A crise das startups e empresas de tecnologia ganhou um novo capítulo, talvez o mais emblemático de todos, com o fechamento do Silicon Valley Bank (SVB). Conhecida como “banco das startups”, a instituição quebrou após três dias turbulentos com uma corrida de startups e investidores para tirar dinheiro do banco e, ao mesmo tempo, a busca desesperada do SVB por capital.
Conforme reportou o “The Wall Street Journal”, essa foi a segunda maior falência bancária da história norte-americana e a maior desde a crise financeira global de 2008, conhecida como “crise do subprime”. Segundo o Federal Reserve, o Silicon Valley Bank era o 16º maior banco dos EUA, com aproximadamente US$ 209 bilhões em ativos totais ao final de 2022.
Na sexta-feira (10), o SVB sofreu a intervenção do Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia, que nomeou como receptora o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) — instituição que garante os depósitos no mercado norte-americano.
Em comunicado, o FDIC informou que, para proteger os depositantes segurados, criou o Deposit Insurance National Bank of Santa Clara (DINB). Além disso, a agência garantidora transferiu imediatamente para essa instituição todos os depósitos segurados do Silicon Valley Bank.
Segundo o FDIC, todos os depositantes terão acesso aos recursos depositados até segunda-feira (13). Clientes com contas acima de US$ 250 mil devem entrar em contato gratuitamente pelo número 1-866-799-0959. O FDIC pagará aos depositantes não segurados um dividendo antecipado na próxima semana.
Já os depositantes não segurados receberão um certificado de liquidação pelo valor restante de seus fundos não segurados. Como o FDIC vende os ativos do Silicon Valley Bank, futuros pagamentos de dividendos podem ser feitos a depositantes não segurados, informou o órgão.
“O FDIC, como receptor, reterá todos os ativos do Silicon Valley Bank para disposição posterior. Os clientes de empréstimos devem continuar a fazer seus pagamentos normalmente”, diz o comunicado.
Com 17 filiais na Califórnia e em Massachusetts, o SVB tinha aproximadamente US$ 209,0 bilhões em ativos totais e cerca de US$ 175,4 bilhões em depósitos totais em 31 de dezembro de 2022. No momento do fechamento do banco, o valor dos depósitos excedentes aos limites do seguro era indeterminado, informou o FDIC. O valor dos depósitos não segurados será determinado assim que o órgão obtiver informações adicionais do banco e dos clientes.
A ponta do iceberg?
O encerramento das operações do SVB ocorre depois de uma semana em que o banco predileto das startups e empresas de tecnologia anunciou uma tentativa de captar US$ 2,25 bilhões por meio de uma oferta pública de ações e aporte de investidores como a General Atlantic, depois de sofrer perdas de US$ 1,8 bilhão com sua carteira de títulos do Tesouro norte-americano.
Depois de caírem mais de 60% na quinta-feira, as ações do Silicon Valley Bank ampliaram a queda no início do pregão de sexta-feira até que as negociações do papel foram suspensas. Ao longo do dia, sua controladora, o SVB Financial Group, chegou a buscar um comprador para as operações, conforme reportaram diversos veículos, mas não deu certo.
A quebra do SVB ligou um sinal de alerta para o setor financeiro e para o ecossistema de startups no mundo todo. O caso escancarou o problema de liquidez que, na visão de analistas, pode afetar outros bancos, em meio ao cenário de juros altos. A dúvida é qual a magnitude do contágio no sistema financeiro dos EUA.
A falência do banco das startups ocorre, ainda, na mesma semana em que o Silvergate também decidiu encerrar as operações. Conhecida como “banco cripto”, a instituição tinha relação com a corretora de criptomoedas norte-americana FTX, que faliu no fim do ano passado.
Já o SVB foi fundado em 1983, nos primórdios do mercado de venture capital global, e desde então vinha sendo uma das principais alternativas de serviços financeiros para startups. Conforme mostrou o portal parceiro Startups, o banco atuava com startups da América Latina desde 2012 oferecendo serviços como conta bancária, transações internacionais, cartão, empréstimos, entre outros. Até o ano passado o relacionamento dessas empresas com a instituição era responsabilidade da brasileira Júlia Figueiredo, que agora está no fundo Partners for Growth.
Startups que recebem aportes de fundos estrangeiros precisam ter estruturas jurídicas e financeira fora do Brasil para receber os recursos. É o famoso sanduíche, um formato que envolve a empresa no Brasil, uma empresa em Cayman e uma entidade em Delaware (EUA).
Com o colapso do SVB, players brasileiros que oferecem serviços de remessas internacionais e câmbio para startups, como Trace Finance e Abrão Filho, têm feito um esforço para apoiar os então clientes do banco norte-americano.
*Com informações do portal parceiro Startups.
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