Open Finance, 5G, Pix e hiper personalização foram algumas das expressões mais mencionadas durante os painéis sobre serviços financeiros, crédito e pagamentos na Futurecom, evento realizado na semana passada em São Paulo.
É unânime entre os executivos e especialistas que o setor está no meio de uma grande transformação, impulsionada pelo avanço de novas tecnologias, pela evolução regulatória e, principalmente, pela mudança nas expectativas dos clientes.
“Antes a tecnologia era um meio para que um negócio surgisse. Hoje arrisco dizer que o negócio está surgindo em torno da tecnologia. E são novas possibilidades de business, não a tecnologia pela tecnologia. E isso acontece porque o cliente está digital”, comenta Fábio Lins, superintendentente executivo de canais, Pix e Open Banking do Banco Original.
Na visão do executivo, os modelos tradicionais de crédito, baseados no passado do cliente, não servem mais. “É tão simples quanto isso”, enfatiza. É preciso ter muito mais informações e “ser mais inteligente” para tratar esses dados.
Para Julierme de Souza, gerente-executivo de desenvolvimento de software do Banco do Brasil (BB), o consumo de dados dos correntistas a partir do consentimento no Open Finance oferece condições para as instituições montarem um modelo de crédito mais próximo da realidade de cada cliente.
“Acredito que o próximo salto será entregar o produto de crédito para a necessidade futura do cliente. Entender em qual momento da vida dele precisa de dinheiro para caixa, para comprar uma casa ou finnciar um carro”, exemplifica.
Para Marcelo Haddad, head de produtos da Neon, o segredo será a depuração dos dados a partir do compartilhamento de informações via Open Finance, e como as instituições utilizam esses dados para customizar as ofertas para os clientes. “Daqui para frente, queremos fazer uso de mais dados para oferecer mais produtos para o cliente. Hoje, o principal é crédito”, cita.
Com a evolução da tecnologia e dos hábitos do consumidor de serviços financeiros, os aplicativos de bancos e fintechs também precisaram se adaptar e cada vez mais entregar novas soluções na palma da mão.
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De acordo com a última pesquisa de tecnologia bancária feita pela Febraban em conjunto com a Deloitte, sete em cada dez transações bancárias são digitais e as operações com movimentação financeira por mobile banking saltaram 75% entre 2020 e 2021. O cliente do mobile acessa seu banco, em média, 40x por mês.
Segundo Estevão Lazanha, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco, os aplicativos de serviços financeiros evoluíram de transações básicas, como consulta de saldo e extrato para pagamentos, contratação de crédito e serviços mais complexos. E mais recentemente, os usuários estão se tornando “digital only”.
“A novidade é você, a partir da profusão de dados, capturar o comportamento de cada cliente”, aponta o executivo. “O Santo Graal que todo mundo está buscando é que cada cliente perceba que tem um aplicativo único, com ofertas que façam mais sentido pra ele.”
Tendências
Não há dúvidas de que a hiper personalização é uma das principais apostas das instituições. O fenômeno tende a crescer a partir da combinação entre Open Finance (e iniciação de pagamentos), Pix, 5G e inteligência artificial.
“Numa companhia grande como a nossa, com diversos negócios e touch points, uma coisa em comum é que o cliente quer ser reconhecido em todos esses ‘touch points'”, diz Estevão, do Itaú. “Mas fazer ter contexto em todas essas interações é algo bem longe de ser trivial. É um desafio crescente porque os ecossistemas vão se expandindo.”
Outro movimento apontado pelos executivos é o chamado ‘beyond banking’, que basicamente significa oferecer novos produtos e serviços, para além do mundo financeiro. Uma das estratégias mais adotadas por bancos e fintechs é construir marketplaces, conforme contamos nesta matéria.
Na visão de Thiago Rolli, sócio da prática de consultoria em serviços financeiros da KPMG, são quatro ondas que estão ditando a transformação do setor financeiro. A primeira foi o aumento na utilização de plataformas e marketplaces de produtos financeiros.
A segunda onda é a atual, do ‘embedded finance‘, que vem ganhando força, com o avanço das plataformas de banking as a service (BaaS) e muito pautado, claro, pelas mudanças regulatórias que buscam incentivar a competitividade e a inovação no setor.
A terceira onda, diz ele, é a de ferramentas e serviços habilitados por inteligência artificial (IA). “Meio de pagamento é relevante demais para perceber comportamento. Dá a oportunidade de gerar muito valor e monetização”, analisa.
A quarta e última onda é a que ele chama de “capability as a service”. Significa fornecer produtos e serviços com base em sua capacidade. “Por exemplo, um grande banco pode ter foco em motores de crédito e não necessariamente precisa ter conexão com os consumidores finais.”
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