Mesmo com juros altos, Inco prevê captar R$ 300 milhões em 2023

Na estratégia para avançar, a Inco quer estender sua atuação para setores como agronegócio, energia solar e mobilidade

O interesse crescente de um número maior de pessoas e a democratização do acesso à informação foram determinantes para o enorme salto do mercado de investimento nos últimos anos, num movimento que ajudou a impulsionar aplicações financeiras alternativas. Nesse ambiente, players como a Inco, uma plataforma de investimentos coletivos, tiveram mais espaço para crescer e se consolidar.

Fundada há cinco anos, a fintech faz a ponte entre investidores pessoas físicas com capital e companhias em busca de aportes para alavancar seus negócios. Desde que obteve a autorização do Banco Central para operar como Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), há cerca de um ano, a plataforma passou a estruturar captações maiores, com garantia real.

“Em termos de volume, antes [as captações] ficavam entre R$ 3 milhões a 5 milhões. Agora, os contratos chegam a R$ 40 milhões”, diz Daniel Miari, cofundador da Inco, em conversa com o Finsiders.

Até abril de 2022, quando Daniel conversou pela última vez com o Finsiders, a Inco acumulava R$ 220 milhões captados de 10,5 mil investidores, além de 37,5 mil cadastros (os potenciais futuros investidores). Os recursos eram todos sem garantia real.

Cenário bem diferente da realidade atual: dos R$ 385 milhões captados de 21,5 mil investidores, 50% são com garantia. Há, ainda, 90 mil cadastros. “Foi um crescimento bacana. Considerando todo o cenário de aumento dos juros, o ano passado foi muito bom”, diz Daniel.

Em março, a perspectiva é encerrar o mês com R$ 390 milhões captados, para alcançar os simbólicos R$ 400 milhões ao final de abril. Em 2023, a meta da fintech é fazer R$ 300 milhões em novas ofertas, ou seja, 78% do resultado conquistado até então. E atrair 100 mil cadastros, com entre 40 mil a 45 mil de pessoas aplicando de fato até dezembro.

Daniel Miari, cofundador da Inco. Foto: Divulgação
Daniel Miari, cofundador da Inco. Foto: Divulgação

Na estratégia para avançar, a empresa quer estender sua atuação, concentrada no mercado imobiliário, para o agronegócio, energia solar e mobilidade. “Alguns novos mercados devem sair já no primeiro semestre”, afirma o empreendedor, sem entrar em detalhes.

Aliás, a empresa já estruturou ofertas para a Provi, fintech que oferece crédito para financiamento estudantil, e para a Bossanova Investimentos, um de seus investidores ao lado de Primo Rico e Araújo Fontes.

Cenário atual

De acordo com o executivo, mesmo com a Selic no patamar atual de 13,75% ao ano e a perspectiva de manutenção no patamar dos dois dígitos pelo menos até 2024, os usuários mantêm os aportes. Como o valor mínimo é de apenas R$ 500, a pessoa pode reduzir o investimento, mas continua investindo, explica Daniel.

Os cheques variam bastante. Há quem invista também R$ 1 mil, R$ 10 mil ou R$ 5 mil, até investidores que já colocaram R$ 10 milhões. Com o aumento da base ano a ano, é natural que um grupo maior de pessoas investisse menos. Dessa forma, o ticket médio na Inco foi caindo de forma gradativa. Em 2019, era R$ 100 mil por investidor; em 2020, R$ 60 mil; e, em R$ 2021, R$ 30 mil. Hoje, o ticket médio está em R$ 18 mil.

Ele acredita, porém, que esse patamar pode aumentar nos próximos meses. A razão é simples: quanto mais tempo o usuário permanece na plataforma, mais ele investe. Mas faz uma importante ressalva.

“Não somos o lugar para a pessoa aplicar todo o capital. Ele pode investir 5%, 10% ou 20% de forma diversificada, em diferentes projetos”, afirma Daniel, lembrando uma recomendação importante de especialistas a respeito de investimentos de risco.

Enquanto o mercado de tecnologia é tomado por uma onda de layoffs, a Inco deseja adicionar mais 10 colaboradores ao time para ganhar escala, entre posições em tech, marketing, operações, análise de crédito e comercial. “Na crise, é preciso tomar cuidado e ter atenção, mas também há muitas oportunidades”, diz o fundador.

Mercado

De maneira gradativa, as plataformas de financiamento coletivo vão se espalhando pelo país. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entre 2020 e 2021, as plataformas de crowdfunding em funcionamento passaram de 32 para 54. Os dados consolidados referentes a 2022 serão divulgados em breve, informou a autarquia.

Apesar do modelo de equity-crowdfunding, focado em startups, ser o mais popular do mercado, iniciativas para investimentos alternativos também vêm ganhando espaço. Além da Inco, há players como Bloxs, Hurst e Ice Capital, por exemplo.

Com operação via SEP — e, portanto, sob a regulação do Banco Central — atualmente existem 11 instituições, incluindo nomes como Bulla, Crednovo, Nexoos e Mova. Quem também resolveu ingressar no segmento é a Oppens, uma SEP que recebeu autorização para operar em novembro de 2022 e deve começar a empreitada ainda neste semestre.

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