Se bobear, o boleto vai no enterro do cartão

Na Gerencianet, por exemplo, 64% da base de clientes ainda utiliza o boleto, escreve o CEO da fintech, Evanil Paula

Por Evanil Paula*, para o Finsiders
O Pix, pela sua praticidade e rapidez, conquistou adeptos em todo o Brasil. Desde o seu lançamento pelo Banco Central, tornou-se o meio de pagamento preferido entre os brasileiros. Com isso, tenho observado que as outras formas de pagamento, em especial o boleto, vêm sendo marginalizadas pelo mercado. Recentemente, participamos de alguns eventos do segmento e, entre uma conversa de corredor e outra, noto muita gente falando que o boleto “vai morrer” e que será substituído por métodos mais modernos. Na verdade, essa é uma conversa que acontece mesmo antes de pensarmos em Pix.

Até cheguei a acreditar nisso, mas ainda há muitas evidências que mostram o contrário. Na Gerencianet, por exemplo, identificamos que 64% da base de nossos clientes ainda utiliza o boleto, o que nos motiva a continuar desenvolvendo inovações para atender aos nossos diversos públicos. A propósito, fomos a primeira instituição a trazer, para dentro do boleto, o QR Code Pix com data de vencimento e o fizemos sem interferir no fluxo do cliente. Ou seja, ele gera o boleto, que já vem com o QR Code Pix, sem nenhum esforço extra.

Evanil Paula, fundador e CEO da Gerencianet (Divulgação)
Evanil Paula, fundador e CEO da Gerencianet (Divulgação)

O que muita gente esquece é que o Pix é o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros digitalizados. Mas ainda existem 35,5 milhões de pessoas sem acesso à internet, segundo uma pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros (TIC Domicílios) 2021, divulgada em junho deste ano. Fora aquelas que, mesmo com acesso à internet, não possuem uma conta em banco, o que está muito relacionado à região em que vivem, com difícil acesso a uma agência bancária.

Outros simplesmente preferem não ter uma conta em banco, o que pode ser atribuído a questões culturais ou até mesmo pela simples falta de conhecimento sobre como uma instituição financeira funciona. Quem é mais “antigo”, por exemplo, prefere guardar o dinheiro no colchão por medo de o perder, reflexo do confisco das poupanças, de 1990. No entanto, essas pessoas deixam de desfrutar de muitos benefícios, como o acesso ao crédito, tornando o pagamento à vista a melhor e única opção. Visto que estes perfis ainda são em número significativos, a emissão de boleto bancário pode ser um importante fator de sobrevivência para muitos negócios.

O fato é que as empresas devem oferecer experiências de pagamento condizentes com cada perfil de comprador e que facilitem sua vida, aumentando suas chances de venda. Quanto mais opções ela oferecer, melhor para o seu negócio. Graças à tecnologia, métodos mais tradicionais se reinventaram e se modernizaram para atender a necessidade de cada negócio. Boleto, carnê e link de pagamento, por exemplo, ainda possuem uma expressiva penetração no mercado, mesmo não sendo tão “famosos”.

Por isso, o boleto seguirá firme e, se bobear, deve ir ao “enterro” do cartão. Brincadeiras à parte, o lançamento de um novo método de pagamento não representa necessariamente uma ameaça aos demais já existentes. O Pix poderá continuar sendo um dos favoritos e as demais formas de pagamento seguirão se complementando e se adaptando a cada novidade que o mercado anunciar.

*Evanil Paula é CEO da Gerencianet, fintech mineira de meios de pagamento e serviços financeiros.

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo autor do texto.

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