Prestes a completar 20 anos no Brasil, o Mercado Pago — fintech do Mercado Livre com 43,7 milhões de usuários no país — não está para brincadeira: a meta é ser um dos três maiores bancos digitais brasileiros até 2025. Para isso, a empresa está ampliando o portfólio de produtos e serviços em diferentes frentes — crédito, pagamentos, investimentos e seguros.
A companhia começou a oferecer financiamento de veículos usados vendidos no marketplace, acrescentou fundos de investimento às opções de aplicação, novas modalidades de seguro (pet e smartphones) e lançou o aplicativo ‘Point Tap’, que transforma o celular em maquininha de cartão — com crédito de dinheiro das vendas na conta do comerciante na hora.
O anúncio das novidades foi feito a jornalistas em um dos hangares da Gol no Aeroporto de Congonhas, onde está estacionado o quarto avião da frota do grupo, o primeiro pintado com as cores do Mercado Pago e do Mercado Livre. A atuação cada vez mais simbiótica e complementar da fintech com o e-commerce é um dos pilares da estratégia de crescimento do Mercado Pago, que fechou 2022 com uma carteira de crédito de US$ 2,8 bilhões — mais da metade no Brasil.
“Cada vez mais vamos juntar os dois universos. No site do Mercado Livre, passam mais de 60 milhões de pessoas por mês e na plataforma do Mercado Pago, são mais de 20 milhões por mês. Quando juntamos as duas, temos uma potência de comunicação e geração de valor para a vida dos nossos clientes”, afirmou Tulio Oliveira, vice-presidente sênior do Mercado Pago no Brasil.
Quando se refere a bancos digitais, o Mercado Pago não se limita apenas a seus concorrentes ligados diretamente ao e-commerce, como as fintechs da Magalu e Americanas (Ame), por exemplo. “Somos um banco completo, com seguros, conta, investimentos, crédito e tudo o que um cliente precisa, seja pessoa física ou jurídica. E como diferencial, ainda somos o banco digital do maior e-commerce — que banco não gostaria de ter o Mercado Livre como parceiro? Temos tudo para competir no segmento de banking”, disse.
Perguntado se esses planos de expansão incluem aquisições de outras fintechs ou bancos, o executivo disse que nada está descartado, mas lembrou que historicamente o grupo costuma preferir construir do que incorporar.
“O processo de crescimento pode ser orgânico ou inorgânico, a gente sempre avalia todas as opções que tem na mesa, para seguir crescendo por DNA nosso, nós somos muito mais construtores de solução do que compradores de solução, historicamente dentro do Mercado Pago mesmo, a gente fez duas ou três aquisições nesses últimos esses últimos 20 anos. Mas se fizer sentido para nossa estratégia, se surgir a oportunidade de comprar algum ativo que possa estar faltando, a gente pode avaliar, depende muito do momento”, afirmou.
Crédito a jato
Com mais de 50 produtos lançados nos últimos 36 meses, o Mercado Pago segue ampliando o portfólio e agora está começando a oferecer financiamento de veículos usados. A modalidade será disponibilizada para quem buscar veículos na página de auto do Mercado Livre, inicialmente com foco na cidade de São Paulo e em clientes com crédito aprovado e que possuem conta no marketplace ou no banco digital. Será possível financiar até 80% do valor do veículo, de 12 a 60 vezes.
Depois de ter adotado uma postura mais conservadora no crédito em 2022 devido ao cenário macroeconômico adverso, o banco digital voltou a acelerar a originação. Em março, por exemplo, registrou o maior volume de emissões de cartão de crédito nos últimos 14 meses. Nos últimos anos, o Mercado Pago vem incrementando o portfólio de crédito com linhas como empréstimo pessoal, crediário digital (‘buy now, pay later’, ou BNPL) e Pix parcelado.
“Conforme o reconhecimento da marca do nosso banco digital avança, também vemos o crescimento das linhas de negócios. Nossa campanha teve início em fevereiro e já observamos um marco em emissões de cartão de crédito no Brasil no mês de março”, afirmou Pethra Ferraz, vice-presidente de marketing do Mercado Pago para a América Latina.
Celular x maquininha
O banco digital também resolveu investir no ‘tap to phone’, uma tendência que vem ganhando força e que, basicamente, transforma o celular do lojista em um terminal de pagamento. Produto semelhante já foi lançado por concorrentes diretos como Stone, PagBank PagSeguro e Nubank. “É uma inovação que deve ser transformadora no mercado de pagamentos”, disse Tulio.
Segundo o executivo, o produto tem custo menor também para a empresa, que subsidia as maquininhas. “Mas as maquininhas vão continuar sendo a melhor opção para comércios maiores, uma solução não exclui a outra”. As taxas a serem cobradas ainda não foram definidas, afirmou ele. Inicialmente, a solução aceita cartões Mastercard e Visa, e outras bandeiras serão adicionadas em breve.
Investimentos e seguros
O Mercado Pago também está ampliando a prateleira de investimentos, com a oferta de três fundos, para diferentes perfis de aplicadores. As carteiras são geridas pela parceira Órama e cobram taxas de administração entre 0,5% e 2% ao ano, além de performance de 20% do que exceder o CDI (no caso dos fundos para perfis moderado e agressivo). Ainda nesta vertical, o banco digital diz que mais de 1 milhão de pessoas já investiram nos CDBs emitidos pela financeira da companhia.
Sobre a expansão da plataforma com novos produtos, Tulio diz que a empresa avalia a inclusão de títulos públicos do Tesouro Direto e descarta a oferta de investimentos de renda variável. “Não está nos nossos planos de curto prazo lançar uma plataforma de renda variável, por exemplo”, afirmou o executivo. A fala é particularmente interessante num momento em que nomes como PagBank, Nubank e PicPay avançam nessa frente.
Já em seguros, no qual o Mercado Pago estreou em outubro de 2020, a empresa lançou no ano passado um produto de vida e acidentes pessoais, em parceria com a Prudential, e agora está adicionando um seguro para pets — vendido junto com itens dessa categoria no marketplace. Em 2022, o banco digital ultrapassou 2 milhões de apólices ativas. O recordista de venda é o seguro garantia estendida para produtos vendidos no e-commerce.
O Mercado Pago tem hoje mais 64 milhões de usuários únicos na América Latina — dos quais mais de 21 milhões de contas de investimento. Além do Brasil, está presente também na Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai. Em 2022, o Mercado Pago superou a marca de US$ 123 bilhões em volume de pagamentos, sendo 173 transações por segundo.
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