Por Marcos Weigt*, exclusivo para o Finsiders
Nos últimos anos, as startups têm chamado a atenção dos consumidores, principalmente as fintechs. Por meio do uso de tecnologia, elas trazem inovação, agilidade e acessibilidade aos usuários, reduzindo burocracias, diminuindo ou até eliminando taxas de transação. Assim, barateiam custos de produtos e serviços, conseguindo atrair um número maior de clientes.
O crescimento dessas pequenas empresas com grande capital intelectual e tecnológico depende de suporte financeiro. É aí que entra o protagonismo dos investidores. Com a injeção de capital, é possível que elas cresçam, ganhem escalabilidade do negócio, contratem bons desenvolvedores e entreguem suas soluções como prometem no pitch. Essa dependência gera, então, uma forte relação entre a fonte de financiamento e a taxa básica de juros de um país.
O processo de decisão de investimento em uma startup leva em conta a taxa livre de risco, a qual compreende o valor possível de aplicação com um retorno de investimento de menor risco possível. Uma fintech precisa apresentar crescimento expressivo para atrair investidores qualificados.
Estímulo à economia
Analisando o mercado nos últimos anos, é possível relacionar taxas de juros com o crescimento das fintechs. Atravessamos um momento de forte estímulo à economia em 2020 e 2021 em todo o mundo. Com isso, foram adotadas políticas monetárias expansionistas, baixas taxas de juros incentivando o consumo, aquecendo a economia e, consequentemente, beneficiando as empresas financeiras.
No Brasil, a Selic ficou entre 2% e 2,75% neste período, o que alavancou a captação e capacidade de gerar caixa dentro das startups. Conforme dados de um levantamento realizado pela Distrito, em 2021 foram captados um total de US$ 9,78 bilhões por startups brasileiras. No entanto, quando a taxa cresceu e se firmou em 13,75% em 2022, o impacto à saúde financeira do setor foi evidente — startups unicórnios protagonizando demissões em massas e outras até mesmo perdendo valor de mercado.
Queda nos investimentos
Dados recentes levantados pela Sling Hub também elucidam a relação da alta taxa de juros com a saúde financeira do segmento. Em abril deste ano, as fintechs brasileiras obtiveram US$ 40 milhões em investimento: uma queda de 70% em comparação ao mesmo período de 2022.
Este efeito não é uma particularidade do Brasil. Ainda segundo o mesmo levantamento, startups financeiras da América Latina registraram uma queda de 31% em investimentos recebidos em abril de 2023, comparado com o ano anterior — consequência também do baixo apetite ao risco de investidores e alta de juros.
Já nos Estados Unidos, de acordo com o Refinity Venture Capital Index, índice que mensura o valor das empresas de venture capital dos EUA, a queda da taxa de juros americana (FED Founds) em 0.25% a.a fez com que o investidor repensasse sua aversão ao risco, o que colaborou para uma alta deste índice, que no pior momento da pandemia chegou a 8.071 pontos e com a queda dos juros subiu para 24.600 pontos.
Em 2021, quando alguns indicadores inflacionários começaram a surgir, o mercado começou a ter uma expectativa de que haveria um ciclo de aperto monetário pelo banco central americano e, consequentemente, houve uma queda deste mesmo índice de 24.600 para 13.160 pontos.
Quem investe em startups, portanto, precisa ver um grande potencial para compensar o risco do investimento. Dessa forma, o setor que depende de grandes tubarões assinando cheques está fadado a se adaptar aos períodos de aceleração e desaceleração na economia.
*Marcos Weigt é head da tesouraria do Travelex Bank.
As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
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