Com Pix, cripto e câmbio, Z.ro Bank pivota negócio e traz novo CFO

A fintech, que nasceu como conta digital multimoeda, está mudando o foco para o B2B. O CEO, Edísio Pereira Neto, explica a estratégia

Há cerca de dois anos, o Z.ro Bank, banco digital multimoedas com tecnologia blockchain, lançou uma solução de ‘cripto as a service’ para diversificar as linhas de receita. Em agosto de 2022, avançou mais entre os clientes empresariais com a criação do ‘Pix as a service’. Agora, a fintech está pivotando o negócio para concentrar a atuação no B2B, que já representa 90% do faturamento. 

A mudança de rota ocorre num momento de acirrada competição entre bancos digitais e alta volatilidade no mercado de criptos. Ao mesmo tempo, o crescimento do Pix nas transações entre pessoas físicas e empresas vem impulsionando a demanda por infraestrutura tecnológica. Aliás, o sistema de pagamento instantâneo completa três anos hoje (16) com mais de 155 milhões de usuários e mais de R$ 1,5 trilhão movimentado por mês. 

“O Pix está crescendo de forma absurda e vai evoluir com Pix parcelado, agendado e até offline. Então, temos mercado para ganhar”, diz Edisio Pereira Neto, CEO e fundador do Z.ro, em entrevista exclusiva ao Finsiders. “O Pix também forçou vários players a desenvolverem muita tecnologia para aguentar alta escala de pagamentos. Nós temos uma plataforma parruda.”


Para se diferenciar em relação a outras empresas com proposta de techfin, o Z.ro aposta na combinação entre Pix, cripto e câmbio. “Cada vez mais o mundo está ficando sem fronteiras, e esses temas estão convergindo mais”, aponta o empreendedor. “Oferecemos a experiência completa, com câmbio via API, contrato digital”, diz ele.

A intersecção entre os três elementos, inclusive, sempre fez parte da companhia, fundada em Recife (PE) em 2019. “A empresa aposta em três pilares: câmbio, criptomoedas e pagamentos digitais”, diz reportagem do Finsiders em setembro de 2020, quando o app do então neobank foi lançado.

Evolução

Desde que colocou no ar o ‘Pix as a service’, em agosto do ano passado, o Z.ro acumula mais de R$ 20 bilhões em transações. O volume é o dobro do que a fintech projetava atingir até o fim do ano, quando Edísio falou ao portal, em fevereiro. Na ocasião, essa linha de negócio tinha acabado de ultrapassar R$ 1 bilhão e 20 empresas clientes. 

Agora, o volume financeiro de R$ 1 bilhão é mensal e, nos picos, a plataforma supera 50 mil operações por minuto, diz o CEO. Atualmente, o Z.ro atende 50 companhias. São principalmente negócios online, como e-commerces, plataformas de games, streaming e exchanges de criptomoedas. A expectativa é, no mínimo, dobrar a base no ano que vem. “Tem muito cliente na fila de integração, com contrato assinado, o que deve aumentar ainda mais esse volume no curto prazo.”

Fabio Pires, CFO, e Edísio Pereira Neto, CEO

A tecnologia funciona como um gateway multibancos, integrando a própria API do banco digital e a de outros quatro bancos tradicionais. De acordo com Edísio, esse grupo de instituições garante 100% de liquidez, 24 horas por dia, para que os clientes não tenham problemas durante os picos de transações. 

O Z.ro aguarda aprovação do Banco Central (BC) para operar como instituição de pagamento (IP) regulada, na modalidade emissor de moeda eletrônica, ou seja, que permite gerenciar contas de pagamento pré-pagas. “Estamos nas interações finais com o BC. Nos próximos dias, devemos concluir essa fase”, diz Edísio. 

Nas operações via Pix, por enquanto, a empresa atua como participante indireto no arranjo, por meio de conexão com o Banco Topázio, participante direto no Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI). 

Reforço

Como parte do plano de crescimento, o Z.ro também acaba de contratar Fabio Pires para o posto de CFO. O executivo chega depois de atuar no mesmo cargo por dois anos na fintech de crédito Meutudo. Entre 2016 e 2021, foi diretor financeiro na Serasa Experian, onde participou do início da agenda de M&As da empresa, incluindo as aquisições da BrScan e da PagueVeloz

“A estruturação das finanças e criação de indicadores são os primeiros focos neste início de trabalho. É um momento oportuno, já que com o resultado positivo que alcançamos em 2023 estamos planejando uma agenda ativa de investimentos do Z.ro para o ano que vem”, diz Fabio. 

Além disso, um dos pilares é o de governança. “Sabemos que estamos num mercado extremamente competitivo, mas também gigantesco. E que tem regulações, reportes, todo um rol de controles importantes para focar internamente”, afirma o CFO, ao Finsiders. “Somos empresa auditada há 2 anos, e temos roadmap para ser auditada nos próximos 12 meses por uma ‘big four’”, complementa Edísio. 

O novo CFO também terá interação próxima com o mercado, vislumbrando oportunidades de fusões e aquisições (M&As) e parcerias estratégicas. Há pouco mais de dois anos, o Z.ro recebeu R$ 25 milhões de um fundo da Multivest Capital. “Não estamos buscando novas captações, e sim oportunidades de aquisição que tenham sinergia e possibilidade de abrir novos caminhos de crescimento”, diz Edísio, citando que a empresa gera caixa.

Concorrência

Com mais empresas atuando no B2B e, principalmente, em infraestrutura tecnológica, a briga do Z.ro nesta nova fase não será fácil. O CEO sabe disso e diz que a companhia vem tentando buscar se apresentar de forma diferente, unindo os pilares de Pix, cripto e câmbio. “Conheço players muito especialistas em Pix, outros em câmbio e cripto. Nós estamos tentando algo novo, com esses três pilares”, afirma Edísio.

Nesse sentido, como techfin, o Z.ro também quer preparar os negócios para a realidade do Drex. “Isso vai balançar o mercado, e as empresas ainda têm muitas dúvidas”, aponta o CEO. Além disso, as mudanças recentes na regulamentação de câmbio também vêm gerando, segundo ele, um interesse crescente de empresas para remessas e pagamentos internacionais. “E tudo isso tem sinergia com cripto, que está prestes a ter regulamentação. Enfim, estamos com a faca e o queijo na mão”, resume.

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