NEGÓCIOS

Kanastra compra Limine DTVM para avançar na infra do crédito estruturado

Combinação dos negócios dará origem a um grupo com mais de R$ 7 bilhões em recursos e cerca de 120 veículos

Manuel Netto e Gustavo Mapeli, sócios-fundadores da Kanastra - Imagem: Paulo Vitale
Manuel Netto e Gustavo Mapeli, sócios-fundadores da Kanastra - Imagem: Paulo Vitale

Fundada em janeiro de 2022, a Kanastra surgiu com o objetivo de simplificar e automatizar o backoffice para fundos estruturados como FIDCs e FIPs, além de veículos de securitização, a exemplo de CRIs e CRAs. Com tecnologia proprietária, a startup oferece gestão, administração, securitização e bancarização. Para se tornar one-stop-shop nesse mercado, porém, faltava prover custódia e escrituração, por exemplo.

A saída, então, foi buscar na indústria financeira quem já detivesse as licenças regulatórias necessárias para operar com esses serviços. Nesse meio tempo, a Kanastra já havia feito parceria comercial com a Limine Trust, uma distribuidora de valores e títulos mobiliários (DTVM) que tem como foco em administração e custódia de FIDCs e escrituração de notas comerciais. Daí em diante, o “namoro” evoluiu e agora está virando um “relacionamento sério”. 

Nesta terça-feira (2), a Kanastra anuncia a compra de 100% da Limine. O valor e os termos da transação não foram revelados. Com o negócio — que ainda depende de aprovação do BC — os fundadores da DTVM, Elton Porpino e Nivea Yoshida, continuam na companhia. As marcas seguem operando de maneira independente, até por uma questão de ‘chinese wall’. 

Fundada em 2016, a Limine nasceu com o objetivo de ser uma boutique de administração fiduciária e serviços qualificados para crédito estruturado. Atualmente, soma 70 fundos, sendo a maioria (62) FIDCs. Conforme as demonstrações financeiras publicadas em seu site, a DTVM teve, em 2023, um lucro líquido de R$ 295 mil, revertendo prejuízo de R$ 39 mil do ano anterior. 

Negócios complementares

Em entrevista ao Finsiders Brasil, o cofundador e CEO da Kanastra, Gustavo Mapeli, conta que a combinação dos negócios resulta em um grupo com mais de R$ 7 bilhões em recursos sob seu guarda-chuva, num total de aproximadamente 120 veículos, 100 originadores e 300 investidores institucionais. 

Além de acelerar a obtenção de licença de DTVM — algo que, aliás, a Kanastra vinha fazendo com os processos juntos aos reguladores —, a compra da Limine une bases de clientes e equipes que são complementares. “Em termos de colaboradores, são 35 pessoas do lado da Limine e pela Kanastra, 95.”

De acordo com o CEO, o negócio torna o portfólio da Kanastra mais completo, ao mesmo tempo em que leva mais tecnologia para os fundos da Limine. “Agora é ‘one-stop-shop’ mesmo. Estamos falando de um crescimento pelo menos 2x mais rápido do que se não tivéssemos feito a transação”, afirma o CEO da Kanastra. Sem abrir o número absoluto, ele cita que a empresa teve uma receita 11x maior em 2023 na comparação com o ano anterior. 

Mais aquisições no radar?

Com dinheiro no caixa, a Kanastra não vislumbra novas aquisições nos próximos 12 a 24 meses, garante Gustavo. “Estamos bem capitalizados e continuamos olhando o mercado, mas com um olher oportunístico. Para adquirir uma empresa, precisamos enxergar que 1 + 1 será maior do que 2”, define.

No primeiro semestre de 2023, a Kanastra levantou uma rodada seed de US$ 13 milhões, liderada pelos fundos Valor Capital e Quona. A captação teve a participação de investidores como QED Investors, Actyus, Collaborative, Crestone, Grão, Endeavor, Clocktower, Latitud e Norte Ventures. O aporte contou, ainda, com fundadores de outras fintechs, como Creditas, Cerc, Pomelo e Hashdex.

E a competição?

O apetite em levar tecnologia para o backoffice de produtos estruturados não é exclusividade da Kanastra. A Vórtx, que também fornece serviços de infraestrutura para dívida corporativa, fundos de investimentos e serviços bancários, recebeu em dezembro último sua licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD) para completar o chamado “ciclo do crédito”. 

Já a QI Tech, que começou pelo caminho inverso sendo a primeira SCD a operar, comprou, em novembro de 2023, a tradicional corretora Singulare, especializada em FIDCs, reforçando a unidade de negócios ‘DTVM as a service’. 

Quem também vem ganhando força é o grupo VERT, que recentemente obteve a licença de DTVM.