Quando a Shipay começou a operar, em meados de 2019, o Pix ainda estava sendo discutido pelo Banco Central (BC), mas a fintech já esperava que seria um sucesso e deixou o sistema pronto para ser integrado em sua plataforma.
A aposta deu certo. Mais de um ano depois, não há dúvidas de que o Pix faz parte do dia a dia dos brasileiros em transações P2P e até em pagamentos, inclusive de boletos. A Shipay, claro, surfou nessa onda.
Sendo uma fintech que integra meios de pagamentos digitais ao caixa de estabelecimentos, a empresa chega em 2022 com mais de R$ 4 bilhões transacionados e uma expectativa de aumentar em 7x o volume de transações.
O Pix e as novas funcionalidades previstas para este ano, como o Pix Garantido, colaboram com essa previsão. Mas criptomoedas são uma nova aposta da fintech e passos foram dados nesta direção.
Em novembro, a Shipay fechou parceria com a CoinPayments, processadora de pagamentos em criptomoedas, permitindo que lojas, físicas ou online, possam receber pagamentos de seus consumidores por meio de moedas digitais.
Em entrevista exclusiva ao Finsiders, um dos sócios-fundadores Luiz Coimbra (ex-superintendente de cartões do Itaú Unibanco), afirma que, assim como apostava no sucesso do Pix, estão com grandes expectativas em relação ao real digital, a ser lançado pelo BC.
“Assim como aconteceu com o Pix, estaremos prontos para o real digital”, diz o empreendedor.
Mas não é só isso. A empresa também está se preparando para disponibilizar em sua plataforma produtos relacionados à antecipação de recebíveis e, uma das principais tendências para 2022, o ‘buy now, pay later’ (BNPL). Sem deixar de lado, um “olhar atento” à implementação do Open Banking e sua evolução ao Open Finance.
Atualmente, são mais de 500 mil estabelecimentos que podem contar com a tecnologia da Shipay. A estimativa é se aproximar do 1 milhão neste ano. Para se ter uma ideia do crescimento da empresa, em 2020, a fintech contava com 13 mil estabelecimentos atendidos.
Além disso, a empresa — que tinha perto de 2,3 mil transações de pagamento, o que lhe conferia ao redor R$ 246 mil em volume total de pagamentos (TPV) em 2020 –, chegou ao fim de 2021 com 800 mil transações e R$ 586 milhões de TPV mensalmente.
O time também cresceu desde o início, passando de 7 para 45 pessoas. Mas Luiz comenta que não há expectativa de novas contratações por enquanto.
A solução desenvolvida pela Shipay integra as principais wallets disponíveis no mercado por meio de conexão com o sistema do caixa da loja (PDV) ou sistemas de gestão empresarial (ERP).
Nesta plataforma, portanto, há possibilidade de transacionar com criptomoedas, várias carteiras digitais, Pix, Pix Cobrança, Pix Saque, Pix Troco, conciliação, solução para o e-commerce, iniciação de pagamento e soluções de pagamentos corporativos.
A Shipay considera que a transformação pela qual passou ao longo dos últimos dois anos não se trata apenas de produtos e serviços, como também foi impulsionada pelos programas de aceleração de startups, como o Lift, do Banco Central. Resumidamente, esse programa ajudou a Shipay a criar um algoritmo proprietário de prevenção à lavagem de dinheiro e antifraude.
A empresa atraiu, no primeiro semestre de 2020, dois investidores: Laércio Cosentino, sócio-fundador da Totvs, e João Augusto Valente, sócio-fundador do grupo de comunicação ABC. Mas o valor do aporte não foi divulgado.
A Shipay começou a operar com dez empresas de software parceiras. Em outubro de 2020, contava com 70 parceiros e agora possui 150, entre empresas de automação, fintechs e bancos. São mais de 20 carteiras digitais integradas à plataforma, como Mercado Pago, PicPay, PagBank e Ame. Em seu pipeline, estão mais de 150 empresas a se tornarem parcerias ao longo de 2022.
Em abril do ano passado, ela fez uma parceria estratégica com o Banco Original para facilitar o uso do Pix. Ambos desenvolveram um modelo de QR Code dinâmico que permite aos estabelecimentos o arranjo para realizar transações em pontos de venda.
Além de Luiz, também são sócios-fundadores: Charles Hagler, ex-diretor da Embraer; Fabio Ikeno (CTO), ex-head de transformação digital da Embraer e ex-coordenador de infraestrutura de TI da Netshoes; e Paulo Loureiro (COO) ex-gerente de vendas da Mastercard.
Cenário favorável
De tanto sucesso, o Pix caiu no gosto dos brasileiros e virou até meme – “não aceito críticas, aceito Pix” e assim vai. No último dia 7 de janeiro, o sistema de transações instantâneas capitaneado pelo BC atingiu novo recorde com 52.395.439 operações em um único dia.
Pesquisa feita pela Ebanx, fintech de meios de pagamento, e divulgada em novembro, mostrou que esse meio foi usado como pagamento em 40% das compras online feitas pelos brasileiros.
Assim, ajudadas pelo Pix, as carteiras digitais atraem cada vez mais clientes e, portanto, mais transações. O Bitz, pertencente ao Bradesco, por exemplo, estava perto de completar seu primeiro ano de vida em agosto, quando somava 2 milhões de contas no app. Menos de seis meses depois, a fintech chega a 5 milhões de downloads e 3 milhões de consumidores na plataforma.
O PicPay é outro caso que já supera os 60 milhões de clientes em seu app. De acordo com o último balanço divulgado pela empresa, referente ao terceiro trimestre, além de ter atingido essa marca, no caso dos ativos, o número chegou a 27,9 milhões de clientes, uma alta de 56,7% em um ano.
Também no terceiro trimestre, o Mercado Pago, fintech que já responde por mais de um terço do faturamento do Mercado Livre, registrou um volume total de pagamentos (TPV) de US$ 20,9 bilhões, um aumento anual de 43,9% em dólares e de 59% em moeda constante.
A carteira digital também lançou em novembro a opção de negociar criptomoedas para seus mais de 20 milhões de clientes.
Há ainda outros players que continuam a se destacar no Brasil, como Ame, iti (do Itaú), PagBank, entre tantos outros.
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