Money 20/20: os destaques de um dos maiores eventos de fintechs

A edição Europa deste ano do Money 20/20 reuniu os maiores players globais em Amsterdã em junho. Carolina Rocha, do Bexs, conta os detalhes

Por Carolina Rocha*, exclusivo para o Finsiders
A edição europeia da Money 20/20 ocorreu de 6 a 8 de junho em Amsterdã, na Holanda. Com cerca de 8 mil participantes de mais de 90 países, o evento trouxe expositores já consagrados, assim como uma grande quantidade de novas marcas atuando no segmento para desenhar as principais tendências do ecossistema de pagamentos e fintechs mundial.

Nos diversos palcos, foram abordados temas como: os aprendizados e as perspectivas após os cinco anos da concepção do Open Banking, ‘embedded finance’, pagamentos cross-border, sustentabilidade e, claro, inteligência artificial (IA).

Diferentemente da edição anterior, neste ano temáticas sobre criptomoedas e tecnologia blockchain estiveram em baixa entre os painéis de discussões. Possivelmente devido ao cenário atual de retração de negócios, bem como de incertezas quanto a marcos regulatórios.

Muitos players de peso, entre eles o segmento de venture capital, estão reduzindo os projetos e investimentos neste setor aguardando uma maior clareza sobre a regulação e o futuro dessa indústria para criação de produtos viáveis.

IA, o trending topic da Money 20/20 Europe 2023

Definitivamente, a área que atraiu mais atenção dos participantes do Money 20/20 foi a de IA, com fintechs e líderes bancários procurando aproveitar o potencial da tecnologia enquanto avaliam os riscos de sua aplicação.

O tema ainda se encontra em estágio bem embrionário dentro do segmento financeiro, pois como tudo que envolve pagamentos e dinheiro, é necessário grande precisão das ferramentas tecnológicas — o que ainda está sendo questionado no ambiente de IA e se torna um ponto crítico para a indústria financeira.

Foram realizadas, inclusive, inúmeras discussões e demonstrações sobre o tema que destacaram o potencial transformador das ferramentas nos aspectos de experiência do cliente, prevenção de fraudes, gerenciamento de riscos, entre outros.

Carolina Rocha, consultora de marketing sênior do Bexs. Foto: Divulgação
Carolina Rocha, consultora de marketing sênior do Bexs. Foto: Divulgação

Uma das demonstrações, por exemplo, que gerou maior engajamento no evento foi do aplicativo Cleo, que funciona como um chatbot ou assistente virtual. Integrado às contas do usuário e com acesso aos seus dados, via machine learning, é capaz de oferecer um atendimento ultrapersonalizado, controle de gastos, recomendações customizadas, entre outros recursos. Tudo acontece em um ambiente de chat intuitivo e descontraído, com uso de gifs e emojis, o que promete engajar especialmente usuários da geração Z.

Além disso, um dos palestrantes também mostrou como sua empresa planeja inserir o ChatGPT no call center para resumir as chamadas ocorridas entre agentes e clientes. Ele comentou, ainda, que esse processo eliminou a necessidade de fazer anotações durante as chamadas como parte dos primeiros testes. O lançamento será em breve.

Evolução do Open Banking

Após cinco anos da concepção do Open Banking, vários questionamentos e promessas sobre os rumos deste sistema foram pautados. Agora expandido para o termo Open Finance, o conceito central deste sistema em constante evolução trata do compartilhamento de dados entre diferentes instituições. O objetivo é criar ofertas sob medida e outros tipos de customização que otimizem a jornada dos clientes.

Há uma expectativa de evolução do termo para “Open Data”. Assim, esse sistema não abarcaria somente o setor financeiro, mas seria ampliado para seguros, saúde, pensões, impostos, entre outros.

Componentes de dados e IA, aliás, estão mais conectados do que nunca e têm efeitos transformadores nas operações bancárias, na experiência do cliente, na gestão de riscos e na tomada de decisões estratégicas.

Os palestrantes continuaram a enfatizar, ainda, como as organizações devem aproveitar os dados para entender o comportamento do cliente, identificar padrões, prever tendências de mercado e personalizar serviços. Porém, muitos apontaram alguns desafios para as iniciativas de Open Finance, tais como o acesso aos dados devido às limitações regulatórias, bem como a falta de confiança dos clientes para o consentimento da liberação dos seus dados.

O responsável por Open Banking e APIs da Accenture enfatizou alguns pontos e ações necessárias para um crescimento sustentável do modelo, como a atualização da base regulatória para incentivar este ambiente, que em geral tem sido lenta mundialmente. Ele mencionou que Reino Unido, Brasil e Austrália estão mais avançados no tema do Open Finance e sobre a necessidade de que os reguladores ao redor do mundo colaborarem entre si.

Além disso, é necessário criar ações para educação e conscientização dos clientes, a fim de trazer maior confiança e incentivar adoção, assim como criar um ambiente colaborativo para fintechs com apoio de diversos setores para o efetivo desenvolvimento do ecossistema.

‘Embedded finance’ e banking as a service (BaaS)

Outro tema bastante abordado entre os painéis da Money 20/20 foi o crescimento do ‘embedded finance’. Na prática, essa tendência significa embutir serviços financeiros em plataformas de setores diversos, como varejo por exemplo, sem deixar o negócio core de lado, mas oferecendo de uma maneira complementar.

Por meio de uma integração com um provedor de banking as a service (BaaS), por exemplo, um varejista é capaz de oferecer serviços que anteriormente eram ofertados somente por bancos. Este já era um modelo aplicado no Brasil com os cartões de crédito das lojas de departamento, mas o conceito vem avançando mundialmente e se tornando mais tecnológico e sem fricção por meio de integrações de APIs. Outra vantagem deste modelo, em geral, é democratizar o acesso de serviços financeiros para os consumidores, sendo assim um concorrente para os bancos tradicionais.

Colaboração

As discussões enfatizaram, ainda, a importância de parcerias entre instituições financeiras tradicionais e neobanks. A colaboração entre as duas entidades pode levar a resultados mutuamente benéficos. Assim, os bancos tradicionais obtêm acesso a tecnologias inovadoras, enquanto os neobanks podem aproveitar as bases de clientes existentes e o conhecimento regulatório das instituições tradicionais. Dessa forma, varejistas e empresas de tecnologia tendem a ser beneficiados por essa complementariedade de expertises.

Por fim, mais uma vez o evento trouxe novas discussões e questionamentos para indústria financeira, que serão desdobrados nos próximos meses e anos. De fato, muitos desafios e mudanças estão ocorrendo com destaque para IA, mas em todos os casos há uma extrema necessidade de colaboração entre governos, reguladores, bancos e fintechs para a construção de um ambiente sustentável e benéfico para clientes e empresas.

*Carolina Rocha é consultora de marketing sênior do Bexs, banco de câmbio.

As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.

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