Por Carolina Rocha*, exclusivo para o Finsiders
Nos diversos palcos, foram abordados temas como: os aprendizados e as perspectivas após os cinco anos da concepção do Open Banking, ‘embedded finance’, pagamentos cross-border, sustentabilidade e, claro, inteligência artificial (IA).
Diferentemente da edição anterior, neste ano temáticas sobre criptomoedas e tecnologia blockchain estiveram em baixa entre os painéis de discussões. Possivelmente devido ao cenário atual de retração de negócios, bem como de incertezas quanto a marcos regulatórios.
Muitos players de peso, entre eles o segmento de venture capital, estão reduzindo os projetos e investimentos neste setor aguardando uma maior clareza sobre a regulação e o futuro dessa indústria para criação de produtos viáveis.
IA, o trending topic da Money 20/20 Europe 2023
Definitivamente, a área que atraiu mais atenção dos participantes do Money 20/20 foi a de IA, com fintechs e líderes bancários procurando aproveitar o potencial da tecnologia enquanto avaliam os riscos de sua aplicação.
O tema ainda se encontra em estágio bem embrionário dentro do segmento financeiro, pois como tudo que envolve pagamentos e dinheiro, é necessário grande precisão das ferramentas tecnológicas — o que ainda está sendo questionado no ambiente de IA e se torna um ponto crítico para a indústria financeira.
Foram realizadas, inclusive, inúmeras discussões e demonstrações sobre o tema que destacaram o potencial transformador das ferramentas nos aspectos de experiência do cliente, prevenção de fraudes, gerenciamento de riscos, entre outros.
![Carolina Rocha, consultora de marketing sênior do Bexs. Foto: Divulgação](https://finsidersbrasil.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Carolina-Rocha-e1687021944938.png)
Uma das demonstrações, por exemplo, que gerou maior engajamento no evento foi do aplicativo Cleo, que funciona como um chatbot ou assistente virtual. Integrado às contas do usuário e com acesso aos seus dados, via machine learning, é capaz de oferecer um atendimento ultrapersonalizado, controle de gastos, recomendações customizadas, entre outros recursos. Tudo acontece em um ambiente de chat intuitivo e descontraído, com uso de gifs e emojis, o que promete engajar especialmente usuários da geração Z.
Além disso, um dos palestrantes também mostrou como sua empresa planeja inserir o ChatGPT no call center para resumir as chamadas ocorridas entre agentes e clientes. Ele comentou, ainda, que esse processo eliminou a necessidade de fazer anotações durante as chamadas como parte dos primeiros testes. O lançamento será em breve.
Evolução do Open Banking
Após cinco anos da concepção do Open Banking, vários questionamentos e promessas sobre os rumos deste sistema foram pautados. Agora expandido para o termo Open Finance, o conceito central deste sistema em constante evolução trata do compartilhamento de dados entre diferentes instituições. O objetivo é criar ofertas sob medida e outros tipos de customização que otimizem a jornada dos clientes.
Há uma expectativa de evolução do termo para “Open Data”. Assim, esse sistema não abarcaria somente o setor financeiro, mas seria ampliado para seguros, saúde, pensões, impostos, entre outros.
Componentes de dados e IA, aliás, estão mais conectados do que nunca e têm efeitos transformadores nas operações bancárias, na experiência do cliente, na gestão de riscos e na tomada de decisões estratégicas.
Os palestrantes continuaram a enfatizar, ainda, como as organizações devem aproveitar os dados para entender o comportamento do cliente, identificar padrões, prever tendências de mercado e personalizar serviços. Porém, muitos apontaram alguns desafios para as iniciativas de Open Finance, tais como o acesso aos dados devido às limitações regulatórias, bem como a falta de confiança dos clientes para o consentimento da liberação dos seus dados.
O responsável por Open Banking e APIs da Accenture enfatizou alguns pontos e ações necessárias para um crescimento sustentável do modelo, como a atualização da base regulatória para incentivar este ambiente, que em geral tem sido lenta mundialmente. Ele mencionou que Reino Unido, Brasil e Austrália estão mais avançados no tema do Open Finance e sobre a necessidade de que os reguladores ao redor do mundo colaborarem entre si.
Além disso, é necessário criar ações para educação e conscientização dos clientes, a fim de trazer maior confiança e incentivar adoção, assim como criar um ambiente colaborativo para fintechs com apoio de diversos setores para o efetivo desenvolvimento do ecossistema.
‘Embedded finance’ e banking as a service (BaaS)
Outro tema bastante abordado entre os painéis da Money 20/20 foi o crescimento do ‘embedded finance’. Na prática, essa tendência significa embutir serviços financeiros em plataformas de setores diversos, como varejo por exemplo, sem deixar o negócio core de lado, mas oferecendo de uma maneira complementar.
Por meio de uma integração com um provedor de banking as a service (BaaS), por exemplo, um varejista é capaz de oferecer serviços que anteriormente eram ofertados somente por bancos. Este já era um modelo aplicado no Brasil com os cartões de crédito das lojas de departamento, mas o conceito vem avançando mundialmente e se tornando mais tecnológico e sem fricção por meio de integrações de APIs. Outra vantagem deste modelo, em geral, é democratizar o acesso de serviços financeiros para os consumidores, sendo assim um concorrente para os bancos tradicionais.
Colaboração
As discussões enfatizaram, ainda, a importância de parcerias entre instituições financeiras tradicionais e neobanks. A colaboração entre as duas entidades pode levar a resultados mutuamente benéficos. Assim, os bancos tradicionais obtêm acesso a tecnologias inovadoras, enquanto os neobanks podem aproveitar as bases de clientes existentes e o conhecimento regulatório das instituições tradicionais. Dessa forma, varejistas e empresas de tecnologia tendem a ser beneficiados por essa complementariedade de expertises.
Por fim, mais uma vez o evento trouxe novas discussões e questionamentos para indústria financeira, que serão desdobrados nos próximos meses e anos. De fato, muitos desafios e mudanças estão ocorrendo com destaque para IA, mas em todos os casos há uma extrema necessidade de colaboração entre governos, reguladores, bancos e fintechs para a construção de um ambiente sustentável e benéfico para clientes e empresas.
*Carolina Rocha é consultora de marketing sênior do Bexs, banco de câmbio.
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