Opinião | Birôs de crédito podem prover soluções para o Open Banking

Por Elias Sfeir*, exclusivo para o Finsiders

Existe uma falsa ideia de que o Open Banking, ou sistema financeiro aberto, vai substituir os birôs de crédito, mas esse nunca foi seu propósito. Na verdade, ele não só não vai acabar com o serviço dos birôs, como estes podem ajudar a potencializar os objetivos do Open Banking.

Em linhas gerais, o Open Banking é o compartilhamento de dados, produtos e serviços, por meio da abertura e da integração de sistemas, e se baseia no princípio de que o cliente é o dono dos seus dados financeiros.

Essa possibilidade, introduzida por meio da regulamentação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), permite ao cliente decidir com quais instituições vai compartilhar seus dados e eleger quais dados compartilhar.

Esse compartilhamento, por sua vez, propicia à instituição buscar os saldos e extratos de diversas contas do cliente em uma ou várias instituições financeiras e fazer uma consolidação de tudo.

Destaque na agenda BC# que vem sendo implementada pelo Banco Central, o Open Banking tem como objetivos estimular a inovação no sistema financeiro, ampliar a competitividade e a oferta de produtos e serviços financeiros.

Estruturado para ser implantado em quatro etapas, o sistema tem previsão de completar a implantação até o próximo mês de setembro e integrar não só instituições financeiras, como também as de pagamentos e demais organizações autorizadas a funcionar pelo BC.

Isso tende a estimular a competição por simplificar a entrada de novos players, facilitar o lançamento de serviços rapidamente adaptáveis ao desejo do cliente, criar um ambiente propício à inovação, permitir que o cliente decida o que quer fazer com seus dados e ter custos menores.

O compartilhamento, entre várias instituições, de informações que até então eram exclusivas daquela onde se possuía uma conta corrente, tende a beneficiar o cliente. Este passa a ter a possibilidade de negociar com todas as instituições que tiverem acesso a seus dados e, portanto, ganha poder de negociação.

E de que forma os birôs de crédito podem se integrar ao Open Banking? Hoje, no Brasil, somente instituições reguladas pelo BC podem participar diretamente do sistema. Assim, os birôs podem ser contratados por esses participantes para receber e processar dados, transformando-os em insights, para que esses insights gerem negócios para essas instituições.

Elias Sfeir, presidente da ANBC (Divulgação)
Elias Sfeir, presidente da ANBC (Divulgação)

É importante considerar que as instituições que confiarem apenas nas informações contidas nessa camada trazida pelo Open Banking poderão incorrer em equívocos de análise.

Por exemplo, os proprietários dos dados poderão optar por indicar uma conta em que sua situação esteja estável e positiva, omitindo dados de outras instituições onde constem atrasos ou mesmo inadimplências. Daí a importância de acessar os serviços dos birôs, que oferecem uma visão ampla e 360 graus do titular dos dados.

De modo geral, os birôs estão desenvolvendo soluções para ajudar as instituições participantes do Open Banking a tomar decisões, com base em suas informações de negativo, de consultas, de positivo e das várias parcerias estratégicas para obtenção de dados.

Essas informações reúnem muitas camadas de dados para modelar e criar um padrão para gerar o score ou nota de crédito. A todos esses dados processados pelos birôs são acrescentados aqueles que a instituição financeira vai enviar, o que pode melhorar a performance e a acurácia dos modelos estatísticos.

O fato de se dispor de dados que possibilitem entender melhor o cliente financeiramente pode ampliar o crédito para quem antes não tinha acesso a ele e aumentar a conversão.

Potencialmente, essas duas situações tendem a elevar a concessão e a melhorar as condições de crédito e, consequentemente, impactar positivamente o mercado de crédito como um todo.

*Elias Sfeir é presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC).

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.

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