Na PX Ativos Judiciais, a burocracia virou investimento

Fundada em 2020, a PX atua com foco na aquisição de créditos de ações trabalhistas, cíveis, precatórios e de direito do consumidor

Até não muito tempo atrás, os brasileiros com dinheiro a receber de processos judiciais muitas vezes não usufruíam dos recursos em vida. Isso porque os processos chegam a durar décadas. O que era um problema resultado da morosidade do judiciário, se tornou solução com a chegada de startups como a PX Ativos Judiciais.

Fundada em dezembro de 2020, a empresa — que é um misto de legaltech com fintech — atua com foco na aquisição de créditos de ações trabalhistas, cíveis, precatórios e de direito do consumidor. A startup saiu do papel pelas mãos da advogada Renata Nilsson.

Antes, ela chegou a abrir o próprio escritório de advocacia. No entanto, percebeu que preencher o gap entre o timing do ganho nos processos e o recebimento do dinheiro era uma oportunidade de negócio.

“Esse mercado existe há muito tempo, mas nunca foi transparente. Para o consumidor, é muito melhor vender o processo do que pedir um empréstimo no banco. Mas ele quase nunca faz essa conta”, afirma a fundadora e CEO da PX, em entrevista ao Finsiders.

Segundo a executiva, no início muitas empresas como a PX trabalhavam apenas com causas que tivessem tickets médios parrudos, na casa dos R$ 50 milhões a R$ 100 milhões. É que os processos micro também precisam ser analisados no detalhe, sem oferecer um retorno tão atrativo do ponto de vista financeiro.

Para resolver essa dor, a startup criou um fluxo, inserindo tecnologia para estimar com precisão quando o credor terá direito ao dinheiro. “O objetivo era transformar o ativo judicial em algo palpável e transparente”, diz Renata. Para se ter ideia, ela diz que o Estado de São Paulo está pagando neste momento os precatórios de 2010.

Com o auxílio de uma equipe de advogados especializada, essa avaliação considera apenas os casos em fases finais, o que passa pela observação sobre o pensamento de determinado ministro de cortes superiores a respeito do tema em questão, se o devedor é ou não solvente e com quem está o processo.

Fundos

A tese da PX começou a ser reforçada em 2021, quando a empresa captou dois fundos de investimento em direitos creditórios (FDICs) estruturados junto a gestora Galapagos Capital, no valor de R$ 100 milhões cada. No ano passado, a empresa abriu o seu terceiro fundo, colocando outros R$ 100 milhões na mesa para a compra de processos judiciais.

As perdas são estimadas em até 5% dos processos, o que não ocorreu até agora. A PX também reinvestiu 100% dos valores recebidos nos processos, cerca de R$ 55 milhões. Para os próximos três anos, a startup espera receber em torno de R$ 414 milhões nos três fundos.

“No mercado de ativos judiciais, muita gente quebrou e tinha muita fraude. Então, a dificuldade é muito mais educacional, de mostrar que a empresa oferece segurança. E a segurança vem através de recorrência”, diz Renata.

Do lado do investidor, cada cota sai por R$ 1 mil. A remuneração fixa é em torno do CDI mais 8% ou 9% ao ano. Em um processo hipotético avaliado em R$ 100 mil, a startup paga cerca de R$ 60 mil com a expectativa de receber R$ 112 mil no futuro. Mas se a causa chegar a R$ 180 mil, o investidor também recebe parte do excedente, por exemplo.

Até aqui, a startup já alocou mais de R$ 190 milhões e beneficiou 3.118 pessoas — a meta é chegar a 5 mil até dezembro.

Próximos passos

De acordo com a empreendedora, o desafio hoje é regularizar o mercado. Ela compara o setor com o ‘boom’ que ocorreu nos fundos imobiliários há 15 anos, quando muitos investidores passaram a olhar os FIIs como uma maneira mais tranquila de ter renda passiva. “Tem muita empresa que ainda não informa o valor do processo de forma transparente. Precisa ser tão fácil quanto pegar um empréstimo”, diz.

Além disso, a empresa atua também na outra ponta, oferecendo a antecipação de valores de precatórios para advogados em começo de carreira ou para os mais experientes que querem encerrar as atividades. Nesta seara, a companhia já desembolsou cerca de R$ 30 milhões em honorários, para 12 advogados. E deve investir mais R$ 10 milhões com a antecipação de outras cinco carteiras ainda em 2023.

Nos planos estão um quarto fundo em 2024 e o desenvolvimento de novas tecnologias. Como exemplo, a PX montou um robô que faz o mapeamento de todos os precatórios do Estado de São Paulo e de alguns municípios de interesse. O próximo passo é escalar isso para os demais Estados do país.

“A gente já conseguiu escalar e provamos que funciona. Agora é melhorar a conversão e análise. E, para isso, é preciso tecnologia”, afirma a CEO.

Leia também:

Resolução CVM 175 traz eficiência e modernidade para os fundos

Mercado secundário de startups da SMU passa de 2 mil negócios

Depois de atingir pico de R$ 24 bi em agosto de 2022, patrimônio de FIDCs de fintechs cai 19%