CONCORRÊNCIA

Bancos, fintechs e cooperativas já contabilizam ganhos com Open Finance

Sem citar nomes, o diretor do BC Otávio Damaso citou cases de sucesso Open Finance. Um"incumbente" disse que engordou sua carteira de crédito em R$ 1 bilhão só com a portabilidade

Otavio Damaso/BC - Imagem: Léa De Luca
Otavio Damaso/BC - Imagem: Léa De Luca

“Daqui a dez anos, nem vamos mais lembrar como era o sistema financeiro sem Open Finance”. A frase foi dita por Otávio Damaso, diretor de regulação do Banco Central, em evento promovido pela TQI nesta quinta-feira, dia 27, em São Paulo. Segundo ele, levantamento realizado recentemente pelo regulador revela que bancos, fintechs e cooperativas já contabilizam ganhos obtidos com o Open Finance.

“Open Finance não é popular como o Pix; é infraestrutura, uma jornada. Mas suas vantagens já são concretas”, disse Otávio. “Com ele a competição chegou até ao cheque especial, algo impensável há pouco tempo”.

Open Finance

Falando genericamente, sem citar nomes, o diretor deu diversos exemplos de vantagens do Open Finance. Uma instituição “incumbente”, por exemplo, disse que engordou sua carteira de crédito em R$ 1 bilhão só com portabilidade, e conseguiu acrescentar R$ 700 milhões aos limites concedidos para os clientes. Otávio lembra que apesar de a portabilidade ser antiga, dependia de papel; ao ficar digital, agilizou.

E foi além. Segundo o diretor, outra “incumbente” relatou ter conseguido que os clientes trocassem R$ 1,5 bilhão em investimentos por outros mais rentáveis. Já um “novo entrante” informou que conseguiu que os clientes economizassem R$ 8 milhões com pagamento de juros de cheque especial em 12 meses. Também notificou 1,4 milhão de clientes sobre recursos parados na conta, que poderiam ser investidos.

“Uma Instituição de Pagamento (IP), por sua vez, disse que com o Open Finance, a análise de dados é responsável por 80% da originação de crédito. E uma cooperativa conseguiu reduzir de 32 horas para 2h10 o tempo perdido para a abertura de contas”, informou.

‘Marketing cruel’

O diretor fez, dessa maneira, uma ferrenha defesa do Open Finance, e chamou de “marketing cruel” a comparação que a mídia faz entre ele e o Pix. Para Otávio, a maior revolução vai surgir com a proliferação dos superapps, que vão integrar as contas dos clientes e fazer da iniciação de pagamento uma experiência totalmente fluida. “Se eu fosse uma instituição financeira, estaria investindo nisso, em ser a porta de entrada do cliente no mundo financeiro”.

Sobre o Pix, ele não poupou elogios. “Não tenho dúvidas em afirmar que o Pix é o mais idolatrado sistema de pagamentos instantâneo do mundo, é imbatível. Mas é apenas a porta de entrada. Estamos pavimentando o sistema financeiro do futuro”, afirmou.

O diretor afirmou, também, que fomentar a inovação “na verdade é fomentar a competição” no mercado financeiro. “Até 20 anos atrás, por exemplo, a pauta no Congresso era a concentração bancária. Hoje esse questionamento não existe mais. A concentração diminuiu e, mais do que isso, o mercado cresceu. Novos players vieram atender a demanda da sociedade. Uma IP não é uma solução completa como um banco, é um lugar para guardar dinheiro e usar com facilidade, com custos mais baixos”, afirmou. Otávio disse que essa variedade reduziu a dependência dos clientes. Agora, eles não precisam mais escolher um dos poucos players e pagar caro por isso.

Concorrência

Nesse sentido, ele também citou o registro de títulos como de crucial importância para a concorrência. “Começamos a regular por uma questão de supervisão, hoje é fundamental na competição também. E o que aconteceu recentemente com os cartões, agora também vai acontecer, em dose tripla, com duplicatas escriturais”. O diretor refere-se ao valor transacionado, que é de aproximadamente R$ 3 bilhões no caso dos cartões, e estimado em R$ 12 bilhões no caso das duplicatas. Ele admitiu que o BC está atrasado nessa agenda, mas que no ano que vem ela sai.

O diretor falou ainda sobre tokenização, Drex, ambientes de testes como Sandbox e Lift.

Sobre a possibilidade de a transição do comando da diretoria do BC afetar o andamento da agenda de inovação, Otávio disse que o risco estaria apenas na perda da independência do regulador em relação ao governo central, assunto em debate neste momento no Congresso. “Mas em relação a competência dos quadros, não há risco algum”.