A Friday quer tornar o pagamento de contas tão leve quanto um 'sextou'

Uma das certezas da vida adulta é ter boletos para pagar. Existem memes aos montes para nos lembrar dessa triste realidade. Tão triste quanto é perder a data de vencimento das contas – por descuido ou real esquecimento.

Agora, como diria a turma do saudoso Casseta & Planeta, “seus problemas acabaram!”. Aliás, parte dos problemas já que você vai continuar pagando boletos todo mês. Mas pelo menos terá uma mãozinha para não se esquecer de alguma conta no meio daquela pilha de compromissos.

“Pagar não deveria doer. A ideia é realmente tirar a fricção, fazer dessa experiência de pagar contas uma boa experiência”, define Gabriela Viana, co-CEO da Friday Pagamentos, em entrevista ao Finsiders.

A fintech se lança agora ao mercado, com a proposta de tornar o pagamento de contas algo tão leve quanto o fim de tarde de uma sexta-feira.

Para isso, a Friday construiu um aplicativo que organiza, agenda, avisa e paga todas as contas cadastradas no CPF do usuário. Em poucos cliques, os boletos são agendados e pagos automaticamente com o saldo transferido pelo usuário via Pix para sua conta Friday.

A lista de boletos — e se já foram pagos ou não, ou agendados — aparece em uma linha do tempo na tela do app. Já os detalhes de cada operação e comprovantes são enviados para o número de WhatsApp cadastrado pelo usuário.

O aplicativo permite, ainda, cadastrar e gerenciar transferências recorrentes para profissionais como diaristas, terapeutas, entre outros. Outra funcionalidade é o compartilhamento da gestão de pagamentos com familiares e amigos.

“Nossa proposta de valor é tirar a fricção no pagamento de contas”, diz Gabriela (ex-executiva de empresas como Adobe, Xiaomi, Google e Afya), que divide a posição de co-CEO na Friday com Clécio Guaranys (ex-M4U — leia mais sobre essa história ao final do texto).

Completam o time de sócios outros quatro executivos experientes em tecnologia, setor financeiro e pagamentos móveis: Bruno Mello, Felipe Castro, Dario Tanure e Pedro Gomes.

Em testes

A startup começou a ser construída em 2018, com recursos próprios de Bruno, Felipe e Clécio, e até hoje não fez rodadas de investimento.

“Naquela época, encontramos um banco bem nichado, que resolveu cocriar com a gente”, conta Clécio. O banco ao qual ele se refere é o carioca Arbi, uma instituição de pequeno porte que presta serviços de conta de pagamento digital e banco liquidante para fundos, subadquirentes e (IPs) instituições de pagamento.

Enquanto o Arbi cuida da infraestrutura, a “cozinha”, a Friday dá foco para a experiência do usuário. “Isso é software. Temos um time muitíssimo sênior, e estamos sofrendo para montar a equipe”, diz Clécio.

Disponível para download nas lojas da Apple e Google Play, o aplicativo da Friday está em fase de testes e vem sendo liberado gradativamente para grupos de usuários. “Temos uma campanha de mídia paga nas redes sociais que está trazendo pessoas, e vamos abrindo por safras”, afirma Gabriela, sem dizer qual o tamanho dessas safras de usuários para testar o app.

“Estamos chegando ao mercado agora, apesar de já termos uma base relevante de usuários”, complementa Clécio.

Os empreendedores não abrem nenhum número sobre a quantidade atual de pessoas na fase de testes, tampouco projeções para este primeiro ano de operação.

O serviço começa a ser oferecido de forma gratuita, mas terá uma assinatura mensal de R$ 19,90, a partir de 1º de agosto. A Friday mira dois perfis, principalmente: pessoas que precisam lidar com uma grande quantidade de contas e boletos para gerenciar, ou indivíduos responsáveis pelo pagamento de contas de outros membros da família.

Um detalhe importante: neste momento, apenas pessoas com CNH conseguem se cadastrar para utilizar o aplicativo, mas os empreendedores garantem ao Finsiders que em breve outros documentos de identificação serão aceitos. O problema, inclusive, é o principal motivo de reclamação dos ‘early-adopters’ da Friday nas lojas de apps.

Mercado

A evolução do ecossistema brasileiro de fintechs e do arcabouço regulatório no setor vem abrindo espaço para iniciativas que vão muito além do “feijão com arroz” de conta digital.

A Friday é um exemplo disso, mas não o único. Existem fintechs como Noh e Cumbuca (duas histórias que você já leu no Finsiders) tentando melhorar a dinâmica dos pagamentos compartilhados, por exemplo.

Mas Gabriela lembra que o foco da Friday não é o compartilhamento de contas. “Nem essa funcionalidade temos”, diz. O usuário pode, sim, compartilhar a gestão dos seus pagamentos e compromissos com outras pessoas, definindo qual o nível de acesso e visibilidade delas.

———————————-

Nos anos 2000, Clécio Guaranys fundou a M4U, empresa de tecnologia que desenvolve plataformas de meios de pagamento digitais para distribuição de recarga de celulares pré-pagos e gestão digital de faturamento e cobrança de planos de telefonia móvel.

O negócio foi adquirido em 2009 pela Cielo. Na ocasião, a adquirente não se interessou pela área de serviços digitais, que foi transformada em uma empresa independente chamada Bemobi – comprada em 2015 pela Opera (sim, aquela do navegador).

Em fevereiro do ano passado, a Bemobi fez seu IPO na B3. Seis meses depois, em um movimento de “o bom filho a casa torna”, a empresa comprou a M4U da Cielo, em um negócio que pode chegar a R$ 185 milhões até 2023 com ‘earnout’.

Gastão Mattos: Pagamentos exigem contatos imediatos em um novo grau

A estratégia da Cumbuca para ser a ‘conta da família’

Na InvestPlay, soluções gamificadas para instituições financeiras

Assuntos