada em informações.”

Durante o evento de hoje, 14 especialistas se revezaram no palco, entre eles o futurista Brett King e o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco.