Blockchain para além das criptomoedas

Blockchain tem potencial para revolucionar a maneira como realizamos transações e contratos, analisam João Gianvecchio e Caroline Capitani

Por João Gianvecchio e Caroline Capitani*, exclusivo para o Finsiders
O mercado de criptoativos está se tornando cada dia mais promissor, chamando a atenção de empreendedores, entidades representativas e entusiastas em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden está preparando o seu plano de orçamento fiscal para 2024, no qual pretende modificar as regras de impostos sobre criptomoedas. Com isso, a expectativa é arrecadar US$ 24 bilhões. O Parlamento Europeu, por sua vez, já aprovou a Lei dos Mercados Criptoativos, conhecida como MiCA, que tem como principal objetivo definir um padrão regulatório comum e estabelecer regras harmonizadas para o mercado e indústria de criptoativos na União Europeia.

Diante deste cenário, não há dúvidas de que a adoção de criptoativos por empresas do setor financeiro é uma grande oportunidade para a disrupção desses modelos de negócios. No entanto, está na hora de pensar além do “hype” em torno de cripto e explorar, efetivamente, as possibilidades de utilização para inovação financeira. No Brasil, embora essas tecnologias ainda estejam nos estágios iniciais, já há avanços possíveis e excelentes perspectivas de futuro.

Assim como o streaming transformou a forma como a sociedade contemporânea consome música, filmes e séries, a tecnologia blockchain tem potencial para revolucionar a maneira como realizamos transações financeiras e contratos. De acordo com uma pesquisa realizada em 2022 pelo Gartner, a adoção da blockchain pode levar a reduções significativas de custos, especialmente em áreas como logística e finanças – com potencial de economia de até 30%. Sabemos que esse impacto em infraestrutura, combinado com a rastreabilidade, transparência e descentralização, pode trazer consequências muito interessantes para o mundo dos negócios.

Tokenização

Se mostrando cada vez mais relevante e disruptiva, a tecnologia blockchain possui a capacidade de criar um registro seguro e descentralizado não apenas das transações, como também das informações. Neste sentido, temos outro tema importante, a tokenização. Ou seja, o processo de transformar um ativo em um token digital, que pode ser negociado e transferido 100% por meio da blockchain. Em outros termos, isso significa que nós temos o poder de trazer ativos do mundo físico para o online.

Um ótimo exemplo de aplicação da tokenização é o case da Nasdaq Link, ferramenta que utiliza blockchain para emitir e negociar ações de empresas privadas, permitindo que os investidores comprem e vendam ações diretamente na plataforma, reduzindo custos e aumentando a eficiência. Sendo assim, podemos afirmar que a tokenização garante não apenas acessibilidade e agilidade, como também transparência e segurança. Além disso, permite a eliminação dos intermediários, tornando a negociação mais acessível globalmente.

“Data Supply Chain”

Outro conceito importante é o “Data Supply Chain”, ou cadeia de suprimentos de dados, que se refere à gestão e ao fluxo de informações – coletando, armazenando, processando, analisando e compartilhando dados –, com o principal objetivo de suportar os processos de negócios, sendo essencial para as tomadas de decisões das organizações.

Tradicionalmente, as empresas coletam materiais de diversas fontes, armazenam em um ou mais bancos e utilizam ferramentas de análise para obter insights. No entanto, essa abordagem, muitas vezes, resulta em informações limitadas e/ou desatualizadas, assim como dificulta a colaboração entre equipes.

Caroline Capitani, da ilegra, e João Gianvecchio, do banco BV. Fotos: Divulgação
Caroline Capitani, da ilegra, e João Gianvecchio, do banco BV. Fotos: Divulgação

Com o “Data Supply Chain”, que possui uma abordagem integrada e colaborativa para gerenciamento de dados, é possível ter uma visão holística e em tempo real. Isso porque ele se baseia em tecnologias avançadas, como big data, machine learning e inteligência artificial. No mercado financeiro, é particularmente importante, pois este é um setor que lida com uma enorme quantidade de informações sensíveis e confidenciais. Com uma gestão adequada, pode também ajudar as empresas a gerenciar melhor seus riscos e tomar decisões mais informadas e assertivas.

Um ótimo exemplo de combinação de blockchain com “Data Supply Chain” é o JP Morgan, líder mundial em serviços financeiros e a terceira maior empresa do mundo. A instituição implementou a ferramenta Liink para melhorar a eficiência e a transparência das transações interbancárias. A plataforma permite, ainda, que os bancos participantes compartilhem informações em tempo real, aumentando a velocidade, segurança e melhorando a eficiência do setor financeiro.

Integração entre tecnologias

Não há dúvidas de que a blockchain é uma das tecnologias mais disruptivas da atualidade, sendo capaz de revolucionar modelos de negócios e setores inteiros. Quando combinada com a internet das coisas (IoT) e inteligência artificial (IA), seu potencial se torna ainda maior. Juntas, elas podem criar um ecossistema no qual os dados são compartilhados de maneira totalmente segura e transparente.

Um exemplo prático de como essas tecnologias podem trabalhar juntas é no setor da saúde. A IoT coleta os dados de pacientes como batimentos cardíacos e pressão arterial, e as informações são armazenadas na blockchain de forma segura e imutável. Na prática, isso permite aos profissionais da área terem acesso a um histórico médico completo e preciso. Depois, a IA é utilizada para analisar as informações já existentes e ajudar os médicos a criar planos de tratamento personalizados para cada paciente, facilitando um atendimento mais ágil e eficiente.

Já no setor financeiro, a blockchain pode ser utilizada para criar uma rede de pagamentos mais segura e rápida, enquanto a IA analisa transações financeiras e detecta possíveis fraudes, aumentando a segurança do sistema.

Analisando o cenário, é empolgante perceber o quanto as próximas décadas serão promissoras para aqueles que estão dispostos a investir e explorar ao máximo o potencial dessas tecnologias. Portanto, é essencial estarmos preparados para essa revolução tecnológica. Como disse William Gibson, escritor de ficção científica mais influente da segunda metade do século XX, “o futuro chegou, só ainda não está uniformemente distribuído”.

*João Gianvecchio é gerente de inovação do banco BV e Caroline Capitani é vice-presidente de inovação e digital design da ilegra, empresa de design, inovação e software. 

As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.

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