Por Jose Luis Vargas*
Dono de um dos sistemas financeiros mais avançados do mundo, não é de hoje que o Brasil vem se destacando quando o assunto são as inovações do setor. Com uma população conhecida por aderir facilmente às novas tecnologias, o que tradicionalmente impulsiona a criação de produtos e serviços disruptivos, o país pode se considerar um case de sucesso em duas de suas mais recentes iniciativas.
O Open Banking, hoje mais amplo e chamado de Open Finance, é uma delas, e o Brasil já é um dos líderes mundiais. Já o Pix, sucesso desde o seu lançamento há quase três anos, não para de bater recordes. Conforme relatório recente do Banco Central, 133 milhões de pessoas e 11,9 milhões de empresas usavam o sistema de pagamento instantâneo em dezembro do ano passado.
Nesse contexto, não é de espantar a força com que o ‘embedded finance’ — empresas de outros segmentos que oferecem serviços financeiros a seus clientes — surgiu no ecossistema brasileiro. Pesquisa realizada no fim do ano passado pela Deloitte estima que as finanças embutidas possam gerar receita adicional de R$ 24 bilhões em 2026 às empresas que ampliarem suas ofertas de serviços financeiros, por exemplo, crédito, contas de pagamentos e boletos.
Entre os produtos frequentemente ofertados por meio do ‘embedded finance’ está o ‘buy now, pay later’ (BNPL). Versão moderna do pagamento a prazo, tem ganhado tração em toda a América Latina, especialmente no Brasil. Ainda assim, o crescimento da modalidade na região não pode ser classificado como rápido. Isso porque o uso de dinheiro em papel ainda é muito alto. Contudo, seu potencial chama a atenção.
Potencial e amadurecimento
De acordo com dados de mercado, as transações BNPL representaram 1% dos pagamentos no comércio eletrônico em toda a América Latina em 2022. A estimativa é que alcancem 3% até 2025. Importante enfatizar, no entanto, que o Brasil, assim como o México, tem apresentado taxas de adesão mais altas. Por isso, se espera que elas cresçam nos moldes dos índices globais — 3,8% até 2025.
O que temos testemunhado no mercado é que o caminho para o amadurecimento do BNPL passa obrigatoriamente por entender as particularidades do comportamento financeiro de cada consumidor. Na América Latina, por exemplo, um produto pode ser um sucesso em um país e um tremendo fracasso em outro. Daí a necessidade da personalização das ofertas e de satisfazer demandas bem específicas.
Globalmente, grandes investimentos têm sido feitos na modalidade. Tanto é que é possível afirmar que a próxima onda do “compre agora, pague depois” está apenas começando. Enquanto os provedores que já trabalham com o BNPL expandem os setores de atuação, instituições financeiras tradicionais entram no jogo. Sem falar na chegada das grandes empresas de tecnologia. Alguns exemplos: a Amazon se uniu à Affirm, a Apple lançou o ‘Apple Pay Later’, e o Walmart está entrando no mercado com sua fintech, a One. Com isso, são milhões de consumidores com acesso a esse meio de pagamento rápido e fácil.
Em pleno avanço, o futuro do BNPL está ligado a uma série de fatores, como eventuais regulações, novos modelos e até mesmo a adesão das próximas gerações. Mas uma coisa é certa: o BNPL veio para ficar. E seu sucesso dependerá sobretudo da tecnologia certa para que os provedores sejam capazes de uma análise de risco inteligente e que ao mesmo tempo proporcione uma experiência excepcional ao cliente.
*Jose Luis Vargas é vice-presidente executivo para a América Latina da Provenir, plataforma de decisão de risco baseada em IA.
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