Revolut chega ao Brasil e traz como CEO Glauber Mota, ex-sócio do BTG

Glauber Mota, CEO do Revolut no Brasil (Divulgação)
Glauber Mota, CEO do Revolut no Brasil (Divulgação)

Depois de ensaiar a chegada ao Brasil em 2019 – com a abertura de uma lista de espera, disponível em seu site –, o britânico Revolut agora prepara oficialmente as malas para fazer o desembarque em território brazuca. E faz sua estreia anunciando um experiente executivo para liderar a operação local.

A fintech contratou Glauber Mota, sócio do BTG Pactual e que atuou nos últimos anos como COO da unidade de varejo digital do banco, ajudando a construir o BTG+. Antes do BTG, ele foi VP do EFG, grupo suíço de private banking; diretor da SunGard Financial Systems, comprada pela FIS em 2015; e ainda, VP de gestão de riscos do Itaú Unibanco.

Após “empreender” dentro de uma grande instituição financeira, Glauber agora terá uma nova jornada empreendedora, montando uma equipe praticamente do zero – ao lado do head de estratégia e operações, Felipe Lachowski, um dos fundadores do banco digital Neon, que chegou ao Revolut em abril do ano passado.

Avaliado em US$ 33 bilhões e presente em mais de 35 países, com uma base de mais de 18 milhões de clientes, o Revolut carimba seu passaporte para o Brasil, num momento de extrema competição, com bancos digitais bem estabelecidos localmente, como Nubank, Inter, C6 Bank, entre outros, além de fintechs que oferecem aos brasileiros produtos financeiros no exterior, principalmente nos EUA – estão nessa lista nomes como Nomad, Avenue e Stake.

Tem espaço para mais um?

“Somos globais querendo jogar forte no Brasil. Não tem ainda quem ofereça um super app global completo”, defende Glauber Mota, CEO do Revolut no Brasil, em entrevista ao Finsiders. “O produto fala por si só na atração dos clientes. É o que nos diferencia da concorrência.”

A fintech estreia no país com uma conta global, com acesso a mais de 25 moedas e um cartão internacional aceito em 150 países. O produto será testado nos próximos meses com ‘family and friends’ e a previsão é fazer o lançamento oficial no segundo semestre. “O objetivo é estar ‘full operacional’ para a Copa do Mundo [que será realizada no Catar entre novembro e dezembro”, diz Glauber.

A conta global será a porta de entrada para outros produtos e serviços financeiros que serão lançados pelo Revolut no país e que, por óbvio, dependem de licenças regulatórias locais. “Para a conta global, vamos utilizar as licenças e plataformas que já temos no mundo inteiro”, explica Glauber. “Temos tecnologia nativa e proprietária, e preparada para o Open Banking, que em UK começou antes.”

No fim do ano passado, a fintech também entrou com pedido no Banco Central (BC) para operar como uma SCD (Sociedade de Crédito Direto), movimento também feito pelo banco digital alemão N26. Na prática, a licença permitiria ao Revolut atuar no mercado brasileiro, principalmente com concessão de crédito utilizando recursos próprios.

Questionado sobre a possibilidade de fazer parcerias localmente com players de infraestrutura em serviços e produtos bancários, como provedores de banking as a service (BaaS), Glauber diz que a cultura do Revolut é de construir dentro de casa. “A ideia é fazer por conta própria”, afirma.

Em relação à ordem de lançamento das soluções no país, depois da conta global, não há uma definição. “O que vai direcionar é a demanda de mercado. Vai depender mais do que o cliente mais precisa porque nossa prateleira é imensa”, observa.

O super app do Revolut oferece atualmente um portfólio com cartões, transferências internacionais, investimentos, criptomoedas, seguros, entre outros produtos e serviços, atendendo pessoas físicas e empresas.

Revolut (Divulgação)
Revolut (Divulgação)

Sobre a fila de espera para os brasileiros, Glauber diz que a lista tem milhares de pessoas. A empresa não divulga os números absolutos, tampouco a projeção para este primeiro ano de operação local. “Nosso objetivo é ter clientes satisfeitos usando a plataforma. Começamos crescendo mais devagar, com o cliente testando, e aí tem o efeito rede que foi assim que o Revolut cresceu em outros lugares.”

O executivo também não abre quanto a fintech britânica está investindo no mercado brasileiro. “Não temos compromisso fechado de número, mas tenho autonomia para determinar o quanto precisamos investir”, diz. Um dos principais focos de investimento está, claro, na formação da equipe local. No planejamento, há pelo menos 50 posições para este ano – hoje, o time tem 10 pessoas. “E vamos dobrar esse número rapidamente.”

No Brasil, o Revolut já contratou Julia Lindsey (ex-ING Bank) como ‘legal counsel’ e Priscila Rocco (ex-Mercado Bitcoin) como head de compliance, entre outros nomes.

“Vamos contratar agora um chefe de riscos e um CFO, e muita gente sênior em tecnologia”, conta Glauber. “Vamos ter um hub de tecnologia que servirá como desenvolvimento de soluções para a América Latina.”

Além do Brasil, o México é outro país estratégico para a expansão do super app na região. O movimento ocorre depois de o Revolut ter feito lançamentos em Cingapura e Austrália, em 2019, e nos Estados Unidos e no Japão, em 2020.

Lançado no Reino Unido em 2015 por Nik Storonsky e Vlad Yatsenko, o Revolut já levantou US$ 1,7 bilhão em rodadas de investimento, conforme dados no Crunchbase. A última captação foi anunciada em julho do ano passado, quando recebeu US$ 800 milhões em um cheque liderado por SoftBank e Tiger Global. No captable estão, ainda, DST Global, Ribbit Capital, entre outros investidores.

Competição

O Revolut chega ao Brasil num contexto em que os brasileiros estão cada vez mais adeptos de serviços financeiros digitais. Pesquisa feita pela idwall mostra que mais de 37% das pessoas no país já utilizam um banco nativo digital como conta principal, por exemplo.

O momento é também de maior concorrência. Com o modelo de super app, o Inter espera alcançar 24 milhões de clientes neste ano e comprou em 2021 a fintech norte-americana Usend para pavimentar o caminho da sua internacionalização, começando pela terra do Tio Sam.

Com 54 milhões de clientes – a maioria (52,4 milhões) no Brasil –, o Nubank tem operações em países como México, Argentina e Colômbia, além de escritórios em Nova York, Berlim e Londres. No México, a instituição encerrou o ano passado com 1,4 milhão de clientes. Na Colômbia, após 15 meses do lançamento no país, a base atingiu 114 mil clientes.

O C6 Bank, um dos primeiros a oferecer conta global para os clientes, soma mais de 15 milhões de clientes e tem como acionista o JP Morgan, que comprou 40% do negócio, em operação concluída no mês passado.

Entre as fintechs que buscam facilitar o acesso dos brasileiros a produtos financeiros no exterior, especialmente nos EUA, estão nomes como Nomad, Avenue Securities e Stake, com diferentes propostas.

A também britânica Wise (antiga TransferWise) lançou no fim do ano passado um cartão de débito internacional pré-pago para os brasileiros, uma extensão da conta multimoedas. Em transferências internacionais, outro competidor é a Remessa Online, comprada em 2021 pelo Ebanx – e que tem parceria com o Nubank.

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