Artigo: Feeder funds e a indústria do Venture Capital

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Por Maurício Carmagnani*, exclusivo para o Finsiders

Será que ainda existe apetite para investimentos de alto risco no Brasil? A indústria de Venture Capital no Brasil vem provando que sim.

De acordo com Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), na consolidação de dados da indústria, o volume de investimentos em Venture Capital em 2021 foi de R$ 46,5 bilhões, três vezes mais do que os R$ 14,6 registrados em 2020.

As taxas de juros baixas favoreciam tal investimento na busca por uma remuneração mais interessante apesar dos riscos a ela atrelada. Executivos, profissionais liberais, family offices e até estudantes — não existia um perfil –, todos começaram a investir nas startups, via Venture Capital.

Na sua maioria, esses investimentos foram feitos por meio de gestores de Venture Capital que se multiplicaram nos últimos anos, no mesmo ritmo de expansão da base de investidores.

A mídia teve sua parcela de incentivo a essa modalidade de investimento com a cobertura e divulgação dos casos de sucesso. Os tão falados unicórnios, empresas que atingem uma avaliação de US$ 1 bilhão, se multiplicaram no Brasil.

Em 2021, 11 empresas se tornaram unicórnios, com isso chegamos a 21 no País todo, segundo a empresa de inovação Distrito. O portfólio é impressionante e a diversidade também. O que mais impressiona é o que ainda vem por aí: 13 empresas estão cotadas para se tornarem unicórnios em 2022.

Uns dizem que o Brasil, país em desenvolvimento, de grande extensão territorial, população acima de 200 milhões de pessoas, e uma burocracia notória, é o perfeito ambiente para ideias disruptivas se tornarem negócios de sucesso.

A carência de serviços e investimentos públicos em diversas áreas traz à tona a necessidade de inovar. Assim, não podia ser diferente. O Brasil hoje é uma grande fábrica de negócios inovadores que atraem investidores e gestores de toda parte.

E como os gestores brasileiros estão fazendo para atrair capital estrangeiro para apoiar essa explosão de startups? Qual a história que os gestores estrangeiros contam para garantir um mandato de investimentos no Brasil?

O cenário atual mostra o desafio do lado dos gestores de fora. De acordo com levantamento do VC Radar Brasil 2021, realizado pela Emerging Venture Capital Fellows, atualmente 87% dos gestores são locais e 13% estrangeiros.

Uma coisa é o investidor entrar no risco do negócio, outra é somar também o risco-Brasil (cambial e tributário). Sendo assim, esses gestores precisam constituir estruturas internacionais para acomodar essa gama de investidores que se sentem mais confortáveis em aportar seus recursos em veículos de investimentos em jurisdições nas quais já são familiarizados. Essa prática já é bastante utilizada pelos gestores de Private Equity, locais e globais.

Os chamados ‘feeder funds’, estruturas no exterior que recebem os recursos de investidores de fora do Brasil, estão atualmente em alta no Canadá, na província de Ontário. Porém, outras jurisdições como EUA, no estado de Delaware, Ilhas Cayman, e Luxemburgo, permanecem no radar dos gestores.

Cada uma dessas jurisdições possui particularidades que atraem esse tipo de fundo. Seja pela facilidade e rapidez de colocá-la em pé, por preço, pela não exigência do gestor possuir presença local ou pela reputação. Além disso, se o gestor possui um investidor âncora, e esse sinaliza sua preferência, as chances da estrutura do feeder fund acabar sendo criada lá, é praticamente certa.

Definido o país do fundo, o gestor tem que garantir os prestadores de serviços que irão manter o mesmo funcionando e em linha com a regulamentação local. E como qualquer outra indústria, a gama de empresas que prestam esse serviço varia dos pequenos escritórios, até as grandes multinacionais com presença em muitos países.

Outro desafio é, ao concluir a estruturação do feeder fund, abrir uma conta corrente em um banco no exterior para ele. Muitos gestores não sabem por onde começar, mas o que eu sempre recomendo é tentar usar o relacionamento bancário já existente no Brasil, para conseguir uma aproximação com bancos no exterior.

Outra boa alternativa é um dos bancos mais envolvidos com o mundo de Venture Capital e de startups, o Silicon Valley Bank (SVB). Com essa etapa superada, a hora é começar ou dar continuidade ao roadshow de captação mundo afora — fase essa que traz conteúdo suficiente para um artigo dedicado.

O próximo passo é aproveitar esses recursos no exterior nos feeders para expandir as teses de investimentos para os países da América Latina. Região na qual já se mostrou bastante atraente e com alguns casos de sucessos.

*Mauricio Carmagnani é diretor de serviços financeiros da TMF Group, multinacional de serviços administrativos.

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.

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Conteúdos produzidos por jornalistas do Finsiders e artigos exclusivos de executivos e especialistas no setor financeiro

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