Opinião

Os desafios e oportunidades de implementação do ESG em fintechs 

Ana Paula Candeloro*

A estratégia ESG (sigla para as boas práticas de responsabilidade corporativa nos âmbitos ambiental, social e de governança), que há certo tempo já é alvo de interesse dos fundos de investimento, está emergindo como uma necessidade latente no ecossistema das fintechs. É um conjunto de práticas e políticas que visam garantir a transparência do negócio, responsabilidade social e sustentabilidade nas operações empresariais.

Em um cenário empreendedor dinâmico e desafiador, a implementação de uma estratégia ESG sólida torna-se crucial para assegurar a longevidade e o sucesso das fintechs. 

Desafios

O primeiro grande desafio reside na ausência de uma liderança inspiradora que aplique a teoria da mudança de maneira eficaz, ou seja, que explique o motivo por trás das decisões e iniciativas da organização a fim de sensibilizar a equipe para seu propósito e engajá-la em cumpri-lo.

Nesse sentido, muitas fintechs enfrentam dificuldades em incorporar a estratégia ESG em seu DNA organizacional. A necessidade de líderes visionários que compreendam e comuniquem a importância desses princípios é essencial para orientar as organizações rumo a práticas mais éticas e sustentáveis. 

Outro obstáculo significativo é a falta de uma perspectiva estratégica de longo prazo. Muitas fintechs concentram-se excessivamente em metas de curto prazo, operando sem ter certeza da longevidade de fato do negócio. Esse comportamento acaba por negligenciar a importância de um planejamento a longo prazo alinhado com os benefícios multistakeholders; aquele que busca o bem-estar tanto do planeta e das pessoas que circundam a organização quanto o lucro e crescimento financeiro.

A dificuldade em priorizar estratégias que equilibrem ambos esses objetivos torna-se um impasse que exige soluções criativas e comprometimento. 

Por fim, outra barreira a ser superada é a dificuldade em incorporar o gerenciamento de riscos como uma pauta fixa nas discussões. Muitas fintechs, focadas em inovação e crescimento rápido, podem negligenciar a avaliação e mitigação de riscos, expondo-se a potenciais crises. Integrar a gestão de riscos como parte essencial do processo decisório é fundamental para a resiliência e a sustentabilidade a longo prazo. 

Oportunidades

No entanto, diante dos desafios, surgem oportunidades inegáveis para as fintechs que abraçam as boas práticas ESG.

O ativismo dos clientes, cada vez mais conscientes das práticas sustentáveis relacionadas à produção do que consomem, representa uma oportunidade de ouro. Empresas que adotam práticas sustentáveis e transparentes têm a chance de conquistar a lealdade das pessoas consumidoras preocupadas com a responsabilidade social e ambiental. 

Além disso, o ativismo dos fundos de investimento tem impulsionado a demanda por práticas mais robustas. Fintechs que implementam processos sólidos, transparentes, confiáveis e estruturados podem atrair investimentos que buscam não apenas retornos financeiros, mas também o alinhamento com valores éticos e sustentáveis. 

Por fim, trazer o gerenciamento de riscos como uma pauta fixa nas discussões, considerando cenários de “cisnes negros” e “cisnes verdes” – eventos altamente improváveis, mas com um potencial de dano enorme – fortalece ainda mais a estratégia ESG, além de contribuir para a resiliência da fintech. 

O ESG como estratégia 

A implantação do ESG emerge como uma oportunidade estratégica para as startups. Além de ser um diferencial competitivo, reflete na confiabilidade da empresa, impulsiona o marketing estratégico e proporciona uma avaliação mais positiva em relação à concorrência. 

Em conclusão, os desafios e oportunidades da implementação das diretrizes ESG em fintechs são intrinsecamente entrelaçados.

Superar a resistência inicial à mudança organizacional pode ser um processo árduo, mas as recompensas são abundantes. As fintechs que adotam uma abordagem proativa para incorporar práticas sólidas de estratégias ESG não apenas mitigam riscos, mas também se posicionam como agentes de mudança positiva.

Em um mundo onde a responsabilidade social e ambiental são cada vez mais valorizadas, as boas práticas ESG se tornam um catalisador para o sucesso sustentável das fintechs, contribuindo para um ecossistema empresarial mais robusto e ético. 

*Advogada, pós-graduada em Sustainable Finance e conselheira pelo IBGC