BANCO DIGITAL

A estratégia do iFood para ser o 'Mercado Pago dos restaurantes'

Com mais de 140 mil contas ativas, iFood Pago lança seguro patrimonial e estuda oferta de capital de giro de curto prazo

Thomas Barth/iFood Pago - Imagem: divulgação
Thomas Barth/iFood Pago - Imagem: divulgação

O iFood Pago nasceu grande. Autointitulado “banco dos restaurantes”, transaciona R$ 70 bilhões por ano, já concedeu R$ 1,5 bilhão em crédito e prevê chegar a março de 2025 com uma receita de R$ 1 bilhão. Lançado oficialmente em junho último, o negócio tem potencial para seguir os passos do Mercado Pago, que nasceu como braço de pagamentos do Mercado Livre, ganhou vida própria e hoje é uma das maiores operações do grupo. 

“Um bom benchmark para a gente é o Mercado Pago, que hoje é maior que o Mercado Livre. Acho que o nosso caminho é ser maior que o próprio iFood”, projeta Thomas Barth, executivo-chefe de operações (COO) do iFood Pago, em conversa com o Finsiders Brasil.

Thomas conta ao portal que o iFood Pago acaba de lançar um seguro para os restaurantes de sua base. É o primeiro produto do gênero que a empresa disponibiliza para seus clientes. O iFood, por sua vez, já oferece desde 2019 um seguro pessoal para os entregadores em caso de acidentes.

“Há algumas semanas, lançamos um seguro patrimonial para os restaurantes, em parceria com a corretora Lockton”, diz o COO. Segundo ele, o produto já está disponível para contratação diretamente na conta. “A conta digital virou um hub onde tudo se conecta: crédito, antecipação de recebíveis, repasse do iFood, a Maquinona [adquirência], o CRM e agora o seguro. Mas ainda tem muita coisa para fazer para os restaurantes.”

O negócio

Com mais de 140 mil contas digitais ativas, o iFood Pago tem três principais frentes de atuação: o banco dos restaurantes, que reúne crédito e outros produtos e serviços financeiros; iFood Benefícios, plataforma de benefícios corporativos com 700 mil vidas; e Zoop, empresa de infraestrutura em serviços financeiros e pagamentos que já era investida do iFood e agora foi 100% incorporada à companhia.

De acordo com Thomas, a Zoop continua oferecendo suas soluções para outras empresas. Ou seja, não há um acordo de exclusividade com o iFood. “Tem, sim, uma chinese wall mas é como a Amazon trata a AWS [divisão de nuvem da big tech]. Quer dizer, a AWS trabalha tanto para a Amazon quanto para empresas do mundo inteiro”, afirma. Chinese wall indica que a instituição financeira separa a gestão de recursos próprios da dos recursos e interesses de terceiros.

No crédito, o iFood aposta em antecipação de recebíveis e linha de empréstimo ‘fumaça’ (que utiliza recebíveis futuros como garantia). Desde o início das operações, em 2021, são mais de R$ 1,5 bilhão em crédito concedido. Thomas diz que o crédito ‘fumaça’ começou com prazo de 12 meses e hoje chega a 24, com 60 dias de carência. Conforme o executivo, há estudos para a oferta de um capital de giro de curto prazo.

Aquisição da Zoop

“Começamos capital 100% próprio, depois fomos ao mercado e captamos o primeiro FIDC, de R$ 200 milhões”, diz Thomas. Em agosto de 2022, o funding foi reforçado com uma nova emissão de R$ 100 milhões. “Tem cliente que já está no quinto contrato de crédito com a gente”, afirma o COO.

Para operar, o iFood Pago utiliza duas licenças junto ao Banco Central. Em abril do ano passado, a MovilePay recebeu autorização do regulador para atuar como Sociedade de Crédito Direto (SCD), o que permite à empresa emprestar com recursos próprios.

Já em novembro de 2023, a Zoop obteve o aval para funcionar como uma instituição de pagamento (IP) na modalidade emissor de moeda eletrônica, ou seja, aquela que permite gerir contas de pagamento pré-pagas. É ela, então, quem faz rodar toda a “engrenagem” das contas digitais do iFood Pago.

Próximos passos

Daqui pra frente, Thomas enxerga espaço para crescer tanto no “aquário” do iFood, hoje com 350 mil restaurantes parceiros, quanto ampliar a oferta de produtos e serviços para quem já utiliza o iFood Pago. E isso vale para estabelecimentos que vendem via delivery, mas também para aqueles que têm operações físicas.

Nesse sentido, uma das grandes apostas do iFood Pago é a sua Maquinona. Trata-se de uma maquininha de cartão que embute inteligência de dados (CRM) para que os restaurantes possam fazer campanhas de atração e retenção dos clientes. “O restaurante consegue montar um programa de cashback, por exemplo, ou digitalizar a experiência do cartão fidelidade”, explica Thomas.

No final do dia, o objetivo do iFood Pago é conquistar a principalidade dos restaurantes. Ou seja, ser a principal conta que esses estabelecimentos usam para suas transações. “Estamos olhando sempre para novos produtos para continuar aumentando a principalidade. No futuro, a gente deve ter tudo o que for interessante em termos de gestão financeira para os restaurantes.”