Na esteira de projetos aprovados no sandbox regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a SMU Investimentos, plataforma de equity-crowdfunding, anunciou, em setembro do ano passado, a Estar, um projeto de mercado secundário para startups — uma espécie de “mini IPO tokenizado”, como a iniciativa ficou conhecida.
Algumas “demandas extras” no meio do caminho, como as resoluções CVM 134 e CVM 135 — que tratam da negociação de grandes lotes de ações em bolsas de valores –, atrasaram os planos. Foi preciso fazer adequações. Agora, com os entraves no passado, a SMU retoma o projeto.
A própria companhia é a primeira a ter um token listado no mercado secundário, com os primeiros negócios fechados na última segunda-feira (27).
“Avisamos os nossos investidores do mercado primário de 2021 e 2022. Como é início, agimos com certa cautela”, conta Pedro Rodrigues, CEO da Estar e sócio da SMU, em entrevista ao Finsiders.
A nova plataforma conta com um sistema desenvolvido pela Nasdaq, licenciado pela Átris, companhia do grupo Digitra.com. Já os contratos de investimento são tokenizados com a tecnologia blockchain da rede Stellar.
Agora, a ideia é pisar no acelerador. Nesta primeira oferta de investimentos tokenizados, a SMU espera levantar cerca de R$ 7 milhões. Até maio, a plataforma deve ter mais quatro startups listadas. No centro das atenções, estão empresas com pegada ESG e também as fintechs.
A próxima a buscar recursos no mercado será a Radix, greentech que faz o reflorestamento de mogno-africano (uma árvore que dá origem à uma madeira nobre) a partir das cotas adquiridas pelos investidores. “A listagem na Estar é bem importante para eles, e para a SMU, que tem um público ESG, é bem atrativo. É um projeto que faz todo o sentido”, afirma Pedro.
Perfis variados
O perfil dos alvos é bem variado. Inclui desde empresas que já passaram por fases seed ou pré-seed até aquelas que fizeram uma Série A ou B, e que em algum momento pensam em abrir capital.
Na prática, funciona de fato como um “mini IPO”. Ainda que não tenha auditoria, as companhias listadas precisam divulgar seus relatórios financeiros a cada trimestre, munindo de informações mais precisas os investidores interessados.
Como consequência, os empreendedores passam a se preocupar com a comunicação junto à opinião pública, na relação com os investidores, na maneira de anunciar aquisições, em novos negócios e na troca dos times, diz o CEO da Estar.
Outro ponto é que as startups devem negociar apenas entre 5% a 10% do captable no mercado secundário — e não todo o seu capital, como acontece tradicionalmente nas bolsas de valores. Isso muda drasticamente o jogo: em caso de forte volatilidade, o impacto sobre o valuation é limitado.
“Existem empreendedores que têm medo de compartilhar informações. A gente quer que isso não seja um medo, mas uma vantagem. Tudo isso vem para agregar e trazer maturidade”, afirma Pedro.
Pelo projeto aprovado com a CVM, a possibilidade é fazer a emissão de até 10 empresas na plataforma. Além das cinco previstas até maio, outras três estão no pipeline até dezembro. Assim, a companhia espera encerrar o ano com um market cap entre R$ 20 milhões a R$ 30 milhões.
Já em 2024, quando a Estar pretende alcançar R$ 50 milhões em ofertas de investimentos tokenizados, mais duas startups devem despontar como emissoras. “Esse ano queremos trazer bastante diversificação. No ano que vem, a proposta é ter uma maturidade um pouco maior, com empresas que fizeram ofertas públicas e que estão quase em um IPO”, diz o empreendedor, sobre a estratégia.
A licença fornecida pela entidade reguladora é de apenas um ano, prazo que pode ser estendido por mais 12 meses. Mas, se depender da ambição dos fundadores, os planos devem ir muito além.
“A ideia é trabalhar para criar uma regulamentação ou em uma que já exista, para atuar com o mercado secundário de startups no Brasil. Queremos ser uma bolsa de entrada no Brasil, como foi a Nasdaq lá fora. Quem sabe até na América Latina.”
‘Caixa de areia’
Além da SMU com seu projeto de mercado secundário de startups, o sandbox regulatório da CVM conta, ainda, com as fintechs Vórtx, BEE4 (do Grupo Solum) e Basement (que também pertence à Vórtx). Recentemente, a Vórtx QR Tokenizadora recebeu aval do regulador para renovar sua atuação no ambiente experimental por mais um ano, até março de 2024.
Já a BEE4 entrou em operação oficialmente no fim de setembro de 2022, com foco em tokenização de ações de empresas de pequeno e médio porte. O projeto é desenvolvido em parceria com a Nuclea (antiga CIP) e a empresa especializada em blockchain Finchain. Em dezembro, a BEE4 deu início ao processo para listar a segunda empresa na plataforma.
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