A fintech Somapay passou os últimos seis anos focada em criar soluções financeiras para facilitar o trabalho administrativo de empresas da região onde foi criada, Fortaleza (CE).
Já atuantes nos segmentos financeiros, os fundadores da empresa, Fernando Gurgel e Nayana Branco, perceberam ainda em 2014, quando pouco se falava de fintechs no Brasil, uma oportunidade de otimizar o tempo e os custos do departamento pessoal, financeiro e RH com o auxílio da tecnologia.
A Somapay começou no ano seguinte oferecendo um cartão para que os funcionários das empresas clientes pudessem sacar seus salários. Não sendo isso suficiente lançaram seus próprios ATMs, 40 terminais para ser mais exato.
Em janeiro de 2020, já em sua primeira iniciativa para “expandir seus horizontes”, passou a fazer parte do hub da TecBan, dona do Banco24Horas, uma das primeiras fintechs do Nordeste a fazer isso. Faz parte também do Cubo Itaú.
Hoje, a plataforma oferece uma gama de serviços B2B2C, passando por todo o processo para a remuneração do colaborador, até oferecer uma conta digital – que o funcionário não precisa fechar se mudar de emprego ou for demitido –, além de concessão de créditos de curto prazo, por exemplo, antecipar o salário.
No total, a fintech atende mais de 1,3 mil empresas, a maior parte (80%) de pequeno e médio porte. Juntas, elas somam mais de 140 mil funcionários.
Agora, a Somapay se prepara para acelerar, inclusive a oferta de crédito. Em dezembro último, a empresa recebeu aval do Banco Central (BC) para operar como SCD (Sociedade de Crédito Direto) o que, na prática, lhe permite conceder crédito com recursos próprios.
Com a licença, vai aumentar aumentar ofertas de crédito, possibilitando prazos mais longos, assim como prevê expandir sua atuação para outras cidades brasileiras, como São Paulo, a primeira fora da região Nordeste. A expectativa é que a Somapay passe a operar, de fato, como SCD daqui a três meses.
“Estamos bastante otimistas com 2022. Esperamos retomar nosso crescimento [anterior à pandemia]. Acreditamos que a SCD estará operacional nos próximos três meses. E no segundo semestre termos mais novidades e mais produtos novos”, diz Fernando Gurgel, fundador e CEO da Somapay, ao Finsiders.
Em março, a fintech deve lançar uma nova funcionalidade da plataforma, o “ponto on-line”. A feature possibilita, por exemplo, que o empresário faça todo o controle do seu quadro de funcionários no mesmo lugar, revela Fernando, ao lado da também cofundadora Nayana Branco.
A empresa também já iniciou negociações para fazer uma rodada de investimento provavelmente neste ano.
Efeitos da pandemia
Entre 2020 e 2021, a taxa de desocupação no país bateu recordes históricos e grande parte disso foi devido às necessidades de isolamento social por causa da pandemia.
O ano passado começou com uma taxa de 14,9% e, segundo último levantamento feito pelo IBGE, atingiu 12,6% no terceiro trimestre. Mesmo assim, são 13,5 milhões de desempregados.
A região Nordeste ainda possui a maior taxa, com 16,4%, seguido pelo Sudeste, com 13,1%.
Em 2021, a fintech sentiu estes efeitos. Tinha uma média de crescimento de 60% de movimentação em folha de pagamento, mas no ano passado apresentou um avanço de 20%, para cerca de R$ 600 milhões.
Com os sinais de retomada da economia brasileira, Fernando diz que a expectativa é crescer por volta de 65% este ano.
Desafios à frente
Por outro lado, os empreendedores da Somapay reconhecem que os desafios que virão vão além da conjuntura doméstica. Os bancos, que avaliam serem os concorrentes mais diretos, estão atentos ao movimento das fintechs e também inovando ou até mesmo indo às compras.
Ainda em 2016, o Santander concluiu a compra da então Contasuper, que oferecia algo semelhante ao que Somapay fazia na época. Hoje, essa fintech se chama Superdigital, faz parte do Santander Global, e lançou recentemente uma nova plataforma tecnológica global, com meta de alcançar 5 milhões de clientes na América Latina até 2024.
Sem contar que mais e mais empresas estão criando soluções financeiras para colaboradores. A Paketá tem mais de 1.450 empresas conveniadas na base e aumentou em 8x o volume de empréstimos em 2021.
Disputam mercado, ainda, players como a chilena Quansa, que no meio do ano passado levantou US$ 3,6 milhões em uma rodada seed e mira o mercado brasileiro.
Sabe-se, por exemplo, que um dos grandes focos da Creditas é o ecossistema de soluções financeiras para colaboradores. A lista de competidores no segmento inclui, ainda, Leve, Facio, Grupo H, Zetra, Zipdin e outros.
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