Como a Nuclea (antiga CIP) quer crescer com as startups

A provedora de infraestrutura bancária e de pagamentos Nuclea acaba de lançar a terceira edição do seu programa de inovação aberta

A provedora de infraestrutura bancária e de pagamentos Nuclea (que até um tempo atrás você conhecia como CIP) quer se posicionar cada vez mais como uma ‘tech company’.

Numa estratégia que ganhou corpo no ano passado, com a transformação de associação sem fins lucrativos para uma S.A. de capital fechado, a companhia vem diversificando seus negócios e apostando nas conexões com o ecossistema para crescer em áreas como dados e tokenização de ativos.

“Estamos focando bastante em inovação aberta. Temos capacidade de construir sozinhos, mas a que preço e que prazo, se podemos pegar um ‘atalho’?”, questiona Raphael Mielle, gerente-executivo de inovação da Nuclea, em entrevista exclusiva ao Finsiders.

Ele chegou à empresa no início de 2020 com a missão de desenvolver a área de inovação da então CIP, depois de ter atuado na Hypera Pharma (antiga Hypermarcas) e no fundo de venture capital Kick Ventures.

Uma das frentes de aproximação com o ecossistema de startups e fintechs é o programa de inovação aberta, que se chamava InovaCIP e acaba de ser rebatizado de FAVO, com o intuito de reforçar a estratégia da “nova CIP” de trabalhar em comunidade. “A ideia é construir junto com as startups, com o objetivo de transformar piloto em produto final”, aponta Raphael.

A iniciativa está na terceira edição. Nas duas primeiras, foram mais de 400 startups mapeadas, um total de 99 inscritas, que resultaram em cinco pilotos e no primeiro aporte — um cheque de valor não revelado em troca de uma participação minoritária na fintech Klavi, plataforma SaaS que oferece soluções de Open Finance.

“Na época, testamos a solução deles de motor de crédito com um banco cliente nosso, o piloto foi exitoso e acabamos entrando na rodada de investimento deles”, relembra o executivo.

Dados, dados e dados

Para o novo “batch” do programa, a Nuclea vai em busca de startups e scale-ups que tenham soluções para os desafios de “marketplace para produtos de crédito, cobrança e fraudes”; “autorização de uso de dados”; e “gestão financeira para empresas”. Segundo Raphael, a edição deste ano tem como foco o tema “dados”, considerado extremamente estratégico para a empresa, que centraliza 100% dos boletos no Brasil e movimentou R$ 19 trilhões no ano passado.

“Estamos sentados numa ‘mina de ouro’ e precisamos de ‘picaretas’ para mexer nisso tudo”, brinca o executivo. “Ninguém tem acesso a tantos dados como nós. E agora que terminamos os ‘data lakes’ e regras de sandbox, estamos prontos para acelerar empresas que usam dados.”

O objetivo do programa de inovação aberta da Nuclea é estimular as startups a fazer negócios com a empresa. O relacionamento pode evoluir para uma parceria comercial ou mesmo um investimento, como ocorreu com a Klavi. Mas não é uma regra, até porque a Nuclea considera que um dos diferenciais da sua iniciativa é que ela pode aportar três tipos de capital: relacional, intelectual e financeiro. “O principal atrativo é o conhecimento que temos do setor e o relacionamento com o mercado.”

A expectativa é que sejam escolhidas uma ou duas empresas por desafio. O foco são startups que já tenham um produto rodando e, de preferência, com faturamento. “Não olhamos para PowerPoint, precisa ter algo desenvolvido”, diz Raphael. “Podemos, inclusive, construir uma solução em conjunto. Dificilmente, a startup sairá do programa sem um relacionamento conosco.”

Investimentos, M&A e parcerias

Por meio do seu programa de Corporate Venture Capital (CVC), inaugurado em 2022, a Nuclea procura negócios que possam complementar seu portfólio de soluções, com foco em quatro pilares: pagamentos, cibersegurança, dados e ativos. “Em pagamentos, por exemplo, olhamos para trilhas em que não atuamos hoje, como o Pix”, exemplifica Raphael.

Segundo o executivo, a ideia do CVC é apoiar o crescimento das investidas ao ponto de aumentar a participação no futuro ou até evoluir para uma aquisição. A frente de M&A, aliás, começa a ganhar força, independentemente dos negócios que passam pelo programa de CVC.

No início de março, por exemplo, a Nuclea anunciou a compra de 100% da registradora CRT4 (pronuncia-se “Certa”), que oferece serviços de registro de ativos financeiros como CDBs, RDBs, letras de câmbio e registro de valores mobiliários, como derivativos — algo que hoje a Nuclea não faz.

Já em outro movimento, a companhia se tornou sócia da BEE4, uma espécie de “bolsa” de ações tokenizadas de pequenas empresas que faz parte do sandbox regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O investimento ocorreu por meio de debêntures conversíveis em ações que representam participação de 50% no negócio.

Recentemente, a Nuclea fechou uma parceria com a Nota Registrada, especializada em conciliação mercantil e financeira, para oferta de um serviço de registro de duplicatas e demais direitos creditórios. Já no ambiente de inovação, a companhia passou a ser mantenedora do Acelera Next, programa de aceleração para fintechs criado pela Fenasbac. “Estamos desenvolvendo pilotos com duas empresas, uma na frente de tokenização e outra na área de dados”, informa Raphael.

Inovar é preciso

A Nuclea não é a única infraestrutura do mercado financeiro a apostar no investimento em startups para acelerar a entrada em novas áreas. Há um ano, a B3 anunciou o lançamento do L4 Venture Builder, fundo com R$ 600 milhões para aportes em startups que tragam inovação ao ‘core business’ da empresa. De lá pra cá, foram três cheques assinados: Parfin, Bridgwise e Vermiculus.

Em outra frente, desde 2021, a companhia já divulgou duas aquisições: Neoway e Neurotech. Ambas fazem parte da estratégia de diversificação de receitas da B3, com ênfase em dados e analytics.

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