O plano desta fintech é reinventar a previdência corporativa. Saiba como

Tempo de leitura: 3 minutos

A indústria de previdência privada aberta no Brasil gere cerca de R$ 1 trilhão em ativos e soma 13,5 milhões de participantes, conforme a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Entre os fundos de pensão, que totalizavam R$ 981 bilhões em agosto, o número de participantes é de quase 2,5 milhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).

A previdência está longe de ser popular entre os brasileiros. Mas algumas fintechs querem desbravar esse setor historicamente dominado por grandes bancos. Criada dentro da Red Ventures, grupo controlador de diversas empresas digitais, a Onze quer reinventar a previdência corporativa. O posicionamento é de ‘prevtech’.


Liderada por Antonio Rocha, ex-consultor e sócio da McKinsey e desde 2018 na Red Ventures, a startup aposta em uma experiência digital, com um aplicativo para funcionários das empresas e uma plataforma para o RH das companhias fazer a gestão dos planos de previdência. Sem papelada e sem burocracia, duas palavras comuns em seguros e previdência.

“A previdência corporativa tem zero tecnologia. Os fundos são cheios de taxas altas, rentabilidade abaixo do CDI, o mercado não tem diversificação. Há uma carência de bons fundos.”

Gestora própria

A Onze ligou os motores no fim do ano passado. Em 2020, recebeu autorização da CVM para ter sua própria gestora e da Susep para distribuir os produtos como corretora de seguros. O primeiro produto recém-criado pela fintech é um fundo multimercado, em parceria com a seguradora Zurich. Tem taxa de administração de 0,9% ao ano e performance de 15% sobre o que exceder 100% do CDI.

Segundo Rocha, trata-se de um fundo de alocação, com diversificação de carteira em diferentes classes, como renda fixa pré, pós, bolsa e ativos internacionais, comprados via ETFs. “É conservador na medida certa. Ainda assim, diversifica o portfólio”, diz. Até 30 de outubro, o patrimônio líquido (PL) do fundo era de pouco mais de R$ 28 milhões, conforme os dados na CVM.

Além do fundo próprio, o cliente também pode acessar os fundos que estão na grade da Zurich atualmente, incluindo gestores como Schroeders, BNP Paribas, ARX, Gauss, entre outros.

A gestora chegou a estruturar um fundo de renda fixa DI — que está pré-operacional — , mas deve lançar um fundo de fundos (FOF) em 2021. Neste momento, a fintech está em conversas com diversas casas para construir o produto, conta o empreendedor.

Processo digital

A solução desenvolvida pela Onze começou a rodar internamente há quatro meses com os funcionários da própria Red Ventures. Agora a startup está em negociação com os primeiros clientes, que devem “estar alinhados com a nossa tese”, diz Rocha.

O empreendedor não abre detalhes dos primeiros contratos, mas diz que a projeção é chegar ao fim de 2021 com 150 empresas e 50 mil vidas. O produto é desenhado para companhias de diferentes portes.

“Queremos atingir empresas de 50 vidas, mas também aquelas com 5 mil vidas.”

Para os colaboradores das empresas, o processo é 100% digital, da adesão à assinatura do contrato, assim como novas contribuições, resgates e portabilidade. Tudo é feito pelo app, nas versões Android e iOS. O RH das organizações, por sua vez, acessa uma plataforma em que é possível gerenciar os colaboradores com planos ativos e o calendário de ‘vesting’ — que define as condições para o resgate do dinheiro pelas pessoas que deixam a companhia.

Ao mesmo tempo em que a fintech tenta “convencer” empresas de diferentes portes sobre a importância da previdência como benefício e retenção de profissionais, uma estratégia é investir em ações de saúde financeira. Uma das iniciativas é oferecer uma assessoria financeira para os colaboradores das empresas clientes. Basicamente, é uma orientação sobre finanças pessoais para tirar dúvidas que a pessoa tenha. Sem qualquer indicação de produtos.

“Fazemos o check-up periódico com colaboradores voluntários e conseguimos checar quem está endividado, quem tem investimentos ou não. Todos os dados anonimizados, sem identificação. A pessoa recebe seu resultado versus pessoas da mesma idade, do mesmo cargo. E pode marcar uma consulta com um assessor financeiro da Onze.”